terça-feira, 16 de agosto de 2011

O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA ESCRAVA AFRICANA NA BAHIA.


Vou te passar o que é do meu conhecimento adquirido em leituras históricas de autores baianos.
No período Colonial até o Republicano, as escravas trabalhavam nos engenhos, nas lavouras de cana de açúcar, fumo, algodão e no comércio ambulante. Para tanto serviços eram escolhidas em várias funções e finalidades, principalmente nos serviços domésticos. A escrava teria que ser obediente, asseada, honesta, simpática e com algum saber na culinária, lavagem de roupas, paciente com as crianças, ser parteira. Eram esses requisitos básicos regidos pelas sinhás ou sinhazinhas do seu gosto, assim chamada de mucambas. No fim do período republicano já havia várias indústrias de tecelagem que preencheram a mão de obra de ex-escravos, principalmente mulheres.
Geralmente as escravas de confianças tinham a total veneração pelas senhoras e tudo que lhes pediam eram feito com muita dedicação. Na morte da sinhá ou sinhazinha a escrava entrava no seu testamento, indicada em legado de mil réis ou transferida para outra pessoa da família ou simplesmente a escrava era alforriada no testamento.
Na condição de liberta, ela seria vendeira ou fazia serviços esporádicos nas casas dos senhores, como por exemplo: aluguel de ama de leite, lavadeira de ganho, costureira, bordadeira, parteira e outros serviços. Para sustentar a família que era numerosa e quando não tinha filhos havia os parentes que acolhiam no seu lar e mantinha com donativos o “terreiro”.
Nas festas dos padroeiros das Igrejas, a escrava da senhora rica, cobria seu braço de jóias, colares e argolas de pedras preciosas e ouro emprestado pela senhora para demonstrar seu poder de “senhora de escravos” em companhia da escrava. Era notada essa atitude nos engenhos e principalmente nas cidades do recôncavo baiano. Quando retornava do passeio ou ida a Igreja, dentro do lar as escravas devolviam as jóias na presença da senhora. Caso faltasse uma jóia a escrava recebia de castigo açoites e não mais seria companheira. As escravas católicas, livres ou alforriadas, geralmente pertenciam as várias Irmandades de Santos Negros da sua devoção e principalmente de Irmandade de Nª.Sª da Boa Morte.
A vida da escrava só melhorou, quando ela foi alforriada, livre do trabalho escravo e tinha o seu “ganha pão” e não dependia do homem, parceiro de sua intimidade. A maioria das escravas e forras não tinham união estável, somente aquelas que tinham princípios na religião católica vindo dos conventos e outras que trabalhavam para os sacerdócios. Uniam-se conforme a doutrina da Igreja com escravos ou forros da sua etnia, também convertido no catolicismo. As mulheres escravas tinham mais liberdade do que os homens e por isso, havia mais facilidade de organizar o seu culto de origem. Daí porque no Candomblé existe mais mulher yalorixá do que homem. Tornando-se líder com mais poder quando recebia de doação dos senhores ou senhoras roça ou pedaço de terra para fazer o terreiro suas festas de santo. Foi assim que nasceram os primeiros “terreiros” na Bahia e cresceu a fama das yalorixás nos Candomblés.
Mas, todas eram discriminadas em suas épocas e levavam uma vida pautada em princípios rígidos da sua religião. Eram descendentes de angolanos, jejês e ketu as quais implantaram os sabores culinários que as mucambas tão bem souberam fazer.
As perseguições e o preconceito só terminaram em 1976 quando o governador da Bahia Roberto Santos sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e o pagamento de taxas de inscrição à Delegacia de Jogos e Costumes. Nesta época estavam registrados mais de 300 terreiros espalhados na Capital e Recôncavo baiano. Porém, muitos com a proibição fecharam e outros reabriram e poucos restaram até hoje na linha de Angola, Jêje e Ketu.
As mulheres escravas e descendentes contribuíram e muito para a formação do folclore baiano que exportaram o sabor culinário para todas as regiões brasileiras e as vestimentas típicas para o exterior. Como também, na formação economica do comércio informal da sociedade brasileira na época eram consideradas vendeiras e ganhadores os homens.
Trabalho de pesquisa de Álvaro B. Marques.
SSA, 09.08.2011

sábado, 30 de julho de 2011

MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO NA BAHIA

MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO BRASILEIRA
EM PARTICULAR NA BAHIA.
Na viajem ao destino do Brasil, muitos escravos morriam no caminho dentro do porão dos navios negreiros e os corpos eram jogados no mar. As mortes eram ocasionadas por doenças e eles viajavam juntos homens, mulheres e crianças em local insalubre, com pouca claridade, alimentação reduzida. Homens vestidos de tangas, mulheres com saias rodadas, peitos a mostra e crianças nus. Havia certos capitães de embarcações que permitia os escravos fossem ao convés para receber ar puro, sol e água fresca. Aproveitando esse momento os escravos mais desesperados se jogavam ao mar, provocando o suicídio.
Era um comércio de grandes lucros como também de muitas perdas de escravos e mercadorias nos assaltos dos piratas franceses, ingleses e holandeses. Não contando com as doenças que os escravos traziam e adquiriam na viajem de 15 a 20 dias.
Ao chegar ao porto brasileiro, os escravos eram amarrados, expostos e vendidos nas ruas perto do porto e pernoitavam em armazéns. Alguns vinham com sinais tribais na parte visível do corpo, geralmente eram cortes pequenos, horizontais no rosto ou queimadura de cachimbo no ombro ou no braço. Prova de castigo por ter feito algum delito determinado por Soba. E muitos eram presos de guerras tribais.
Tão logo aparecia comprador e na posse o novo dono declarava em batismo o nome do novo escravo, por vezes marcava o escravo com sinal particular. Perdendo assim a identidade africana e a separação familiar. Os grandes negociantes da praça do comércio da Bahia eram os maiores traficantes de escravos. Eles tinham as suas próprias embarcações para este comércio e quando os escravos chegavam não demoravam muito tempo em seu poder, eram logo vendidos mesmo quando o tráfico foi proibido em 1850 sobre a Lei Inglesa “Bill Aberdeen” para fazer pressão a sociedade brasileira e a Lei Eusébio de Queiroz reforçando internamente, mas assim mesmo, o tráfico continuou.
Em 1885 cresciam as pressões da Inglaterra por ser o Brasil a única nação americana que mantinha a escravidão.
1871 – Lei do Ventre Livre estabelece a Liberdade para os filhos de escravas nascidos depois da data. Nesta época, já havia um grande numero de escravos velhos e doentes e os senhores de Engenhos e fazendas não podiam renovar as suas escravaturas.
1885 – Lei Saraiva VS Cotegipe ou mais conhecida como Lei do Sexagenário, pela Princesa Isabel, livre todos os escravos com mais de 60 anos.
Foi despejado em nosso porto centenas e milhares de escravos vindos de várias regiões da África as etnias chamada aqui na Bahia por Nagô - Bantu, Benguela, Manjolo, Mina, Angola, Jeje, Clava, Moçambique, Guiné, Congo, Ketu, Ige-já.
Grupos islamizados: Aussá, Mandigas, Fulas, Tapas, Bornu, Gurunsi. Esses sudaneses não se misturavam com outras etnias e tão logo fosse possível comprava a sua carta de alforria. Os escravos livres “forros” geralmente tinham os seus ofícios; pedreiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, barbeiro, alfaiate, artesão, musico, pintor de parede, vendedor ambulante, calafate e outros poucos eram pequenos comerciantes. Valor do escravo nos Engenhos (custo por serviço) havia escravos oficiais e mestres de 200$rs. Assim como moleques de 50,60,70,80$rs chamados naquela época “contos de réis” Mas, para obter a carta de “alforria” era necessário pedir ao seu senhor e comprar pelo valor estipulador por ele ou preço de mercado em dinheiro que vinha através de caixa das confrarias, reservas pessoais, e doação em legado do seu senhor em testamento por ser o escravo fiel, obediente e acima de tudo honesto. Como eram comuns, os padres possuidores de escravos, além da carta de alforria, deixava em testamento uma boa quantia em dinheiro para a sobrevivência do escravo ou escrava. Todas as Ordens Religiosas tinham escravos quando não era comprado recebia em doação dos fieis. Esses escravos eram os mais bem alimentados, vestiam dignamente, educados, católicos e quase sempre casavam com seus pares sobre os olhos da igreja.
Era notado que o escravo livre em alguns casos tornava-se comerciante o que lhe permitia comprar escravos e usar em seus serviços. Um sistema que parecia não ter fim. Até que o movimento abolicionista ocorrido em 1870 a 1888 que defendeu o fim da escravidão tornou-se realidade com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel, Lei nº 3.353 – libertando todos os escravos e extinta definitivamente a escravidão no Brasil. Mas para chegar a esta deflagração mais de três séculos e meio foi a escravidão no Brasil de 1532 conforme alguns historiadores até 1888. A libertação chegou e encontrou centenas de escravos nos Estados da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo “sem eira e sem beira” como dizia na época o povo, vagando pelas ruas, pedindo esmolas com o seu corpo deformado por excesso de trabalho ou feito pelos castigos impostos sem condições de trabalhar. Salvo, aqueles que trabalhavam nas minas e nas plantações de café permaneceram com seus senhores e já eram alforriados
ficando com aqueles que lhes tratavam bem. Outros tinham a sua profissão definida, independente. Alguns já estabelecidos no comércio, alforriados junto com os pais. A liberdade veio sem os escravocratas terem preparado este povo para uma vida em liberdade, sem trabalho, sem moradia e muitos sem família. Os abolicionistas queriam a liberdade dos escravos total e irrestrita, mas não educaram este povo carente de liberdade e saber. O tempo fez a História deles neste País chamado Brasil.
Tenho que acrescentar neste texto que a expressão chamada “escravo latino” significava que era ex-escravo nascido no Brasil e que falava português.
Trabalho de Álvaro B. Marques.

A HISTÓRIA DAS REVOLTAS DOS ESCRAVOS


A HISTÓRIA DAS REVOLTAS DOS ESCRAVOS AFRICANOS NA BAHIA
A HISTÓRIA NEM SEMPRE SEGUE O CAMINHO DA VERDADE, QUANDO NÃO É ACRESCIDA É REDUZIDA EM FATOS E DATAS INCERTAS. O DOCUMENTO AFIRMADO POR PESSOA FIDEDIGNO PODE CONSIDERAR VERDADEIRO É O QUE EU POSSO AFIRMA DO AUTOR JOSÉ CARLOS FERREIRA NA SUA NARRATIVA SOB O TITULO: “As Insurreições dos Africanos” com bases nos documentos conservados no Arquivo Público da Bahia e nas correspondências dos Governadores nos anos 1783 a 1807 – Conforme consta no livro do Inst. Hist.Geo. da Bahia – vol.nº29. Veja na integra abaixo:
“No governo de Vasco Fernandes César de Menezes, conde de Sabugosa, nos anos de 1720 a 1735. Constatando este vice-rei a notável decadência da agricultura baiana, pela escassez de braços trabalhadores, resolveu incentivar os negociantes a renovarem o comércio de escravos com a Costa da Mina, e mandando construir 24 navios, os repartiu pelas casas mais tradicionais da praça da Bahia. Ordenando que colocassem peças de artilharias para resistir aos ataques de holandeses e piratas. Sendo, porém, pequenas estas embarcações para enfrentarem os navios de guerra inimigos, foram ineficazes os desejos do vice-rei.
Em 1º de abril de 1751 foi constituída a mesa de inspeção para fins comerciais. E o comércio de escravos com aquela Costa começou a tomar rumo e por esse tempo o tráfico era monopolizado por alguns negociantes dos mais ricos da capitânia.
No governo de D. Marcos de Noronha e Brito, 6º conde dos Arcos e vice-rei do Brasil, mandou D. José I, em virtude da resolução de 6 de março de 1756 do conselho de Ultramar, que se permitisse a todos franca liberdade de comerciar com a Costa de Mina. Por circunstâncias especiais em que se achava a capitânia da Bahia, por ser a única produtora de tabaco em largo escala, tinha o privilégio do comércio com a Costa, onde viviam as tribos mais guerreiras do Centro da África; Aussás ou Uasás, Mandingas, Tapas, Fulos, Bornu, Gurunsi esses espalhados por toda a África Central, chamados de sudaneses e outros de origens nagôs Bantus, Benguelas, Monjolo, Mina, Angola, Jeje Calava, Moçambique, Ketu, Guiné, Benin, Congo que vivia em constantes guerras entre si e os presos eram vendidos ou permutava como espécie de mercadoria nos portos de domínios portugueses por gêneros levados do Brasil. Principalmente o tabaco era o que mais procuravam. Trazendo os navios “negreiros” centenas de cativos e despejando no porto da cidade legiões que eram legalmente expostos, examinados e vendidos a preços vil, cem mil réis por cabeça os mais fortes e de boa saúde. Aqueles vindos doentes teriam outros valores e os mais novos, perfeitos, os preços muitas vezes dobrariam. Eram os braços fortes da lavoura, os únicos que resistiram às intempéries do clima quente e aos penosos e rudes trabalhos no campo. Porque os indígenas filhos da terra não obedeciam e a principio tinham a proteção dos jesuítas e depois dos padres nos Conventos.Foi através dos Bandeirantes que houve o extermínio da maioria das tribos indígenas do Brasil.
Na primeira década do século XVIII, contava a cidade da Bahia, pouco mais de cinqüenta mil habitantes, divididos em quatorze mil brancos, onze mil mestiços e vinte e cinco mil negros. O tráfico era o maior fator de aumento de sua população. Só no ano de 1807 entraram na capitânia 8.037 escravos e não fora menor nos anos anteriores.
Neste período os escravos vendedores e carregadores eram muitos, pagavam a seus senhores diária de oito a 12 vinténs para ter esse trabalho livre e aqueles que os senhores empregavam em seus serviços domésticos ou comerciais. Como também, havia senhores que alugavam seus escravos para fazerem serviços a particulares. Esses tinham licenças para se divertir a noite e nos dias santificados. Durante o dia reuniam-se em grupos nos cantos das ruas de maior movimentação, sentado em banco ou acocorado nas portas a espera de carreto ou recados. Vestidos em calças de algodão grosso, camisas sem mangas também de algodão grosso, carapuças (toucas) de várias cores na cabeça ou chapéu de palha por eles fabricados nas horas de ócio. Era comum ver escravas com cesto ou tabuleiro na cabeça nas ruas mercando os produtos do seu exótico comércio ou produtos das lavouras dos seus senhores. Elas carregavam nos braços e pescoços ornados de figas e missangas, dependurados os tenros filhos aos quadris, seguros pelo “pano da costa” atravessado a cintura. As raparigas ocupavam-se dos trabalhos domésticos sob a guarda das famílias, cujo luxo consistia em terem aos seus serviços várias mucambas como eram chamadas. Não mantinham união estável com seus pares e não se misturavam com escravos de outro grupo. Nas horas de folga dançavam, tocavam os seus batuques nos lugares reservados e as vezes com ordem de nhô eles batucavam nas senzalas. Principalmente nos domingos e festas de santos padroeiros. Nas ruas e largos era sempre bem visto nas portas das Igrejas cujos toques musicais eram ouvidos a distancia os cantos lúbricos. Os escravos dos Recôncavos e das lavouras eram tratados como animais de trabalho, mal alimentados e muito deles tendo apenas a tanga por vestimenta. Os escravos da cidade eram mais bem vestidos e bem alimentados, principalmente aqueles que trabalhavam para o clero e conventos.
Muitos escravos odiavam os senhores, porque estes os maltratavam pelos mais simples delitos e às vezes os castigos causavam-lhes a morte ou deformação no corpo. Muitos fugiam para os quilombos existentes nas mata fechada afastada da cidade e roubavam os viajantes e os proprietários do arrabalde. Espalhavam o medo e o terror, até que no governo do conde da Ponte, mandou em 1807 o capitão-mór Severino da Silva Lessa, dar cabo dos quilombos e no dia 30 de março, mesmo ano, o capitão-mór e mais 60 homens da tropa de linha, com auxilio dos oficiais do mato e cabos de polícia, cercaram várias casas suspeitas nos vilarejos de N.S. dos Mares e Cabula, prenderam 78 escravos e forros. Todos foram fazer serviços nas Fortalezas e melhoramentos da cidade (calçamento de ruas, capinação e conserto em lugares públicos ) com essas primeiras medidas de apoio os senhores dos escravos tornaram-se mais cruéis e os escravos mais irritados com este motivo. Naquele ano surgiu o levante contra os brancos, liderado por escravos de raça aussá. Organizaram debaixo de muito sigilo, uma conspiração em reuniões com armas em determinados lugares, na capital e no recôncavo. Foram escolhidos os chefes, Antonio como embaixador e Balthazar no comando dos companheiros na Capital. O primeiro era forro, vivia de pequeno comércio entre StºAmaro e a Capital, gozando de prestígio e da confiança dos companheiros. O segundo era muito inteligente e insinuante, chamavam de “capitão”, era escravo do seringueiro Francisco das Neves, morador na rua do Corpo Santo. Era ele o principal líder quem aliciava os companheiros para se juntarem a subversão.
Tinham como objetivo apoderar-se da Casa da Pólvora e das Armas, incendiar a Alfândega e a Capela de Nazaré. Desviaria a atenção da tropa e do povo que acudiriam a esses incêndios para facilitar a execução do plano. Esse foi o depoimento de um dos presos, como também, afirma que tentariam envenenar às fontes públicas para matar os senhores e vitoriosos constituiriam um governo, elegendo um rei e se apossariam das embarcações estavam ancoradas no porto e com este meio, viajariam para a sua Pátria. A denúncia foi feita no dia 27 de maio do mesmo ano e no dia seguinte, no inicio da noite, efetuariam o levante. Com a denúncia, foram verificados os indícios e todas as providências feitas. Seriam funestas conseqüências para os habitantes da Capital e do Recôncavo. O assalto seria na quinta-feira na hora da passagem da procissão de Corpus Christi. Sabendo disso, o conde da Ponte deu ordem por escrito aos seus subordinados para reforçar e colocando em prontidão as tropas nos lugares indicados. Sem alarde, e tomassem a saída da cidade e entrada. Assim a tropa cercou as casas da rua Direita do Corpo Santo, fizeram busca e apreensão de objetos considerados perigosos. Presos 13 escravos, os principais cabeças e encontraram, chuços, flechas, arcos, pistolas, facas e facões, tambores de guerra chamados Batacotó, instrumento de comunicação entre a comunidade distante em razão de sua forte potência.
Abriu-se uma sindicância, devassa, foram presos e submetidos a processos. Os dois principais culpados, Antonio e Balthazar, foram condenados a morte, e os demais açoitados na praça pública em 20 de março de 1808.
Em 1809 houve muitas fugas de escravos gêges e nagôs das casas e Engenhos para formar quilombos nas matas de difícil acesso. Foram para o sítio distante 9 léguas da Capital nos vilarejos chamados de Paripe e Periperi, na passagem, os rebeldes, devastaram e cometeram atrocidades, roubos, incêndios e ferimentos graves em quem fosse deter o seu trajeto.
O Governador tendo conhecimento dos fatos mandou uma tropa para essas localidades e cercou a saída e a entrada que iam ter ao Recôncavo a fim de impedir que a notícia da fuga chegasse aos Engenhos. Surpreendidos, os escravos na manhã do dia 6 de janeiro pelas tropas, no mato, junto ao riacho do Rio Prata, cercaram e intimaram os rebeldes que não se entregaram, resistiram, atacando a tropa, as quais se viram obrigadas a fazer uso das armas de fogo, matando alguns e ferindo muitos aprisionando grande numero. Durante a ação, muitos fugiram e os presos conduzidos para as cadeias públicas. No resumo da ação teve 95 presos, sendo 83 homens e 12 mulheres.
No ano de 1814, próximo ao povoado de Itapoã, havia às Armações de Baleias de proprietário Manoel Ignácio da Cunha e Meneses, depois visconde do Rio Vermelho e outro senhor Herculano. Viviam de exploração da pesca de baleias e extração do óleo, tinham dezenas de escravos na sua maioria aussás. Esses escravos famintos por conseqüência da escassez da pesca nesse ano, desesperados e habituados aos maus tratos cruéis dos seus senhores, rebelaram-se e no dia 28 de fevereiro do mesmo ano, unidos a outros companheiros que havia fugidos da cidade, assaltaram e incendiaram na madrugada as casas e senzalas daquelas armações.. Mataram os feitores e os familiares, junto com outros brancos que ali estavam como visitas, depois foram atacar o povoado central de Itapoã, fazendo saques e incendiaram algumas casas. Reuniram com os rebeldes outros escravos da localidade e aumentou a quantidade de revoltosos. Cresceram os ataques e as mortes sucessivas. Fugiram para a mata fechada, levando o que puderam. Nesta época a Bahia era governada por D. Marcos de Noronha e Brito, 8º conde dos Arcos, uma figura mais proeminente da administração Colonial. Enviou ao encontro dos rebeldes um destacamento de 30 homens de cavalaria e alguns soldados do Regimento de Infantaria de Caçadores, sobre o comando do seu ajudante de ordens coronel José Thomaz Boccaciari. No mesmo dia correu pela cidade editais convidando as pessoas que tinham escravos fugidos no dia anterior, para irem ao palácio declarar os nomes dos escravos. E pela lista apurada havia desaparecidos 26 escravos e quase todos da raça aussás. Foi designado o major da Legião da Torre, Manoel da Rocha Lima, que partiu no mesmo dia e encontrou com os rebeldes em Santo Amaro de Ipitanga. Os rebeldes atacaram a tropa, tão desesperados que só pararam a luta quando as balas os prostraram em terra. Duraram horas o combate, os escravos não tinham armas suficiente para este confronto. Os soldados mataram cruelmente, 50 escravos e vários fugiram atirando-se ao Rio Joanes, onde morreram afogados e três preferiram se enforcar por não querer ser preso. Os presos foram amarrados e com gargantilhas e pés presos. Encaminhados para as cadeias mais de 30 fugitivos. Ás 6 horas da tarde estava inteiramente dominada a insurreição de Itapoã.
Lavrado o ato pelo ouvidor do crime, intendente geral da polícia Dr. Antonio Garcez Pinto de Madureira, no local dos acontecimentos. A atitude do Governador conde dos Arcos foi colocar aviso Régis de 18 de maio, proibindo terminantemente os batuques dos escravos era uma forma de aviso para reuniões e datas de revoltas. Deu ordem também que se dissolvessem os quilombos de onde partia as freqüentes insurreições. Proibindo os escravos a usarem qualquer arma, reuniões com mais de quatro. Depois das 9hs. da noite não seria permitido andar nas ruas, salvo quando em serviço na companhia dos senhores ou de seus prepostos com uma ordem por escrito. Se o escravo infringisse qualquer dessas ordens seria preso e aplicado 150 açoites. Já tinha baixado portaria de 10 de abril proibindo as danças que os escravos eram acostumados a fazer ao som de seus instrumentos nas ruas e largos da cidade.Só permitindo nos locais, largo da Graça e do Barbalho, aos domingos, dias santos e de festas reais, onde podiam dançar até o toque da Ave Maria, hora em que deveriam se retirar para a casa de seus senhores. Aplicada às leis, foram esfriando os ânimos rebeldes, até que na noite de 23 de junho, novos boatos foram ouvidos “que os escravos aussás preparavam um grande levante e com eles tomariam parte, além dos ganhadores dos cantos do cais da Cachoeira, cais Dourado e cais do Corpo Santo se juntariam os principais cabeças dos ganhadores do Terreiro e do Paço do Saldanha e alguns escravos de outras raças simpatizantes da causa, iriam se unir para essa nova batalha.
Em observância da carta Régis de 18 de maio fora estes processos; e por acórdão da Relação de 15 de novembro, condenados 39 réus. Destes morreram 12 nas prisões, 4 escravos de Manoel Ignácio foram condenados a morte natural e enforcamento no dia 18 de novembro na praça da Piedade e os demais foram açoitados e degradados para os presídios de Moçambique, Benguela e Angola para nunca mais voltar e alguns depois de serem açoitados entregues a seus senhores.
No Recôncavo e Engenhos da Vila de S. Francisco da Barra de Sergipe do Conde, além dos atos desumanos que os senhores afligiam os escravos, houve nesta época o mais importante fato o rigoroso e longo inverno de 1815 que originou a grande mortandade de gado vacum e cavalar em todos os Engenhos, considerada a maior da Bahia. Os trabalhadores escravos se sobrecarregaram na safra, substituindo os animais o que causou o desespero dos escravos. Reuniram-se com outros das vilas vizinhas e formaram um levante com grande repercussão em batuques no domingo. Armados, marcharam e atacaram os Engenhos, incendiaram os mais desprevenidos.
No levante foram assassinados pelos escravos 6 pessoas, 10 gravemente feridos e 5 soldados. Mas a mortandade devia ser maior, não houve conferencia das autoridades. Cercados os amotinados nas matas de Cabaxi e Poucoponto, no dia 15 do mês prenderam 8 escravos, 5 foram encontrados enforcados. Na fuga os escravos deixaram os seus instrumentos de guerra, tambores, atabaques, trombetas, arcos e flechas, armas de fogo tudo foi confiscado. Os rebelados foram severamente punidos. Foi este o último levante sério na Bahia no período Colonial.
Na insurreição do ano de 1826 na madrugada do dia 17 de dezembro, nas imediações de Pirajá, os escravos cometeram as maiores e mais perversas atrocidades. No local chamado Cabula onde estavam reunidos 50 escravos no vilarejo denominado “Orubú” que era um quilombo, no qual praticavam cenas e rituais de feitiçaria.
Reunindo uma tropa, comandado por um sargento e 20 soldados do Regimento de Pirajá, fizeram cerco ao dito quilombo onde os escravos entrincheirados por traz de um elevação de terras, armados de foices, facões, lazarinas, lanças e outros instrumentos curtos, aguardavam o ataque com resolução. Os soldados deram voz de prisão, intimados a render-se, lançaram furiosos com vozeria de gritos de mata! mata!...vendo-se coagido a tropa avanço e fez fogo, com o qual conseguiu separar os revoltosos e efetuar algumas prisões, sendo que, muitos fugiram para o interior da mata. Foram todos interrogados para saber dos réus a finalidade da revolta e qual o objetivo. Nada fora acrescentado que não fosse os maus tratos e a necessidade que eles tinham de praticar os seus rituais da religião e a liberdade de viver.
Já no ano de 1830, manifestou-se nova rebelião na manhã do dia 1º de abril. Na cidade baixa, aproveitando o movimento baixo do comércio no intervalo do descanso, 20 escravos fortes, carregadores do Cais, revoltados, invadiram uma loja de ferragens na rua da Fonte dos Padres e a força roubaram espadas, facas, ferindo o dono e o caixeiro. Prosseguiram no saque em outras lojas e cometendo distúrbios com ferimentos em pessoas. Juntaram com escravos novos que estavam no armazém que seriam vendidos, eram 100 deles somente 18 foram os outros eram escravos “latinos”, esses foram espancados e deixados no local. Seguiram com a sua ira para à Soledade, com vários tipos de armas, inclusive paus. Ali atacaram a guarda policial com sete soldados e um sargento que estavam a procura dos rebeldes. Os amotinados foram dispersos na mata que vai sair no lugarejo chamado São Gonçalo. Só foram presos 41 escravos e logo apareceram os senhores donos reclamando e apresentando provas que comprovavam não culpabilidade de seus escravos, só agora inocente debaixo da ação do poder judicial.
O tempo passa e a vigilância aumenta contra os escravos rebeldes são feitas em leis duríssimas e pesadas, até que surge a mais notável de todas as revoltas foi na madrugada de 24 para 25 de janeiro de 1835. Foi a peça fundamental o chefe de polícia Francisco Gonçalves Martins o futuro Visconde de São Lourenço que tomou todas as medidas possíveis e imaginadas para conter a revolta chamada de Malês – habitavam na bacia de Gâmbia e eram conhecidos por Mali’nkê, quer dizer; homens do Maly, submissos do Império do Mali ou Male que viviam na extensa bacia do Níger. Os Malês sem duvida alguma eram mais inteligentes e mais criativos nas confecções de ferramentas. Tinham conhecimento do Alcorão, leitura e escrita dos árabes, povo o mais civilizados da África e da Ásia Ocidental, eram guerreiros por natureza.
Os compradores de escravos avaliavam em bom preço os escravos vindos dessa região. Eram altos e fortes, não se misturavam com outros grupos e viviam exclusivamente para a sua religião e não admitia submissão. Vamos aos fatos:
O chefe de polícia foi prevenido através de denuncia que estavam se organizando um levante, preparado naquela noite e novas vigilâncias postas na cidade. O chefe de policia dirigiu-se com o seu pessoal para o Bonfim, onde havia festa e muita gente reunidas. Recomendou ao comandante da guarda que fizesse vigiar o largo de Guadalupe, onde supunha haver um casebre de reunião dos escravos rebeldes. Realmente ali, na madrugada foram constatar o casebre e deram batidas na porta, demoraram de abrir e foi forçada, as suspeitas eram certas. De dentro da casa, romperam muitos tiros em descarga cerrada, e vários escravos com carapuças brancas na cabeça, com saiotes da mesma cor por cima das calças, armados de pistolas, espadas e espingardas atacaram a ronda fizeram cutilar o Alferes Lázaro Vieira do Amaral, fazendo-os fugir sem demora.
Os insurretos dividiram-se em dois grupos, um dirigiu-se á praça do Palácio, onde atacaram os guardas rendeu e feriu um soldado que estava de sentinela na cadeia. Tentaram soldar os presos e o outro grupo seguiu em direção a rua do Colégio, atacou um guarda, matou um soldado e deixou três crioulos (mulatos) no chão amarrados. O terceiro grupo mais compacto atacou o quartel de permanente em São Bento. Houve trocas de tiros, mas os guardas fecharam o portão para livrar-se da invasão. O quarto grupo vindo do corredor da Vitória investiu sobre o Forte de São Pedro, onde se travou novo combate, ficando no campo um guarda mutilado e vários outros gravemente feridos, juntos corpos de escravos mortos. O Quartel de Cavalaria de Água de Menino também foi atacado. O chefe de polícia que vinha de retorno do Bonfim, auxiliado pelo capitão Francisco Telles Carvalhal, comandava os soldados de cavalaria, investiram sobre os amotinados e consegui resistência. Travou-se terrível combate; os escravos lançaram-se ao mar, outros fugiram para os matos da costa da montanha, deixando o campo com vários mortos. Os que foram para o mar procurando a fuga, morreram afogados ou mortos a tiros por marinheiros de um escaler da fragata “Baiana” que se achava ancorado neste local. Nas ruas, vários escravos cometiam mil desatinos, criando terror as famílias que mal sabiam da gravidade do que estavam passando.
Ao amanhecer já tinham desaparecido os grupos, fugiram e se ocultaram nas matas em volta da cidade, sempre em locais de difícil acesso. Na busca feita pela polícia, acharam muitos escravos feridos, escondidos. Outros ainda com roupas e ornamento de chefe.
Na devassa feita por policiais, não participaram nenhuma pessoa de elevada posição social e nem se pode negar que havia um fim político neste levante. Refere-se o chefe de policia, que a maioria dos rebeldes eram nagôs encabeçados por líderes Ussás. Não houve roubos de valores e nem mataram os seus senhores ocultamente. Foram encontrados nas moradias dos escravos líderes, roupão branco (camisu) e carapuças (gorro), saiotes enfeitados de penas e guizos. Taboas com inscrições de caracteres arábicos e papeis onde estavam escritos palavras tiradas do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. Enrolados em muitos panos e bem escondidos em latas e em tubos de madeira. Quando foram indagados sobre esses papéis e objetos, negaram sempre e desviando as perguntas do interrogador ou fingiam não conhecer. Deram a entender que eram orações e nada fazia ser contrário como serem objetos de feitiçaria. No interrogatório foram ditos que: “Depois que escreveram sobre á tabua, já preparada para este fim, e feita a cerimônia da verificação pelo maioral, a tabua é lavada em água que são bebidas com carinho e fé. Este líquido representa para eles a prioridade de livrá-los de todos os perigos e males daqui pra frente.” O certo é que não consiste somente em orações a imensa documentação que consta no Arquivo Público e em um dos processos há uma tradução do árabe para o português, a única que existe nos autos, feita por um escravo de nação aussá perante as autoridades que presenciaram em audiência, que diz: “ Que a gente havia de vir da Vitória tomando a terra e matando toda a gente branco, seguia para a Água de Menino até se ajuntar com todos no Cabrito atrás de Itapagipe; para o que as espingardas não havia de fazer mal”. Perguntou-se sobre um bilhete que um outro rebelde deu a ele e diz: “ Deviam sair todos das duas até as quatro horas, invisíveis,e que depois de fazerem o que pudessem, iriam se ajuntar novamente no Cabrito. Em um buraco grande que ali foi feito com ajuda da gente do Engenho que fica atrás do local, eles iriam juntar com a gente. Tendo muito cuidado de fugir dos corpos das guardas para surpreender no momento certo, até eles saírem logo da cidade.”
Na realidade eles tinham planos definidos para a revolta, só não contavam com a traição das suas companheiras, inconformadas com o movimento, fizeram a denúncia e como premio foram libertas.Foi proibido a importação de escravos Malês e tudo que fosse de uso para o levante inclusive os tambores de guerra. Todos os presos foram sentenciados a açoites, prisões em masmorras, enforcados ou fuzilados e degredados.
Um acontecimento curioso sucedeu conforme registro em documentos os quais provam que em 1835 não houve ninguém que aceitasse servir de executor da justiça para acompanhar e colocar capuz nos presos para serem executados, mesmo oferecendo o juiz de Direito do Crime Antonio Simões da Silva um boa importância em dinheiro.
Esses documentos estão a amostra do fim almejado pelo interesse histórico, com toda a certeza provam a grande importância dos fatos e justificam plenamente a guarda desses documentos pela direção do Arquivo para o objetivo dos estudiosos das insurreições passadas na Bahia e esclarecer a característica daqueles tempos.
Arquivo Público, 26 de setembro de 1890 – José Carlos Ferreira.
Trabalho de pesquisa de Álvaro B. Marques. – SSA,19.07.2011.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A ARTE E A IMAGEM PERDIDA DOS DEUSES AFRICANOS NA BAHIA.


A ARTE E A IMAGEM PERDIDA DOS DEUSES AFRICANOS NA BAHIA.

O escravo africano revelou na arte da escultura em madeira, nas horas de folga, a dor e a esperança de sair do cativeiro. Lembrando as imagens dos seus Deuses africanos e reproduziu o melhor para colocar no Peji do seu santuário. A madeira era vasta e fácil dentro da mata envolta da cidade, mas era difícil a pratica do ritual sagrado porque o senhor do escravo era católico e não entendia a cultura africana, não permitia. Somente em alguns casos o nhô (como era chamado o dono do escravo pelo africano) admitia nas folgas dos dias santos e domingos realizarem os batuques. Lembrava da terra, sua morada, seus familiares, sua cultura e seus Deuses. Esses Deuses, suas imagens eram constantemente suplicados em pensamentos durante todo o cativeiro. E lá na mata, ainda intocada pelo homem, invocaram no clamor da clandestinidade os toques dos tambores em linguagem dos Deuses, saíram os rituais na música e no corpo a dança suas únicas expressões. Havia essa necessidade urgente de comunicação com os Deuses e que fora interrompida por várias vezes em brutais assaltos e destruições dos objetos sagrados dos orixás.
O medo da repressão era grande, teve os lideres das seitas o cuidado em medidas de proteção para esconder as imagens e objetos considerados “nocivos e participantes de movimentos de revoltas” era o que os senhores de escravos e autoridades da época Colonial pensavam das reuniões dos escravos. Quando um líder da seita antes de morrer pedia que se não pudesse permanecer as imagens na seita que fossem colocadas no mar. E assim foram encontradas por pescadores e mesmo na areia da praia, algumas imagens que retornaram ao culto. Imagens em diversas formas em tamanhos e corpo com expressões faciais diferentes. A proibição chegou até o inicio do século XX e assim mesmo não era aceita pelos católicos, tinham pavor. Mas já nesta época as imagens totêmicas esculpidas por escravos da sua seita não existia. Porém, nem todas as religiões africanas eram totêmicas, cada etnia vinda trazia no sentimento os seus Deuses com nomes diferentes e aqui foram semelhantes em rituais diferentes. Mas não podiam exercer os seus cultos com liberdade eram interpretados como “ritos satânicos” pela igreja e mau visto por católicos. Quando os primeiros toques saídos do tambor chamado "batacotó" anunciando o culto já eram ouvidos por adeptos e pela repressão que imediatamente seguia a direção dos sons dos instrumentos e davam fim ao culto, invadiam o local, quebravam e destruíam tudo que eles achavam que era objeto de feitiçaria. Prendiam os lideres e por vezes adeptos. Mas com toda a violência os Deuses africanos permaneceram no Candomblé com algumas características renovadas em virtude da fusão da cultura de outras etnias que também incorporaram  com liberdade na cultura brasileira. Perdeu muito a originalidade durante o período escravocrata da arte primitiva dos ancestrais escravos no Brasil por causa da repreenção e da ignorância dos senhores. Para isso, contribuiu e muito no passado os negros católicos que praticavam o culto dos orixás e formaram suas Irmandades Religiosas nas Igrejas Católicas, dando apoio as duas religiões. As imagens dos Deuses africanos do passado remoto já não tinha e não é mais cultuada na Bahia e pouco sabemos sobre essas imagens. Entretanto na Casa de Benin (museu) no Tapoão/ Pelourinho há duas ou três imagens que representam um dos Deuses africanos. Porém, o Candomblé floresceu da maneira dos grupos Yorubá angolanos e jêjes vindos com os escravos para fortalecer a hegemonia religiosa da Bahia.
Álvaro B. Marques
Ssa. 22.07.2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

A ASCENSÃO SOCIAL NO PERÍODO COLONIAL

A ASCENSÃO SOCIAL NO PERÍODO COLONIAL NA BAHIA.
RESUMO
Para obter ascensão social mais elevada no período Colonial, o pretendente teria que praticar alguma ação social reconhecível e solicitar ao rei a compra de Titulo de Nobreza chamado de “Titulo nobiliárquico” fornecido pela coroa portuguesa no Brasil aos brasileiros e seus descendentes. E para ser membro da Santa Casa da Misericórdia ser português nato e descendente de cristão-velho e possuir cabedal, ao morrer o irmão geralmente, deixa em testamento toda ou parcial bens, legado para a Santa Casa da Misericórdia. Em troca a Santa Casa da Misericórdia, manda celebrar missas eternas e a sua imagem permanece em quadro pintura exposto na galeria do salão nobre da entidade.
O português já vindo nobre de Portugal, reconhecido, gozaria de privilégio em cargos públicos e se fosse negociante as facilidades comerciais com apoio de conterrâneos eram evidente e muito importante. No entanto, era um dos motivos de revolta contra o sistema que impedia perspectivas de ascensão social dos brasileiros, aí segue outra história.
Cristãos-novos são aqueles convertidos ao catolicismo, vindo de Portugal. Participaram da vida Colonial, social, cultural e economicamente, com destaque para os Engenhos de açúcar na Bahia, Paraíba e Pernambuco. Sua ascensão social e econômica enfrentava restrições. Não podiam pertencer às Irmandades da Santa Casa da Misericórdia e nem cargos públicos. Não casavam com cristãos-velhos, por causa dos estatutos de pureza de sangue.
Durante a maior parte do período Colonial (1500-1822), esteve ativo no Brasil o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição estabelecida em Portugal em 1536 e que funcionava na Metrópole até 1821. A Inquisição enviou Visitações do Santo Oficio a partir de 1591 e delegou poder aos Bispos locais. As mais conhecidas foram as Visitações de 1591-93 e 1618-19 na Bahia. Até que no século 18 por decreto do Marquês de Pombal foram igualados os direitos de cristãos-novos e cristãos-velhos e a Inquisição deixou de atuar.
No período Imperial de 1822 a 1889 começou a ascensão dos ex-escravos ou filhos deles com o trabalho livre e independente de pequenos vendedores ambulantes a comerciante de porta em varejo e até mesmo em grosso. Realizando também os ideais de vários serem médicos, advogados, engenheiros, professores, jornalistas/poetas e outras profissões liberais que souberam honrar o seu nome na História do Brasil.
Álvaro B. Marques
SSA,18.06.2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE AS DERROTAS DAS REVOLTAS DOS ESCRAVOS AFRICANOS NA BAHIA

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE AS DERROTAS DAS REVOLTAS DOS ESCRAVOS AFRICANOS NA BAHIA.
No período Colonial e até 1850 o numero de escravos duplicaram e não sabemos exatamente a quantidade. Porque mesmo com a proibição eles entraram clandestinamente no País.
“No ano de 1807 quando surgiu a primeira revolta dos escravos africanos, conforme alistamento feito existia 25.502 pretos para o numero de brancos não superava a 14.260 e 11.350 pardos. Era de se prevê revoltas dos escravos africanos na Província pelo desequilíbrio numérico e por eles vindo de tribos as mais guerreiras da África”
(Fonte: Trabalho apresentado e publicado pelo sócio José Carlos Ferreira sob o título “As Insurreições Africanas” na Rev.do Hist. Geo.e Hist. da BA.vol.nª29 Juntamente com documentos no Arquivo Público da Bahia.).
Relação das Revoltas africanas na Bahia:
No dia 27 de março de 1807 – Levante dominado antes da deflagração que seria no dia 28 do mesmo ano.
No dia 05 de janeiro de 1809 – realizado e condenado todos.
No dia 28 de fevereiro de 1813 – levante não realizado e todos condenados.
No dia 23 de junho de 1826 – levante não realizado e todos condenados.
No dia 30 de janeiro – levante não realizado e todos condenados.
No dia 24 de fevereiro de 1835 – Foi realizado o maior de todos os levantes. Todos condenados.
“Etna vinda para o Brasil desde o século XVI
Grupo Sudanesas na Bahia: Língua Yorubá (nagô) da Nigéria/ daomeano(jeje) do Daomei (atual Benin) Daomeano.
Fanti-axanti (mina) da Costa do Ouro (atual Gana)
Grupo Bantu – Angola, Congo, Cabina, Benguela= Língua Kimbungo e Kikongo.
Sudanesas Islamizadas – Hauçá ou Haussá= Norte da Nigéria, Peul (fula ) todo o Norte da África Negra= Mandiga (mali) acima de Serra Leoa= Tapa (nupê) Norte da Nigéria.”(Fonte “Dicionário de cultos Afro-Brasileiro – autor: Olga Cacciatora)
Edson Carneiro no seu livro “Antologia do Negro Brasileiro”. “Etnias vindas para o Brasil: Cambinas, Benin, gêge ou jêje, Mali, Mandobi, Catopori, Daxá, Angola, Moçambique, Tapá, Filanin, Egbá, Yoruba, Efon (cara queimada), Ketu, Ige-bu, Ôtá, Oiô,Itabaci, Congo, Galinha, Aussá, Ige-chá, Barba, Mina, Oonde, Bona, Calabar, Bornô,Gimun.
O Vocabulário Nagô abrange as tribos: Minas, Yorubá, Ige-bu, Ige-chá, Efon, Ôtá, Egbá. Sendo a língua Yorubá a mais importante pela extensão do território que compreende as terras da Costa Norte e parte da Leste.
As tribos africanas que melhor se adaptaram foram: Angola, Jêje, Congo, Mina, Ige-chá, Aussá e Ketu.”
Havia muitas etnias aqui em Salvador e Recôncavo baiano que não se misturavam. Já vindo da África com preconceitos tribais e faziam guerras entre si. Os prisioneiros eram vendidos como escravos para os mercadores ingleses, franceses, holandeses e principalmente portugueses e espanhóis em troca por mercadorias o que fosse de melhor interesse do chefe da tribo que chamavam de Soba. Os prisioneiros eram marcados com sinais na parte visível do corpo.
Em cada porto de domínio Português na África existia o comércio de escravos que perdia ali a sua identidade africana para se tornar escravo de uma nação nova. Os navios de cargas ou “negreiros” misturavam todos juntos no mesmo porão e atravessavam os mares no silêncio e na dor. Aqui começava a segregação familiar e nova identidade era imposta no batismo ao escravo novo. Mas permanecia a rivalidade entre eles que só uniam-se nas revoltas que era assunto de todos. Mesmo assim, a falta de união não concretizava os levantes em todos houve traidores, entre os companheiros agitadores. Discórdia nas opiniões em vários segmentos das etnias levaram-os a separação ou extermínio dos aussás na Bahia. Acredito que os aussás líderes de todas as revoltas como foram também em 1835 eram corajosos e morreram por causas nobres. Outros participantes aussás depois das fracassadas derrotas e perseguições, fugiram e negaram a sua origem. Muitos foram degradados, mortos, presos em terríveis masmorras e outros salvos por seus senhores preferiram o isolamento por conta do medo da repressão. Até a sua religião muçulmana não floresceu por falta de adeptos e seria uma boa causa de denuncia.
As revoltas dos escravos africanos na Bahia não deram certo por vários motivos, dentre eles foram:
1º) – Não tinham um plano definido (razão que a devassa das autoridades da época não encontraram.)
2º) – Não tinham armas suficientes para enfrentar as tropas armadas e treinadas no uso de armas de fogo.
3º) – Apesar de ser o numero de negro bem maior que os brancos e pardos em Salvador e recôncavo baiano. Nem todos aderiram a luta, muitos temiam as punições que eram aplicadas com rigor. Outros eram fiéis ao seu senhor e temente a Deus por serem católicos. Eram os mais bem tratados.
4º) – O principal motivo das derrotas; sempre houve delatores nas revoltas. Até mulheres participaram da traição. Havia muitas divergências de opiniões nas reuniões, que seja o dia da revolta, locais desejados, saques em pessoas conhecidas e amigas dos amotinados que seriam mortas e a incompatibilidade nos sentimentos que existia enraizado entre as etnias na formação dos negros escravos vindo de guerras tribais.
5º - Diferenças lingüísticas nas étnicas.
Mas, por tudo isso, o sentimento de liberdade era o mais desejado da classe oprimida em centenas de anos no cativeiro. O lema de origem francês: “ Liberdade, Igualdade e Fraternidade” não chegou para os escravos africanos no Brasil. Levou 335 anos para ser concretizado a Liberdade. A Fraternidade veio muito tempo depois e a Igualdade ainda está em luta.
Álvaro B. Marques.
SSA., 11.06.2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

BERIMBAU


Berimbau instrumento musical que os escravos africanos angolense trouxeram na lembrança e aqui fizeram a cópia usando material brasileiro.
Descrição: É um instrumento rude de madeira roliça, com aproximadamente 1,70 de comprimento tipo arco e arame preso nas extremidades a maneira de corda musical, uma cabaça desempenhando o papel de caixa de ressonância. O arame é percutido por uma vareta. O Berimbau na Bahia é sustentado no dedo mínimo da mão do tocador. Este se vale do laço que no extremo da parte inferior do instrumento, prende a cabaça ao arco. O arco fica em posição quase diagonal abertura voltada para fora, segurado pelos dedos anular e médio da mesma mão. Os dedos polegar e indicador desta mão fixam uma moeda de cobre de vintém ou dobrão entre o arco e a corda (fio de aço), o executante toma na mão direita uma vareta e, nos dedos anular e médio, prende o caxixi, é pequeno instrumento de percussão, tipo chocalho, trançado de palha fechado, estreito, alongada, contendo semente de bananeira brava ou semente de milho nativo cujo tamanho é de 20 centímetros. Com a vareta bate na corda (fio de aço) e as vibrações desta são interceptadas pelo dobrão ou moeda. Este, no momento oportuno, é encostado à corda (fio de aço) e rapidamente afastado. O som produzido pelo toque da vareta se propaga até a cabaça que amplia. A cabaça encontra-se junto ao abdome do músico que, abafa ou interrompe o som, aproximando mais ou encestando a cabaça à barriga. O papel principal do dobrão (moeda) consiste, no entanto, em dividir em duas partes, a corda (fio de aço) e permitir a obtenção de dois tons musicais. O músico para obter o toque que deseja basta, apenas bater a vareta ora na parte superior ora na parte interior da corda (arame) e aproximar ou afastar a cabaça do abdome, associando o som produzido com o ruído do caxixi, sacudido, ritmadamente, no ato de castigar a corda com a vareta. Desta forma a música é produzida no Berimbau.
O Berimbau é empregado em momentos de grande agitação quando os ágeis capoeiristas se enroscam e rebolam no chão, em golpes e contra golpes com as pernas exaltados. Animam-se num crescente da música, os golpes cada vez mais rápidos e os rústicos instrumentos entoando cadenciadas toadas.Tomando parte outros instrumentos o pandeiro, o reco-reco o violão ou triangulo (gonzá). Ás vezes só o Berimbau funciona. Capoeira sem pandeiro, reco-reco ou violão ou triangulo não pode existir. Nunca, porém, sem o Berimbau. Vivem uma e outro tão irmanados que implica necessariamente um depender do outro para harmonia sonora. Produz o Berimbau uma música inconfundível, tocada em variado ritmo, desde o lento, monótono, ao ligeiro replicado, ritmo de samba eletrizante. O som do Berimbau é metálico e triste na opinião de vários tocadores que assegura ter sido esse instrumento “veículo de derivação das mágoas dos pretos escravos no recesso das senzalas, quando as saudades da pátria e da liberdade lhe amarguravam a alma”. Música simples, em verdade oferecendo poucos recursos melódicos mas com muita cadência e variações. Seu poder de penetração deve-se à nota sentimental de que se reveste. Com refrão curto em cada verso de estrofe cantada pelos tocadores. A música é empregada na capoeira como uma força ativadora das energias dos lutadores de tal modo, a música se liga ao jogo que ele depende inteiramente dela e é por ela regulado. O ritmo determina o tipo da luta, lenta, enrolada, com golpes certeiros, ligeiros e duros. Os tons musicais variam nas escolas de capoeira, onde aquele arco musical é o senhor absoluto, quer na chamada capoeira de Angola quer na capoeira Regional.
A palavra capoeira é derivação de campo local de terra firme, aberto onde se pratica o esporte.A capoeira veio para o Brasil possivelmente através dos escravos de Angola como divertimento e defesa na prática da violência. Por outro lado o Berimbau era denominado urucunga, nome de origem angolês ou hungu em grande parte do continente africano também é conhecido por m’bolumbumba utilizado entre os quimbundos. Já em Portugal é conhecido como Berimbau de peito.
No livro de Caribe “Jogo de Capoeira” ele registra dois tipos de Berimbau que havia; o Berimbau de boca e o Berimbau de barriga. O Berimbau de boca era usado pelos velhos angolenses na Bahia. É um arco com corda de cipó “timbó,” a caixa de ressonância é “a boca e a percussão sobre o arame se faz com uma faca. O Berimbau debarriga, é o que hoje se usa “uma vara de pau” chamado “pombo” (por causa do seu formato da barriga ou peito de pombo), que mantém em “tensão um arame de aço”. A caixa de ressonância é uma pequena cabaça “unida ao arame e por um barbante. A vareta produz ao bater no arame o som e as melodias “são conseguidas com uma moeda de vintém e com a maior ou menor aproximação da boca da cabaça na barriga.”
Berimbau de barriga ou cunga, urucungo como era chamado pelos capoeiristas africanos.
BIOGRAFIA: “Berimbau o Arco Musical da Capoeira na Bahia”- autor:Albano Marinho de Oliveira // Parte extraída do livro: Rev. Do Inst. Geo. e Hist. da Bahia págs. 225/264 Vol.80.
Pesquisador:Álvaro B. Marques
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domingo, 17 de abril de 2011

ICONOGRAFIA RENOVADA


NOTA DE ESCLARECIMENTO
Este texto é mais uma denúncia, trata-se de mostrar ao leitor onde está o erro de atribuição da obra “Senhor morto”. Quem é o verdadeiro autor da Obra? Francisco das Chagas, o “CABRA” ou Manoel Ignácio da Costa? Para sabermos teremos que reunir documentos comprobatórios o que não é fácil. Principalmente em razão dos autores não assinar as suas obras na época. Mas, temos a nossa História escrita por autores renomados que por sua vez também fizeram pesquisas para continuar o seu trabalho e depararam também com dúvidas. A História nem sempre da o mérito a quem tem direito e cai no esquecimento do povo o merecido. Resta o trabalho de iconografia afirmar o mérito.
Na Igreja do Carmo, encontra-se uma placa colocada no alto da parede da Igreja, parte externa, lado esquerdo subindo o início da escadaria da Ordem 3ª do Carmo com os dizeres: “VISITEM: A V.O.T. DO CARMO A IMAGEM DO SR. MORTO, OBRA DO ESCRAVO O “CABRA” COM 2000 RUBIS ENCUSTADO.”
Na realidade o seu nome era Francisco Xavier das Chagas, mais conhecido por “Cabra”, mestiço e não sabemos que era escravo.
É bom saber: Pé de Cabra, nome depreciativo dito por portugueses a brasileiros como também “CABRA” designação de mistura de negro com índio e mulato (pardo).
Sabemos muito pouco sobre a origem deste perito mestre da arte escultural. Todas as suas obras eram de uma perfeição surpreendente. “Suas obras mais conhecidas foram:
Nossa Senhora do Carmo e o Menino Jesus, São Benedito, São João, Santa Magdalena, N. S. Das Dores e o Senhor da Redenção. Ainda podem ser vistas na Igreja da Ordem 3ª do Carmo” (Fonte do livro: Bahia Histórica – autor Sílio Boccanera Jr.)
Fazendo pesquisas de pintores baianos dos séculos 17 e 18 até fins do século 19 deparei com o escultor baiano “Manoel Ignácio da Costa cognominado o “seis dedos” (porque tinha na mão direita) sua maior obra prima foi a imagem de São Pedro de Alcântara, colocado no segundo altar a direita de quem entra na Igreja de São Francisco no Pelourinho. Outra obra de grande beleza plástica e muito realismo, surpreendente em detalhes é o “Senhor Morto” que se encontra na Igreja do Carmo e sai na procissão. Fez Também outras imagens para o Rio de Janeiro que infelizmente não sabemos o destino. Dentre elas na Igreja de Maragojipe no recôncavo, um São Jorge de tamanho natural. Na Igreja da Palma encontra-se um São Guilherme e no antigo Hospital do Morfético um São Lázaro. Fez também o emblemático “o Caboclo” da nossa Independência, esculpida em 1826”.( Fonte do livro: “Artista Bahianos” do autor Manoel Raimundo Querino)
Consta no livro de Termos da Ordem Terceira do Carmo no início de 1845 p.41 “Que o escultor Francisco das Chagas. Executou em 1758 para a Ordem Terceira do Carmo, as seguintes imagens: um Senhor Crucificado, com oito palmos, olhos de vidro e unhas das mãos e pés de marfim; um Senhor assentado na pedra; e ainda um Senhor com a cruz as costas. Um longo e minucioso termo de ajuste com a Ordem Terceira do Carmo diz que Francisco das Chagas, receberia pela primeira dessas imagens, Rs.70$000 e pelas duas outras Rs 100$000 e Rs 50$000, respectivamente.”
“Atribui-se também a Francisco das Chagas com fundamentos a autoria da impressionante imagem do “Senhor Morto”, pertencente a Ordem Terceira do Carmo, considerada obra prima.”
“Sua naturalidade, filiação e data de falecimento dificilmente serão apuradas, pois são muitas as pessoas com os mesmos nomes e apelidos que se deparam nos livros de casamentos e óbitos da Bahia do século XVIII.” (Fonte do livro: Dicionário de Artistas e Artifícios na Bahia – autor Marieta Alves.)
Havia os artesãs de ouro e prata que deixaram as suas marcas, geralmente inicias das suas primeiras letras do nome, gravado na jóia por exemplo: DM (Danilo Martins) mas não eram todos. A proibição e a perseguição ao artesão em ouro e prata no Brasil durou 49 anos com o início da Carta Régis de 30 de julho de 1766 e o termino em Decreto de 11 de agosto de 1815. Por este motivo os artesãs (joalheiro) trabalharam na clandestinidade e só colocavam as suas marcas (letras) em peças.A identificação da autoria da obra começou a valer depois da criação da Escola de Belas Artes na Bahia e Liceu de Arte e Ofício dois insignes lugares de ensino da artes do passado glorioso da Bahia.
Pesquisa de Álvaro B. Marques.

O ARTISTA A ARTE E A COMUNICAÇÃO

A arte sempre existiu no homem, desde os rudimentares desenhos pintados em cavernas e continuamente suas criatividades crescem em vários setores da nossa sociedade, artística, industrial, comercial. Demonstrando sua pujança na beleza, utilidade e lazer como a música, e a necessidade de criar sempre existirá para o desenvolvimento humanitário. É através da arte que o homem consegue se comunicar com todos os povos. A arte, com a sua linguagem silenciosa em ferro, barro, louça, vidro, madeira, gesso e a tinta para fazer a cor desejada. O papel são várias e tantas outras em formas artísticas que a criação humana permite desenvolver cada vez mais beleza, harmonia e cores.
“Artistas são os que criam e desenvolve a um pensamento, a uma idéia, fôrma e expressão, sentimento e vida”.
Depois da abertura dos portos no Brasil para as nações amigas, decretado por D. João VI em 1808 o Brasil foi visitado por ilustres artistas que souberam passar tudo que viram e transformaram em riscados e cores vivas e alegres da nação nova e exuberante.
O artista francês Jean Batiste Depret que divulgou na sua obra: Voyage pittoresque et historique au Brésil (1834-1839. Como foi também o cientista Auguste Saint-Hillaire, opinaram sobre templos religiosos, urbanismo, costumes e festas religiosas e pagãs (escravos) no período Imperial de tradições barroco. Outro artista visitante que nos deixou belas gravuras em desenhos e pinturas dos usos e costumes do povo brasileiro, seu nome até hoje é lembrado Jonhan Mortiz Rugendas, pintou renomado, esteve entre nós em 1827 a 1835.
O extraordinário artista, escultor italiano que viveu entre longo período em Salvador modelando estátuas como imagem viva. Pasquale di Chirico. Fez a estátua do Poder e da Justiça, a estátua de Thomé de Sousa, a estátua do Barão do Rio Branco e outras de menores vultos na Bahia e em outros Estados.
Mas a Bahia já tinha os seus artistas com suas glórias. Vamos seguir a narrativa de Manoel Raimundo Querino, o retratista que tornou-se o primeiro folclorista dos escravos africanos da Bahia. “ A Bahia teve no passado seus tempos de glórias nas artes. “ onde as artes brasileiras iniciaram os seus passos” – (Torquato Bahia – 1907).
“Na época em que tinham os notáveis filhos de Salvador, Cachoeira e Santo Amaro formou-se um espírito de cultura religiosa barroco. Os principais da época foram:
As obras de pinturas de: José Joaquim da Rocha, José Theófilo de Jesus, Antonio Joaquim Franco Velasco.
Na escultura de: Francisco Chagas, mais conhecido como “Cabra”, Felix Pereira, Bento Sabino dos Reis, Manoel Ignácio da Costa, Domingos Pereira Baião.
Na música de: Damião Barbosa de Araújo, José Pereira Rebouças ( o primeiro brasileiro a diplomar-se em música na Europa.) Mussurunga – Francisco Muniz Barreto, João Amado Coutinho Barata, Adelelmo Nascimento, Domingos de Farias Machado, Germano Limeira.
Foram os dois estabelecimentos que o Estado ministrou o ensino profissional. A Escola de Belas Artes e o Liceu de Artes e Ofícios. Nessas escolas saíram grandes mestres da arte baiana.” ( “Artistas Bahianos ) – autor: Manoel Raimundo Querido – impressos em 1909/Ba.)
Francisco Chagas o “Cabra” esculpiu as imagens de N. S. do Carmo, São Benedito, São João, Stª Madalena, N. S. das Dores e Senhor da Redenção. O apelido (depreciativo) Cabra é designado a pessoa de cor mestiça ou seja mulato que os portugueses chamavam assim os nativos brasileiros, mistura de branco com preto.
Valentim da Fonseca e Silva, conhecido por mestre Valentim além de escultor era perito em ourivesaria. Crispim do Amaral e Pedro Américo pintores famosos do século XIX.
Manoel Ignácio da Costa, admirável escultor baiano, tinha o cognome de “6 dedos” por ter uma das mãos seis dedos. Modelou a imagem de São Pedro de Alcântara (igreja de São Francisco), Senhor Morto (ordem 3ª do Carmo), Stª Madalena (igreja da Lapinha).São Jorge, tamanho natural, encontra-se na cidade de Maragojipe. São Lázaro, encontra-se no Hospital dos Leprosos. São Guilherme, na igreja da Palma. O caboclo, esculpido em 1826, emblemático da nossa Independência.
Alberto da Costa, genro de Manoel Ignácio, talentoso artista, pintor retratista, fez o retrato do Conde dos Arcos que existe na Associação Comercial da Bahia, juntamente com os retratos do general Pedro Labatut e do Visconde de Pirajá.
José Joaquim da Rocha, pintou notável, fundador e mestre da Escola de Pintura da Bahia, fundada em 1740. Como também ele pintou várias cúpulas de igrejas. Dentre a mais famosa foram os painéis da Igreja do Pilar. Considerado o maior pintor barroco do século 18.
José Theófilo de Jesus, baiano, grande talento discípulo de José Joaquim da Rocha.
Principais representantes da “Escola Baiana de Pintura” dos séculos XVIII E XIX, foram esses: José Joaquim da Rocha, fundador.José Theófilo de Jesus, Francisco Vellasco, Rodrigues Nunes, Francisco e Manoel Lopes Rodrigues, Silva Romão, Bento Capinam, Cunha Couto. Os que sobraram do século 18 ao século XIX e inicio do século 20. Alberto Valença, Mendonça Filho e Presciliano Silva..
Paisagem; Alberto Valença. Marinhas; Mendonça Filho. Pintura interna de Igrejas: Presciliano Silva.
Outros não menos famosos: Rodrigues Nunes, Francisco e Manoel Lopes Rodrigues, Silva Romão e Bento Capinam.
Dr. Jonathas Abbot tinha em seu acervo particular vários quadros de autores baianos e pinturas estrangeiras de italianos, franceses, flamengos e holandeses dos séculos XVII e XVIII. Abbot, era inglês naturalizado brasileiro, formou-se aqui em medicina e foi um grande apreciador das artes baiana.
ARTES MENORES – “ No século XVIII foi na Bahia, o século da arte, do fausto e da liberdade – uma miniatura feliz da Renascença. Ainda hoje, o que temos de melhor, recebemos da era setencentista – a dos lampejas do ouro, do faiscar dos diamantes e das cintilações da prata.
O espírito religioso da época favoreceu o surto do progresso das artes, sobretudo o da chamada artes menores.
De Portugal vinham, facilmente, imagem e cantaria lavrada para reverter fachada e moldura de portas e janelas de igrejas e de solares. Aqui, porém, se talhava o rijo jacarandá das estátuas, dos arcazes e das grades torneadas, das mesas e das cadeiras de respaldo, executadas no rico e belo estilo, que marcou o fausto reinado de D. João VI.
O cedro abatido nas matas, transformava-se em figuras de anjos, colunas torsas enroscada de pampanos ou de margaridas, aves lendárias, sanefas de bicão, plumas estilizadas, conchas.
Isso tudo, o mais eram trabalho de mestres, talhadores, torneiros e carpinteiros, que se multiplicaram na Bahia e nela implantaram durante um século, o dominador e vasto império do barroco.
A própria ourivesaria, perseguida desde o século XVII, alcançou, na era setencentista sua fase de maior esplendor.
O exercício de uma profissão levava-se muito a sério, naquelas priscas eras, consideradas, mas, se bem analisadas de grandes virtudes no tocante a proibidade e a retidão profissional.
Para ter loja ou tenda aberta, o oficial submetia-se a exames e uma vez aprovado, obtinha a necessária licença da Câmara, chamadas oficiais mecânicos.
Das mãos desses oficiais mecânicos, quantas obras primas botavam atestando a perícia do executante, que levantavam solares e erguia templos, ainda hoje pontos altos da história da civilização brasileira. Basta recordar que foi no correr deste século que se construíram as igrejas mais importantes da cidade. São Francisco, Conceição da Praia, Senhor do Bonfim, Sant!Anna, Passos, Saúde, e ás Ordem 3ª de São Francisco, São Domingos, N. Sª do Rosário dos Pretos e outras não menos famosas.
Entre os numerosos entalhadores, que trabalhavam no Bahia, no século XVIII e cuja obra não desapareceu totalmente, sobressai Antonio Mendes da Silva, considerado o mais competente Toreuta da primeira metade do século XVIII na Bahia, onde faleceu em 1763 segundo notícias colida no Arquivo da Santa Casa a qual ele fez vários serviços registrado nos livros de despesas.” ( Fonte do livro: “ História da Arte Brasileira” Editora Melhoramento)
Xisto de Paula Bahia. Foi o maior artista de teatro e cantor de modinha do século XIX, no palco suas apresentações eram de muitos aplausos, compositor, cantor, musico e ator cênico. Nasceu em Salvador no dia 6 de agosto de 1841 e faleceu no dia 30 de outubro de 1894. Fez várias incursões teatrais em Estados do país sempre com glórias e evoluções.Tornou-se o mais famoso do Teatro no Brasil.
Cantor e violonista no inicio da sua carreira no Teatro S. João e na Rua São José. Depois de tanto se envolver no palco e tinha talento, tornou-se ator dramático e saindo por aí a representar com seu jeito único de ser o Xisto Bahia. Ele e João Caetano foram as glórias pares do teatro brasileiro.
Trabalho de pesquisa – Álvaro B. Marques

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A HISTÓRIA DO ABOLICIONISTA LUIS GONZAGA PINTO DA GAMA


Luis Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador/BA. No dia 21.06.1830 e morreu no dia 24.07.1882 na cidade de São Paulo. Não era formado em Direito, na realidade era um rábula (assistia ás aulas de Direito como convidado) e defendia as causas da libertação dos escravos com brilhantismo. Era autodidata, trabalhava na impressa de jornais paulista, poeta e escritor.
É necessário que leia o livro: “ O Precursor do Abolicionismo no Brasil” – autor Sud Mennucci – publicado em 1938. A vida de Luis Gama, já foi biografada por vários historiadores e a sua origem nunca foi bem esclarecida. Não estou querendo desmerecer os méritos do grande defensor dos escravos, mas a História põe em dúvidas. Mesmo porque, na época da escravatura, o escravo e alforriado como também os descendentes só tinham valor comercialmente e o jovem, garoto (moleque) escravo, tinha mais valor do que um adulto. Seria natural que o suposto pai de Luis Gama lhe vendesse. Havia grande interesse do proprietário do escravo em ensinar ao jovem um ofício seja qual for ou vários, além de ser-lhe útil o seu preço dobraria. Não era crime, tudo que fizesse mal ao escravo, tudo era possível desde quando tenha o conhecimento e autorização do proprietário. Os pais de escravo nada podiam fazer em benefícios do filho, até a sua origem africana quando chegava de viagem ao porto do Brasil não era bem esclarecida. Os mercadores de escravos escondiam dos compradores as verdadeiras origens, porque havia interesses em escravos novos, perfeitos, dóceis, angolanos, jejes, tapas, bônus, congoleses, minas, moçambique e todos da região sudaneses. Como também, os mercadores tinham dificuldades para entender os vários dialetos de nações africanas. Por isso, preferiam receber e negociar os da Costa da África era os mais solicitados pelos compradores portugueses, os mais entendidos na língua Yorubá. Mas, os africanos distinguiam-se por dialetos e hábitos ancestrais. Chegavam aqui, sem lei e sem documentos.
O Luis Gama foi vendido pelo pai, segundo consta no livro de Edson Carneiro “Antologia do Negro Brasileiro” “quando ele já era livre e a mãe chamava-se Luizia Mehin de nação nagô(assim chamado na Bahia, refere-se a todos os africanos que fala a língua yorubá a mais falada na Bahia) Morava próximo a Igreja da Palma, na antiga rua do Bângala, hoje rua Luis Gama, no prédio nº 1 – está assinalado em placa dizendo: Nesta casa em 21.06.1830 nasceu livre Luis Gonzaga Pinto da Gama, filho de Luizia Mehin”. Está não é a Luiza Mahin que foi arrolada no processo do “Levante dos Malês” em 1835 na Bahia, participou junto com outras mulheres do movimento, foi presa e deportada, era alforriada, é outra história. Acredito até que houve erro de ortografia em referência ao nome.
Tenho um trabalho que ainda não foi publicado intitulado formalmente: “Bahia. Seu berço e sua alma” em datilografia e que não tive oportunidade para maiores vôos. Refere-se ao tema central do povoamento da Bahia em época Colonial até ao fim da escravidão. Neste termo acima tenho dúvidas em relação a paternidade de Luis Gama ou seja Luis Gonzaga Pinto da Gama por ser este nome de batismo de origem portuguesa e católico autorizado pelo primeiro proprietário do nascimento de Luiz Gama.
O Ministro da Fazenda Ruy Barbosa, mandou por decreto de 14 de dezembro de 1890 e a circular nº 29 de 13 de maio de 1891 destruir, queimar, todos os documentos históricos alfandegários os “assentos” dos senhores, os livros de matrículas de escravos as taxas do fisco e tudo que se refere a escravidão no Brasil e os órgãos públicos assim procederam juntamente com o povo. O que restou é muito pouco sobre a quantidade e a origem dos escravos africanos vindo ao Brasil.
O excelentíssimo Ministro quis apagar com gesto nobre uma mancha enorme na nossa República mais não apagou da nossa memória, ele aleijou a nossa História. “A intenção fora a mais generosa possível, mas o prejuízo histórico foi lastimável. Os poucos documentos que se salvaram não permitiram que se reconstituísse com fidelidade toda uma larga fase da HISTÓRIA BRASILEIRA.” (frases do livro:”O Negro na Civilização Brasileira” – autor Arthur Ramos) Independente disso, foram queimados em praça pública (séculos atrás) livros e documentos pelos invasores holandeses que encontraram nas Igrejas, Conventos e Prefeituras. Não bastando tudo isso, houve incêndios na biblioteca do Colégio dos jesuítas e muitos anos depois na antiga Biblioteca Pública do Estado isto já causa uma perda enorme de informações documentais. Resta os Arquivos Públicos preservarem o que sobram conjuntamente a acervos particulares.
É bom deixar bem claro, que o negro africano escravo no Brasil e seus descendentes contribuiram e muito pela formação do povo brasileiro, juntamente com os índios nativos e os brancos portuguese.
Álvaro Bento Marques