Na minha infância, na
casa da Rua da Mangueira no bairro de Nazaré. Ouvia da minha tia avó, Maria
Augusta da Costa Marques tia do meu pai Álvaro
Marques que o criou, relatos do seu parente Coronel Santos Marques, seu tio
abolicionista. Contava várias façanhas do coronel “que tinha uma roça e que
ajudava muitos escravos.
Hoje, ao ler mais um
livro do autor Francisco Borges de Barros “A Margem da História da Bahia”
historiador da Bahia antiga, deparei com acontecimentos do abolicionista
Coronel Santos Marques: “Nunca hei de esquecer das longas jornadas empreendidas
para acompanhar da “Gazeta da Tarde”, as vitimas da escravidão com destino a uma
roça a estrada das boiadas, de propriedade do Coronel Santos Marques, que se
incumbia da segurança e manutenção alimentar daqueles adventícios”. “Ao fundo
da espaçosa vivenda campestre, havia um subterrâneo, no qual se penetrava por
uma estrada de forma circular, construída de tijolos e que se elevava cerca de
um metro acima do solo, dando, a primeira vista, a impressão de cisterna. O
chão desse subterrâneo era também revestido de tijolos, e a dar crédito da
tradição (muitos falavam desse subterrâneo mas ninguém tinha prova) tinha sua
entrada no atual Colégio dos Órfãos do Noviciado de São Joaquim e ia terminar
na dita roça. O subterrâneo se destinava ao último asilo de refugiados em caso
de alguma inesperada diligência da Guarda Policial. Uma escada comum, lá estava
de prontidão para à descida, a qual seria retirada para o interior do
subterrâneo logo após a penetração do último refugiado. Folhas secas, reunidas
à entrada do local confirmariam a ilusão que somente ali existiam “aranhas e
cobras” era um local disfarçado”.
Veja o que diz o Major
Oseas: “ Muitos Oficiais do Corpo de Polícia, se interessavam pela abolição e
outros fizeram o trabalho eficiente, como os Coronéis Joaquim Maurício Ferreira
e Maximiano dos Santos Marques Este último escrevia no Jornal Gazeta da Tarde
decidida propaganda e até refugiava escravos em sua roça na Estrada das
Boiadas”.
A História acima
confirma juntamente com outras, que o Coronel era homem abolicionista e de
grande influência no meio dos intelectuais e militares da época. Este
acontecimento retrata a sociedade civil e militar muito dividida no apoio as
causas abolicionistas. Participava como sócio Diretor da Sociedade Abolicionista Comercial no período de 1870/1873 sendo Presidente o Desembargador João Antonio de Freitas Henrique(Pasta Maço 1575 referente as Sociedades Beneficiências - Seção do Arquivo Colonial e Provincial - Arq.Púb.do Estado da Bahia.) Vereador na Câmara Municipal da Capital em 1881 quando morava em Pitangueiras.(Fonte: Almanak da Bahia ano 1881).
D. Maria Augusta da
Costa Marques, solteira, chamada por familiares de D. Pequena, tia e mãe de
criação do meu pai Álvaro Marques, filho de Antonino Santos Marques, solteiro,
irmão caçula de D. Pequena, teve este filho natural com D. Laurinda Paiva. O
avô Antonino morreu aos 33 anos de insuficiência cardíaca e a avó muito nova
constituiu outra família. Ficando o filho Álvaro aos cuidados da sua irmã Maria
Augusta. Por sua vez, D. Pequena não foi registrada com Santos, registrou
somente o Costa Marques herdado o Costa da mãe. Por motivo ignorado não
registrou meu pai com Santos, perpetuando o sobrenome Marques.
D. Maria Augusta da
Costa Marques (tia pequena), comentava os atos de bravura e dizia ser sobrinha
do famoso Coronel mas não deixou nenhum documento comprobatório.Ela nasceu em
Salvador no ano de 1890 e faleceu no ano de 1960 nesta cidade, causa morte,
parada cardíaca fulminante. Tão logo a morte da tia-mãe, meu pai viajou e levou
com ele todos os documentos da falecida que se perderam na viajem.
Creio que a minha
história se enquadra na mesma proporção de milhares de brasileiros que não têm
como provar a sua árvore genealógica por diversos motivos. Principalmente por
perda de documentos em órgãos públicos. O mais interessante ocorria antigamente
o “pai de família” na maioria das famílias pobres, ia registrar em Cartório seu
filho, quando a criança já não era mais recém nascida e só registrava com o
sobrenome do pai, com esse ato no futuro implicaria o seu filho a não pertencer
a geração materna. Enquanto que na família rica o patriarca fazia exigência do
registro dos sobrenomes paternos e maternos, isto porque a fortuna sempre
ficava na mesma família ou unificando com outra família rica. Não havia união
com famílias pobres ou que não fossem de origem rica. Havia caso de exceção em
aceitar pessoa que fosse figura de destaque da sociedade ou estrangeiro. Assim
era fácil saber a origem de cada membro genealógico.
Em pesquisas realizadas
em Livros de Batismo e Nascimento do século XIX, deparei com anotações
incompletas, escrito por vigários de Paróquias que não acrescentaram certos
detalhes importantes por exemplos: Não colocavam a data de nascimento do Pagão,
só registrava o primeiro nome e a idade, se fosse filho natural somente
colocava o nome da mãe incompleto e ignorava-se o nome do pai. Registrava-se o
nome da criança e do casal completos quando era filho legítimo. Filiação e data de falecimento é muito difícil serem apuradas, pois são muitas as pessoas com os mesmos nomes e apelidos que deparam nos livros de casamentos e óbitos da Bahia dos séculos passados. Acredito que
tinha normas de anotações nos Livros de Batismo porém o vigário
escrevia o que achava conveniente. Era a Igreja soberana e o Estado submisso.
Essas atitudes eram
comuns do clérigo e do preconceito da época, na qual a sociedade relegava a
mulher o segundo plano na hierarquia familiar. Era a sociedade absolutista em
meados do século XVIII, até o fim do século XIX. No inicio do século XX houve
grandes mudanças sociais e as mulheres já começaram a mudar o cenário social
brasileiro.
Resumo da Biografia do
Coronel Maximiano Santos Marques.
Fui buscar por meios de
pesquisas em trabalho biográfico do seu bisneto Dr.Caio Cesar Tourinho-Marques.
Publicado no livro da Revista nº 7 da ASBRAP- Associação Brasileira de
Pesquisadores de História e Genealogia, páginas 260 a 277. “Maximiano dos Santos
Marques, nasceu na fazenda Buraco, freguesia de Senhora Sant’Ana da Serrinha,
interior da Bahia no dia 2 de março de 1839. Vindo em tenra idade para a
Capital; filho do fazendeiro e negociante Vicente Gonçalves dos Santos Marques
e de D. Maria Joaquina Rios Marques.( Está parte é do autor desta crônica em
cuja pesquisa encontrou seus parentes: Cesídio Aristides dos Santos
Marques, Félix dos Santos Marques(bisavô do Coronel Santos Marques), Maximiano dos Santos Marques(avô do Coronel Santos Marques) Francisco Abrósio dos Santos Marques, José
Santos Marques, Clemente dos Santos Marques, Antonio Isidorio dos Santos
Marques, Inácio dos Santos Marques e Nair dos Santos Marques).
“Foi oficial da Guarda
Nacional, onde ingressou no posto de tenente em 1859, tendo sido promovido aos
postos seguintes até coronel. Em 17 de junho de 1865 foi nomeado Capitão do
corpo de Polícia Provisória. Passou a 25 do mesmo mês, a disposição do
Presidente da Província.”
“Agraciado Cavaleiro da
Ordem da Rosa, por decreto do Governo Imperial em 24 de outubro de 1866. Por
efeito de Lei, pela qual os oficiais do Corpo Provisório cediam seus lugares
aos oficiais do Corpo Efetivo, que regressassem do Paraguai, a 13 de abril de
1867, foi exonerado do posto, continuando a disposição do Presidente da
Província, como Arquivista da Secretaria da Presidência. Por Lei nº 1.033 de 2 de
junho de 1868 foi dispensado nas horas em que tivesse de freqüentar aulas na
Faculdade de Medicina, onde obteve o grau de Farmacêutico.”
“Em 1880, foi
Tesoureiro da Fazenda Provincial e em 1881 morando em Pitangueira, foi eleito
Juiz de Paz de Brotas. Em 17 de janeiro de 1882, nomeado 2º suplente do
Delegado de Polícia do 1º Distrito da Capital. Nomeado em 5 de maio de 1882
para dirigir a 2ª Secção da Alfândega, e no mesmo ano, assumiu o cargo de
Intendente da Capital. Tesoureiro em 1882 da Faculdade de Medicina da Bahia.”
“Em 18 de julho de
1894, nomeado Comandante do Regimento Policial; no dia 19 assumiu o Comando e
passou o mesmo ao Capitão Antonio Joaquim de Souza Braga, em 18 de maio de
1895, sendo na mesma data a sua aposentadoria. Em 18 de janeiro de 1896,
nomeado Comissário de Polícia do 2º Distrito da Capital.”
“Era chefe político
prestigiado da freguesia de Stº Antonio Além do Carmo, militando no partido
Liberal. Exerceu o jornalismo no Diário da Bahia. Quem quiser saber de seu
caráter altivo, leia neste jornal seus artigos, principalmente os de 23 de
abril, 8 e 25 de maio de 1887. Fundou o jornal “Gazeta da Tarde” com outros
sócios e depois o jornal “O Norte”, todos tiveram vida curta. Neste tempo,
morava na Ladeira do Paiva e como o seu jornal tivesse saído com o título em
vermelho “O Estado” publicou trocadilho e foi uma guerra de palavras em
jornais.”
“Fez parte da campanha
abolicionista e em sua chácara na Estrada da Boiada onde refugiava escravos.”
“Faleceu em 25 de março
de 1922, em sua residência, em Pitangueira nº92, distrito de Brotas, nesta
capital. Encontrava-se com problemas de saúde grave. Era casado em primeira
núpcias com D. Josepha Joaquina Ferrão Muniz
do Santos Marques, de cujo consórcio deixou os seguintes filhos:
Professora Ana Muniz Marques de Freitas, Adélia Muniz Marques Khuim, Vicente
Muniz Marques, Raimunda Muniz Marques Sardinha, Maria da Glória Muniz Marques
do Rêgo, Clelia Augusta Muniz Marques, Maria Amelia Muniz Marques Ferreira,
Umberlino Heraclio Muniz Marques. Do seu segundo casamento, com D. Adália Rosa
de Góes Santiago Marques, ficaram os seguintes filhos: Taciano de Góes Marques,
Alfredo de Góes Marques, Jesuina de Góes Marques, Alberto de Góes Marques,
Professora Julieta Góes Marques de Brochão, Carlos de Góes Marques, Mário de
Góes Marques, Aguinaldo Santos Marques. Jones(falecido adolescente), Maria
Amalia(falecida aos 17 anos), Hylda de Góes Marques – (passando a ser chamada
Hylda Marques de Oliveira com descendência adotiva.)”(relatos no livro da
ASBRAP Nº7 Titulo “Coronel Santos Marques: Um Abolicionista baiano” do Dr. Caio
Cesar Tourinho-Marques)
“São seus netos os Drs. Oscar e Oto Marques de Freitas
respectivamente Ten-Cel do Serviço de Saúde e o Cap.Médico da Polícia
Militar.”(Fonte do Livro Noticias Sobre a Polícia Militar da Bahia no Século
XIX - autor Major Oseas Moreira de Araújo.
FONTE:
Arquivo
Histórico Municipal de Salvador
Arquivo Público do Estado da Bahia.
Arquivo Geral da Polícia Militar do Estado da Bahia.
Laboratório Eugênio Veiga – Memorial – Cúria
Metropolitana de Salvador.
Centro de Memória Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Biblioteca Pública do Estado da Bahia.
Biblioteca Clemente Mariani.
Álvaro B. Marques