sábado, 5 de janeiro de 2013

A INSTITUIÇÃO PIA NEM SEMPRE CARIDOSA




“És o lema: é o que se propõem os membros dessa Pia Instituição da Santa Casa da Misericórdia do Brasil:Criar, Instruir e Aliviar o mais possível, os indivíduos das classes pobres e sofredoras. Sua caridade não se limita a acolher os aflitos, vai procura-los e levar-lhes consolações e socorro em seus asilos particulares.”
                       “O rei, os príncipes e todos os fidalgos da corte, e centenas de outras pessoas de linhagem mais e menos eminentes, pertencem a essa associação. Nas reuniões, sempre quando são chamados, comparecem desde o fidalgo ao artífice, na mesma mesa.
Sentados lado a lado, tendo ambos o mesmo direito de votar, de decidir gozam da perfeita igualdade. Cada um dos seus associados dão certas quantia em dinheiro, mensal ou quanto puder, para às despesas que dispõe a “confraria”.Fazem também, os associados “legados” compromissos em vida para que no testamento seus bens sejam para a Santa Casa da Misericórdia, e em troca fazem dizer certos números de missas pelo repouso de sua alma e jazigo perpétuo.Aqueles que deixam grandes fortunas, têm o direito além dos citados acima, ter seu retrato na galeria dos benfeitores da Santa Casa. Mas a escolha de seus membros passam por uma triagem: ascendência, moral elevada, ser católico praticante, caridoso e principalmente ter cabedal.Esses são os requisito básicos para ser irmão da Santa Casa da Misericórdia.Sobre a égide de Nossa Senhora da Misericórdia.”
                  A aplicação desses recursos será para a manutenção dos seguintes estabelecimentos:
 Asilo do exposto: - Casa da Roda, recolhimento das crianças expostas ou enjeitadas como eram chamados, “ministrando os primeiros socorros da criação e o desenvolvimento da idade até os 15 anos, quando saiam sabendo as primeiras letras, ler e escrever rudimentarmente.
São levadas a Roda as crianças infelizes, abandonadas, sem nomes e sem família, filhos da miséria ou do crime, que recolhidos, o Asilo a preparava para a sociedade, para viver uma vida digna, nobre e honesto. Os meninos recebem aprendizado de ofício e as meninas com prendas domésticas e, além disso as moças recebem um dote para o casamento e quase sempre são adotadas.É administrado para todos os serviços religiosos. Havia também, crianças enjeitadas recém-nascidas de mães solteiras e que    pertenciam a famílias ricas, chamadas “boa da terra” eram  perfeitamente identificadas pelas roupas e muitas vezes com jóias.Não havia distinção de cor para os serviços da Santa Casa da Misericórdia. Seu lema era a Caridade.
 Hospício para os pobres – São recolhidos das ruas, mulheres e homens doentes e em situações deploráveis. Os membros da confraria impõem-se o piedoso dever de fazer enterrar os pobres, seja qual for a sua origem, ocupando-se também de melhorar a sorte dos presos nas enxovias públicas. Dando muitas vezes alimentos e dependendo dos casos até a defesa do réu. Se foram condenados, acompanhando-o até o lugar da execução, onde o exortam a arrepender-se. Estende-se até o túmulo que sepultam com decência. Comportam-se com o mesmo modo para com as pessoas que morrem na indigência.
Hospício da Santa Casa da Misericórdia – Constituída para atender os doentes indigentes, principalmente os marinheiros desta e de outras regiões. Também existente em todas as Províncias. Foi assentada a aquisição do sitio de Nazareth, para ser fundado o Hospital da Santa Casa da Misericórdia. Sendo o Provedor Inácio da Cunha de Menezes, adquiriu a roça de Antonio Álvares a 19 de maio de 1828 por 15:200$000 contos de réis, sendo 4:000$000 à vista e o restante à prazo.
Em 13 de junho de 1828 – foi colocada a pedra fundamental. Ali foi embutida uma medalha de ouro de 10 centímetros de diâmetros com dizeres para a inauguração. A obra de Nazareth foi crescendo lentamente, com esforço descontinuado que durou mais de meio século. Continuaram as obras com donativos dos homens bons da Bahia, heranças e da concessão da loteria e finalmente inaugurado em 1893.
Cemitérios – Administrado pela Santa Casa em todas as Províncias.
Asilo para alienados – Conjugado com o hospício. Para homens e mulheres, infelizes loucos que viviam soltos pelas ruas. Assistidos por médicos e alimentação. “Infelizmente o local em que eles ficam é de extrema umidade chamada de enxovia.”
 Com esses esclarecimentos narrados pelo padre Gusmão, reverendo da Santa Casa, fiquei sabendo dessa instituição. Essa é a maior instituição pública do Brasil, desde o seu descobrimento. Haja visto que existem as Irmandades que são constituídas pelos irmãos nelas filiadas. São várias Irmandades, cada qual obedece a seu estatuto, criadas por brancos, pretos e mulatos. Não se mistura, cada uma quer ser melhor que a outra, com finalidades sociais de grande importância para as comunidades.
As Irmandades tinham seus objetivos em ajudar seus irmãos menos favorecidos. Principalmente a Irmandade de N.S. do Rosário dos Homens Pretos, já existia no século XVII por escravos da Bahia. Creio ser a mais antiga do país. Muitos escravos foram libertos por essa confraria.”(palavras de De La Salle – comandante da corveta La Bonite durante a sua permanência no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia nos anos de 1836 a l837 – autor: Cândido de Mello Leitão – págs. 79 a l00 do livro: “Visitantes do Primeiro Império”.)

 Trabalho de pesquisa:         
Álvaro Bento Marques
    SSA, nov. de 2005.
O MOVIMENTADO SISTEMA INTERNO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DURANTE O PERÍODO COLONIAL NOS ANOS DE 1855 A 1856 NA BAHIA.
A Santa Casa cobrava do proprietário do escravo doente no seu Hospital, os serviços prestados, curativos, vestuário e alimentação durante todo o período e na morte do mesmo as despesas de mortalha, bangüê e tumba. Se praticava nesta época a medicina de sanguessunga, banho de aguardente, genebra, conhac para uso interno.
Alimentos para os doentes: Farinha de Trigo (pão), bacalhau, peixe, feijão, chá, farinha de mandioca, toucinho, galinha, carne seca, manteiga, vinho, doce, açúcar, vinagre. Outras despesas; lenha e água. Vestuário; Tecido de algodão grosso para calça e camiseta. Cobertores, barretes (gorros), baetas. E rações para os animais de carga e alimentos para os empregados e escravos do serviço da Santa Casa. Considerado Despesa do mês. Como também rapé (tabaco em pó) sabão, papel, penas de aço (para a escrita), azeite de mamona, velas, alfazema, papeletas guias em impressos e outros artigos para os serviços da expedição.
Na passagem do Coléra morbus em 1855 a 1856 houve muita morte (aterramentos) nos Cemitérios da cidade e no Recôncavo baiano. Mas muitas pessoas ainda queriam sepultar os seus mortos nas Igrejas o que não foi permitido nesta data em diante. Para se ter uma idéia dos números de mortes: “Foram feitos nos Cemitérios no mês de setembro 220 aterramentos de escravos e 24 marinheiros dos navios de guerra nacionais – data 16 de agosto de 1855.(pág. Nº 94 do livro nº 337 “Diário” de todas as transações da Stª Casa em 1855 a 1856)
 A Santa Casa, recebia da Tesouraria Provincial, pagamento do subsídio fornecido pelo Governo, referente as alimentação, curativos, vestuário dos presos da justiça a cargo  dos serviços da Santa Casa que estavam na Casa de Correção e Fortes.
A Santa Casa cobrava do proprietário do escravo preso na Aljube, alimentos variáveis durante todo o tempo de carceragem.
Geralmente o doente ou acidentado vão para o Hospital de Caridade, levando os seus pertences, inclusive o dinheiro que é entregue ao Tesoureiro: “Dinheiro achado nos doentes no Hospital, entregue ao cofre geral do Hospital, referente a dois doentes Manoel Dionísio e José Victor Pereira os quais morreram, valor 6$540 serão para as despesas que tiveram no Hospital.”
Para as crianças expostas (Roda) recém nascido, damos alimentos; acaçás, mandioca para papas, leite e caldo de galinha.Pagamos a uma ama para tomar conta da criança.
“Recebi do africano liberto Antonio de Castro pelo aterramento do cadáver de seu filho Antonio Basílio crioulo, com 8 dias de nascido e falecido do mal de 7 dias”. Nesta época as causas mortes tinham nomes bem estranhos dos nossos dias atuais. Vejamos: morte por dentição, morte de umbigo, morte de dor no peito, morte por constipação cerebral, asfixias e outros.
A Santa Casa da Misericórdia emprestava dinheiro a juros de 5 a 6% ao ano e arrogava terras, fazendas e Engenho de açúcar. Tinha 185 imóveis urbanos  alugados em 1855 e 72 terrenos que se acha nesta cidade e 6 fazendas em Santo Amaro. Já naquela época seu patrimônio era uma fortuna não revelada publicamente.
Recolhimento do Santo Nome de Jesus, inaugurado em 29.06.1716 para mulheres órfãs e necessitadas. Como também para as viúvas e dependentes pobres nesta classe chamada de “visitadas”. “A Santa Casa, paga a 27 mulheres pobres do seu socorro sobre o titulo de visitadas de suas esmolas, relativo ao mês em curso, outubro de 1855.”A Santa Casa pagava pelo “dote” da Recolhida no seu casamento ao marido que era oficialmente conferido em sermão da Mesa de Aprovação, juntamente com o vestido de noiva. No livro A. J. R. Russell Wood. “Fidalgos e Filantropos” A Santa Casa Da Misericórdia da Bahia 1550-1755 págs. 252/265. “O recolhimento se destina primordialmente a jovens de famílias da classe média, de idade casadoura, e cuja honra estivesse ameaçada pela perda do pai ou da mãe, ou ambos. Eram aceitas como “recolhidas” ou reclusas, e ao casar-se recebiam um dote. Havia outros grupos de mulheres; as “procionistas”, viúvas ou solteiras de boa reputação que pagassem seu alojamento e alimentação. O segundo grupo era de mulheres cujos maridos estivesse ausentes da Bahia a negócios e que ficariam no recolhimento durante o afastamento daqueles”. As normas gerais do Recolhimento foram impostas por guardiões: Estipulam a Mesa certas condições: Tinham de ser virtuosas de extração crista-velha e branca, não aceitavam parda. As pretendentes passavam por uma sindicância rigorosa e duravam semanas”.(Fonte: Livro nº 337 “Diário” de todas as Transações da Santa Casa da Misericórdia (livro de receitas) de 1855 a 1856)
Coisa da época: Havia o transporte do defunto rico chamado de “Patrusca”,carro fúnebre movido a tração animal, todo revestido de pano preto até o animal seriam dois pretos com plumagem ornado na cabeça de cor vermelha, carruagem de luxo que pertencia a Santa Casa.
Nesta época já era usado nas Igrejas, Conventos e residências o azeite de mamona com torceiras para  iluminar os lampiões e catiças. A iluminação pública era com o azeite de baleia de custo menor.
O Cólera morbus atingiu todas as classes sociais e principalmente os escravos. A mortandade elevou o número de vítima para mais de 30.000 entre a capital e o recôncavo baiano. Os melhores médicos foram dar socorro e pouco a medicina fez para estancar a epidemia  reinante que durou hum ano. A queda da produção de açúcar, fumo, algodão e outros agrícolas, ficaram abaixo do desejado por falta da mão de obra escrava e novas compras de escravos foram feitas para substituir os mortos. Neste período cresceu muito o tráfego clandestino na Bahia.Como também foi o período que a Santa Casa mais ganhou dinheiro.
"O Cólera morbus é uma doença infecciosa que ataca o intestino dos seres humanos. Na época a medicina desconhecia a causa."
A população escrava eram de nações; Ussá, Tapa, Benguela, Gêge, Angola, Congo, Mina, Caxá, Fulamin, Bornon, Camarões, São Thomé, Bantu, Buzú, Galinha, Moçambique, Benguela, conforme registro no “Livro nº 1.273 Banguê e Tumba dos escravos mortos em 1834 a 1835” da Santa Casa da Misericórdia da Bahia. Neste período morreram muitos escravos Ussás, principalmente no ano de 1835 na revolta dos Malês.
“As moléstia mais predominantes, como sempre foram a tuberculose pulmonar, o reumatismo articular, a varíola, as úlceras sifilisticas, e em geral a syphilis da visão e todas as suas manifestações mórbidas.” (Fonte do Livro de Registro Clínico e Estatistico e Nesologico do Hospital de Caridade da STª Casa da Misericordia 1º de julho de 1871 – assinado pelo médico interno Dr. José Inácio de Oliveira.)
Coisas interessante da época:

O termo empregado Crioulo significa; escravo nascido no Brasil e que falava a língua da terra ou escravo latino. Escravo africano era o escravo vindo da África. Cabra é a mistura da cor negra com branco. Hoje diz Mulato ou Mulata (mestiço)
A palavra Fiel era uma função do empregado da Santa Casa.
Havia a escrita em pena de aves ou pena de metal muito usado nos séculos passados.
Neste século não havia a água canalizada, comprava-se água para beber e uso geral.
O escravo vai para a venda judicial e arrolado no inventário com o preço da alforria será o mesmo da avaliação.
Na morte do escravo o dono dá baixa no seu patrimônio como se fosse uma peça, por exemplo: “Na morte do escravo Cosme de nação Ussá, escravo da Santa Casa de Misericórdia, em serviço no Cemitério do Campo Santo a qual faleceu no dia 10.10.1855 no Hospital da Caridade por efeito do Cholera morbus reinante. Tendo sido comprado em abril de 1850 por 430$000,00 incluso nos bens imóveis da mesma Santa Casa, sendo agora excluído”.(Livro nº337 Diário de Receita e Despesas relativo ao ano de 1855 a 1856, na Bahia.)
“Na Casa da Santa Misericórdia nesta cidade, tem um chafariz que foi construída no pátio no centro, em 1702 sobre ela, acha-se uma bela estátua de mármore branco de Portugal, representando a CARIDADE, a qual foi oferta do irmão Provedor Francisco José Godinho”.(Fonte do Almanaque da Província da Bahia – publicado em 1881).




Pesquisa de Álvaro B. Marques
SSA,30.12.2012.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

BICO DE PENA

 Fazendo pesquisa no Arquivo Público do Estado da Bahia, encontre um documento manuscrito de compromisso com data de 1684, original, solicitação ao El- Rei de Portugal D. Manoel para constituir a Irmandade de São Benedito na matriz da Igreja da Conceição da Praia, nesta cidade. Pedido dos devotos. Com muita admiração reparei a beleza da caligrafia em bico de pena, escrita perfeita com arte, precisa de qualidade em cima do papel grosso da época. Feita com instrumento simples e rude na Idade Média. Não há comparação com a escrita do profissional liberal e do estudante de hoje. Penso que perdeu-se o gosto para a escrita à mão pra dar lugar ao computador de memória que os jovens recorrem como sendo o elemento manual. Os tempos mudaram e a perfeição esquecida. A bela da caligrafia não mais existe.Hoje, com o avanço da tecnologia em informática o professor perdeu espaço na sala de aula. O aluno recorre mais ao compuador do que os bons livros de ensino. E assim, perde o educador o incentivo de ensinar o que é uma arte universal. Não sou professor, mas os livros ensinaram-me a ler, escrever, falar e raciocinar no decorrer dos anos. Tenho com os livros amizade inseparável e o computador uma ferramenta da comunicação.

 N.B.: A pena de ave, possivelmente de ganso ou de pássaro grande serviram para a escrita. “molhava o bico da pena no tinteiro e aplicava a caligrafia no papel.”
 “A escrita representa um meio universal de comunicação e caligrafar significa estar atento às regras de beleza e harmonia que governam a forma das letras.”(internet-Net)
Sem a escrita não se forma palavras.

 Pesquisa de Álvaro B. Marques SSA,24.12.2012.

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Álvaro B. Marques