“És o lema: é o
que se propõem os membros dessa Pia Instituição da Santa Casa da Misericórdia
do Brasil:Criar, Instruir e Aliviar o mais possível, os indivíduos das classes
pobres e sofredoras. Sua caridade não se limita a acolher os aflitos, vai
procura-los e levar-lhes consolações e socorro em seus asilos particulares.”
“O rei, os príncipes e
todos os fidalgos da corte, e centenas de outras pessoas de linhagem mais e
menos eminentes, pertencem a essa associação. Nas reuniões, sempre quando são
chamados, comparecem desde o fidalgo ao artífice, na mesma mesa.
Sentados lado a
lado, tendo ambos o mesmo direito de votar, de decidir gozam da perfeita
igualdade. Cada um dos seus associados dão certas quantia em dinheiro, mensal
ou quanto puder, para às despesas que dispõe a “confraria”.Fazem também, os
associados “legados” compromissos em vida para que no testamento seus bens
sejam para a Santa Casa da Misericórdia, e em troca fazem dizer certos números
de missas pelo repouso de sua alma e jazigo perpétuo.Aqueles que deixam grandes
fortunas, têm o direito além dos citados acima, ter seu retrato na galeria dos
benfeitores da Santa Casa. Mas a escolha de seus membros passam por uma
triagem: ascendência, moral elevada, ser católico praticante, caridoso e
principalmente ter cabedal.Esses são os requisito básicos para ser irmão da
Santa Casa da Misericórdia.Sobre a égide de Nossa Senhora da Misericórdia.”
A aplicação desses recursos
será para a manutenção dos seguintes estabelecimentos:
Asilo do exposto: - Casa da Roda,
recolhimento das crianças expostas ou enjeitadas como eram chamados,
“ministrando os primeiros socorros da criação e o desenvolvimento da idade até
os 15 anos, quando saiam sabendo as primeiras letras, ler e escrever
rudimentarmente.
São levadas a
Roda as crianças infelizes, abandonadas, sem nomes e sem família, filhos da miséria
ou do crime, que recolhidos, o Asilo a preparava para a sociedade, para viver
uma vida digna, nobre e honesto. Os meninos recebem aprendizado de ofício e as
meninas com prendas domésticas e, além disso as moças recebem um dote para o
casamento e quase sempre são adotadas.É administrado para todos os serviços
religiosos. Havia também, crianças enjeitadas recém-nascidas de mães solteiras
e que pertenciam a famílias ricas,
chamadas “boa da terra” eram
perfeitamente identificadas pelas roupas e muitas vezes com jóias.Não
havia distinção de cor para os serviços da Santa Casa da Misericórdia. Seu lema
era a Caridade.
Hospício
para os pobres – São recolhidos das ruas, mulheres e homens doentes e em
situações deploráveis. Os membros da confraria impõem-se o piedoso dever de
fazer enterrar os pobres, seja qual for a sua origem, ocupando-se também de
melhorar a sorte dos presos nas enxovias públicas. Dando muitas vezes alimentos
e dependendo dos casos até a defesa do réu. Se foram condenados, acompanhando-o
até o lugar da execução, onde o exortam a arrepender-se. Estende-se até o túmulo
que sepultam com decência. Comportam-se com o mesmo modo para com as pessoas
que morrem na indigência.
Hospício da Santa Casa da Misericórdia – Constituída
para atender os doentes indigentes, principalmente os marinheiros desta e de
outras regiões. Também existente em todas as Províncias. Foi assentada a
aquisição do sitio de Nazareth, para ser fundado o Hospital da Santa Casa da
Misericórdia. Sendo o Provedor Inácio da Cunha de Menezes, adquiriu a roça de
Antonio Álvares a 19 de maio de 1828 por 15:200$000 contos de réis, sendo
4:000$000 à vista e o restante à prazo.
Em 13 de junho
de 1828 – foi colocada a pedra fundamental. Ali foi embutida uma medalha de
ouro de 10 centímetros
de diâmetros com dizeres para a inauguração. A obra de Nazareth foi crescendo
lentamente, com esforço descontinuado que durou mais de meio século. Continuaram as obras com donativos dos homens
bons da Bahia, heranças e da concessão da loteria e finalmente inaugurado em
1893.
Cemitérios – Administrado pela Santa
Casa em todas as Províncias.
Asilo para alienados – Conjugado com o
hospício. Para homens e mulheres, infelizes loucos que viviam soltos pelas
ruas. Assistidos por médicos e alimentação. “Infelizmente o local em que eles
ficam é de extrema umidade chamada de enxovia.”
Com esses esclarecimentos narrados pelo padre
Gusmão, reverendo da Santa Casa, fiquei sabendo dessa instituição. Essa é a
maior instituição pública do Brasil, desde o seu descobrimento. Haja visto que
existem as Irmandades que são constituídas pelos irmãos nelas filiadas. São
várias Irmandades, cada qual obedece a seu estatuto, criadas por brancos,
pretos e mulatos. Não se mistura, cada uma quer ser melhor que a outra, com
finalidades sociais de grande importância para as comunidades.
As Irmandades
tinham seus objetivos em ajudar seus irmãos menos favorecidos. Principalmente a
Irmandade de N.S. do Rosário dos Homens Pretos, já existia no século XVII por
escravos da Bahia. Creio ser a mais antiga do país. Muitos escravos foram
libertos por essa confraria.”(palavras de De La Salle – comandante da
corveta La Bonite
durante a sua permanência no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia nos anos de 1836 a l837 – autor: Cândido
de Mello Leitão – págs. 79 a
l00 do livro: “Visitantes do Primeiro Império”.)
Trabalho de pesquisa:
Álvaro Bento
Marques
SSA, nov. de 2005.
O MOVIMENTADO SISTEMA INTERNO DA SANTA CASA
DA MISERICÓRDIA DURANTE O PERÍODO COLONIAL NOS ANOS DE 1855 A 1856 NA BAHIA.
A Santa Casa
cobrava do proprietário do escravo doente no seu Hospital, os serviços prestados,
curativos, vestuário e alimentação durante todo o período e na morte do mesmo
as despesas de mortalha, bangüê e tumba. Se praticava nesta época a medicina de
sanguessunga, banho de aguardente, genebra, conhac para uso interno.
Alimentos para
os doentes: Farinha de Trigo (pão), bacalhau, peixe, feijão, chá, farinha de
mandioca, toucinho, galinha, carne seca, manteiga, vinho, doce, açúcar,
vinagre. Outras despesas; lenha e água. Vestuário; Tecido de algodão grosso
para calça e camiseta. Cobertores, barretes (gorros), baetas. E rações para os
animais de carga e alimentos para os empregados e escravos do serviço da Santa
Casa. Considerado Despesa do mês. Como também rapé (tabaco em pó) sabão, papel,
penas de aço (para a escrita), azeite de mamona, velas, alfazema, papeletas
guias em impressos e outros artigos para os serviços da expedição.
Na passagem do
Coléra morbus em 1855 a 1856 houve muita morte (aterramentos) nos Cemitérios da
cidade e no Recôncavo baiano. Mas muitas pessoas ainda queriam sepultar os seus
mortos nas Igrejas o que não foi permitido nesta data em diante. Para se ter
uma idéia dos números de mortes: “Foram feitos nos Cemitérios no mês de
setembro 220 aterramentos de escravos e 24 marinheiros dos navios de guerra
nacionais – data 16 de agosto de 1855.(pág. Nº 94 do livro nº 337 “Diário” de
todas as transações da Stª Casa em 1855 a 1856)
A Santa Casa, recebia da Tesouraria
Provincial, pagamento do subsídio fornecido pelo Governo, referente as
alimentação, curativos, vestuário dos presos da justiça a cargo dos serviços da Santa Casa que estavam na
Casa de Correção e Fortes.
A Santa Casa cobrava
do proprietário do escravo preso na Aljube, alimentos variáveis durante todo o
tempo de carceragem.
Geralmente o
doente ou acidentado vão para o Hospital de Caridade, levando os seus
pertences, inclusive o dinheiro que é entregue ao Tesoureiro: “Dinheiro achado
nos doentes no Hospital, entregue ao cofre geral do Hospital, referente a dois
doentes Manoel Dionísio e José Victor Pereira os quais morreram, valor 6$540
serão para as despesas que tiveram no Hospital.”
Para as crianças
expostas (Roda) recém nascido, damos alimentos; acaçás, mandioca para papas,
leite e caldo de galinha.Pagamos a uma ama para tomar conta da criança.
“Recebi do
africano liberto Antonio de Castro pelo aterramento do cadáver de seu filho
Antonio Basílio crioulo, com 8 dias de nascido e falecido do mal de 7 dias”.
Nesta época as causas mortes tinham nomes bem estranhos dos nossos dias atuais.
Vejamos: morte por dentição, morte de umbigo, morte de dor no peito, morte por
constipação cerebral, asfixias e outros.
A Santa Casa da
Misericórdia emprestava dinheiro a juros de 5 a 6% ao ano e arrogava terras,
fazendas e Engenho de açúcar. Tinha 185 imóveis urbanos alugados em 1855 e 72 terrenos que se acha
nesta cidade e 6 fazendas em Santo Amaro. Já naquela época seu patrimônio era
uma fortuna não revelada publicamente.
Recolhimento do
Santo Nome de Jesus, inaugurado em 29.06.1716 para mulheres órfãs e
necessitadas. Como também para as viúvas e dependentes pobres nesta classe
chamada de “visitadas”. “A Santa Casa, paga a 27 mulheres pobres do seu socorro
sobre o titulo de visitadas de suas esmolas, relativo ao mês em curso, outubro
de 1855.”A Santa Casa pagava pelo “dote” da Recolhida no seu casamento ao
marido que era oficialmente conferido em sermão da Mesa de Aprovação,
juntamente com o vestido de noiva. No livro A. J. R. Russell Wood. “Fidalgos e
Filantropos” A Santa Casa Da Misericórdia da Bahia 1550-1755 págs. 252/265. “O
recolhimento se destina primordialmente a jovens de famílias da classe média,
de idade casadoura, e cuja honra estivesse ameaçada pela perda do pai ou da
mãe, ou ambos. Eram aceitas como “recolhidas” ou reclusas, e ao casar-se
recebiam um dote. Havia outros grupos de mulheres; as “procionistas”, viúvas ou
solteiras de boa reputação que pagassem seu alojamento e alimentação. O segundo
grupo era de mulheres cujos maridos estivesse ausentes da Bahia a negócios e
que ficariam no recolhimento durante o afastamento daqueles”. As normas gerais
do Recolhimento foram impostas por guardiões: Estipulam a Mesa certas
condições: Tinham de ser virtuosas de extração crista-velha e branca, não
aceitavam parda. As pretendentes passavam por uma sindicância rigorosa e
duravam semanas”.(Fonte: Livro nº 337 “Diário” de todas as Transações da Santa
Casa da Misericórdia (livro de receitas) de 1855 a 1856)
Coisa da época: Havia o transporte do
defunto rico chamado de “Patrusca”,carro fúnebre movido a tração animal, todo
revestido de pano preto até o animal seriam dois pretos com plumagem ornado na
cabeça de cor vermelha, carruagem de luxo que pertencia a Santa Casa.
Nesta época já
era usado nas Igrejas, Conventos e residências o azeite de mamona com torceiras
para iluminar os lampiões e catiças. A
iluminação pública era com o azeite de baleia de custo menor.
O Cólera morbus
atingiu todas as classes sociais e principalmente os escravos. A mortandade
elevou o número de vítima para mais de 30.000 entre a capital e o recôncavo
baiano. Os melhores médicos foram dar socorro e pouco a medicina fez para
estancar a epidemia reinante que durou
hum ano. A queda da produção de açúcar, fumo, algodão e outros agrícolas, ficaram
abaixo do desejado por falta da mão de obra escrava e novas compras de escravos
foram feitas para substituir os mortos. Neste período cresceu muito o tráfego
clandestino na Bahia.Como também foi o período que a Santa Casa mais ganhou dinheiro.
"O Cólera morbus
é uma doença infecciosa que ataca o intestino dos seres humanos. Na época a
medicina desconhecia a causa."
A população
escrava eram de nações; Ussá, Tapa, Benguela, Gêge, Angola, Congo, Mina, Caxá,
Fulamin, Bornon, Camarões, São Thomé, Bantu, Buzú, Galinha, Moçambique,
Benguela, conforme registro no “Livro nº 1.273 Banguê e Tumba dos escravos
mortos em 1834 a 1835” da Santa Casa da Misericórdia da Bahia. Neste período
morreram muitos escravos Ussás, principalmente no ano de 1835 na
revolta dos Malês.
“As moléstia
mais predominantes, como sempre foram a tuberculose pulmonar, o reumatismo
articular, a varíola, as úlceras sifilisticas, e em geral a syphilis da visão e
todas as suas manifestações mórbidas.” (Fonte do Livro de Registro Clínico e Estatistico
e Nesologico do Hospital de Caridade da STª Casa da Misericordia 1º de julho de
1871 – assinado pelo médico interno Dr. José Inácio de Oliveira.)
Coisas interessante da época:
O termo
empregado Crioulo significa; escravo
nascido no Brasil e que falava a língua da terra ou escravo latino. Escravo africano era o escravo vindo da
África. Cabra
é a mistura da cor negra com branco. Hoje diz Mulato ou Mulata (mestiço)
A palavra Fiel
era uma função do empregado da Santa Casa.
Havia a escrita
em pena de aves ou pena de metal muito usado nos séculos passados.
Neste século não
havia a água canalizada, comprava-se água para beber e uso geral.
O escravo vai
para a venda judicial e arrolado no inventário com o preço da alforria será o
mesmo da avaliação.
Na morte do
escravo o dono dá baixa no seu patrimônio como se fosse uma peça, por exemplo:
“Na morte do escravo Cosme de nação Ussá, escravo da Santa Casa de
Misericórdia, em serviço no Cemitério do Campo Santo a qual faleceu no dia
10.10.1855 no Hospital da Caridade por efeito do Cholera morbus reinante. Tendo
sido comprado em abril de 1850 por 430$000,00 incluso nos bens imóveis da mesma
Santa Casa, sendo agora excluído”.(Livro nº337 Diário de Receita e Despesas
relativo ao ano de 1855 a 1856, na Bahia.)
“Na Casa da
Santa Misericórdia nesta cidade, tem um chafariz que foi construída no pátio no
centro, em 1702 sobre ela, acha-se uma bela estátua de mármore branco de
Portugal, representando a CARIDADE, a qual foi oferta do irmão Provedor
Francisco José Godinho”.(Fonte do Almanaque da Província da Bahia – publicado
em 1881).
Pesquisa de
Álvaro B. Marques
SSA,30.12.2012.
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