sábado, 11 de maio de 2013

Nome de doença com diagnóstico na Guia de Óbito do Cemitério da Quinta dos Lázaros.




Estamos em pleno século 21 e nada se compara hoje com os séculos passados, principalmente a medicina que tomou um grande impulso de desenvolvimento na área científica, médica e hospitalar.
Lendo as Guias de Óbitos do século XVIII, constatei nomes de doenças que se fossem hoje não haveria tantas mortes.Principalmente as doenças endêmico que tornaram-se epidemias e ainda hoje são desafios para a saúde pública. Naquela época tínhamos médicos clínicos gerais, competentes e jubilados, alguns com conhecimentos no exterior França, Estados Unidos e Inglaterra, mas os medicamentos só apareceram aqui em fins do século XIX. “Foi somente no século XIX que se iniciou a procura pelos princípios ativos presentes nas plantas medicinais, criando assim, os primeiros medicamentos com características que nós os conhecemos atualmente. A primeira indústria farmacêutica nasceu na Alemanha em 1897 também a primeira patente que se tem conhecimento na área de medicamentos.” “Foi na era das enfermarias e boticas dos Colégios Jesuítas que o povo do Brasil colonial encontram drogas e medicamentos vindos da Europa”(Hist.das Farm.no Brasil – autora:Renata Carvalho, jornalista –Internet). Nesta época eram chamados de físicos os médicos e cirurgiões.
No passado, havia a profissão chamada de sangradouro e barbeiro, estes além dos cortes de barba praticavam ventosas, sanguessuga, faziam curativos e arrancavam dentes e muitos nas horas vagas eram músicos. Os remédios eram vendidos nas boticas e drogarias importadas quase sempre uma prerrogativa para os brancos ricos. Os pobres a maioria escravo serviam-se dos curandeiros, remédios caseiros, formulas feitas de ervas, sangradouros e barbeiros. Recorriam ao Hospital da Santa Casa da Misericórdia (que era o único) quando a doença já era grave.
Termo médico(diagnóstico) nos Óbitos: raquitismo, congestão de baço e fígado, congestão cerebral, lesão cardíaca, tétano umbilical, febre perniciosa, tétano e tuberculose, renitente, bronquite, cardíaco, delirium tremens, insuficiência aórtica, acesso (tosse) pernicioso, ataxia, moléstia interna, hepatite, carcinoma do reto, gastrenterite, tísica pulmonar, pneumonia crônica, febre renitente biliosa, convulsões, febre palustre, asfixia, nefrite, caquexia palustre, caquexia cancerosa, enterite aguda, dentição, beribéri, coqueluche, carcinoma do útero, mal do umbigo em estado de putrefação, cólicas intestinais, gangrena, catarro sufocante, marasmo senil, congestão interna, peritonite aguda, moléstia do coração, cólera morbus, glicosina, congestão pulmonar, hemorragia, decreptude, mielite, moléstia hepática, varíola, disenteria crônica, insuficiência mitral, eclesia da aorta, tosse sufocante, cirrose crônica do fígado, difteria, insuficiência aórtica, abscesso do fígado, envenenamento, cancro no útero, tuberculose mensetérica, meningite, febre puerperal, tumor maligno, mal de Brecht, estupor enterite, asfixia, vermes intestinais, cardo vaso, cancro no nariz, erisipela, fibroma uterino, retenção de urina, tétano dos recém-nascidos, úlcera, fagedomina complicada de diabete, atrepsia, lesão cardíaca, meningite, ruptura de aneurisma, entero colite, hiperemia, cerebral espinhal, linfagite, hidrofasia, nefrite, angina, difteria, sanidade gestação, cólicas, úlcera gástrica, bronquite capilar, infecção purulenta, ferimento na região carotidiano (arma de fogo) endocardite, bronco pneumonia, ascite, sífilis cerebral, estreitamento aórtico, carcinoma do estômago, congestão do baço e fígado, enterocolite, moléstia da boca, disenteria bacilar, vermes intestinais, moléstia venérea.
Na minha opinião de leigo. A maioria dos nomes de doenças que o médico escreveu nos óbitos não me parece ser de causa morte em relação a medicina atual.
Fonte: Livro Registro Clínico e Estatístico Neológico do Hospital da Caridade da Bahia - Encaminhado ao Cemitério da Quinta dos Lázaros em 1869.
Relação dos gêneros alimentícios de consumo diário dos doentes e empregados do Hospital de Caridade e da Santa Casa da Misericórdia da Bahia em 1849/50.
O que seria inadequado hoje como alimento hospitalar. Caso da maioria dos gêneros citados abaixo:
Couve verde, arroz, toucinho,açúcar, farinha, farinha de trigo, farinha de tapioca, aletria, galinha, carne verde(ás vezes) carne seca, chá, café, manteiga de vaca, manteiga de porco, vinho tinto, vinagre, leite, água, sal, azeite de mamona, cevada, feijão, azeite doce, pimenta da Índia, cravo, cominho, erva doce, cebola.
Permaneceu essa alimentação em todo o século 18 até meado do século 19 foi quando entrou outros alimentos e aboliu aqueles considerados nocivos ao doente.

OBS: ESTE TEXTO É PARTE DE UMA PESQUISA MAIS AMPLA A DESENVOLVER.
Álvaro B. Marques

O SUBJUNTIVO DO TERMO(nos séculos 18,19 e 20 na Bahia)



 
Nas minhas andanças em passos incertos nas Bibliotecas, Arquivos e Centros de Memórias, encontrei muitas páginas cujos conteúdos amarelados pelo tempo mostraram-me um passado de expressões verbais que faziam parte do vocabulário da época, pronunciadas por pessoas qualificadas, era o português de Portugal com mistura de termos criado na nova terra. O Brasil ainda não era Brasil e o nativo não era brasileiro. Era a Colônia Portuguesa. Separei algumas palavras muito usadas em livros de assentamentos dos séculos 17, 18 e 19 na Bahia.
Termo:  “africano livre” por ter sido apreendido após a proibição do tráfico pela Lei de 7 de novembro de 1831, mais conhecida como “Lei Eusébio de Queirós”( Eusébio de Queirós Coutinho Matoso Câmara) “que determina a todos os escravos que entrasse no país seriam livres e que quem participasse do contrabando seria severamente punido”. Esta mesma Lei dava o direito ao Estado de deportar para a África. O que não ocorria. O tráfico continuou muito forte nos anos que seguiram. Entraram clandestinamente várias étnicas as mais conhecidas foram: Gege, Mudubi, Mina, Haussá, Tapa, Bournon, Angola, Cabinda, Filamim, Moçambique, Barbá. (Livro nº220 Assentamento de escravo da Santa Casa). O Estado usava os escravos para serviços em obras públicas e muitos prestavam serviços a instituições religiosas com responsabilidade do Governo. Era o caso da Santa Casa de Misericórdia na Bahia. “Escravos livres matriculados na Santa Casa concedidos pelo Governo para os serviços gerais em 1862”. (conforme consta no Livro de Relatório de Despesas do mês de outubro de 1864). Os africanos que serviram em estabelecimentos públicos tiveram o direito à emancipação apenas em 1864 com o Decreto de 3310 de 24.09.1864. Essa medida só fora cumprida após pressão da Inglaterra através da Lei “Bill Aberdeen” de 04 de agosto de 1850 com poderes de fiscalizar os mares da proibição do tráfico de escravos. Forçou o Governo Regente a tomar medidas duras. Como também foi conhecida “Lei Diogo Feijó – só para inglês vê”. Aqui na Bahia veio um navio para fiscalizar o porto, ficaram três dias. Mas o tráfico correu para o Recôncavo baiano.
Termo: “escravo alforriado”- quer dizer; escravo livre que comprou a sua Carta de Alforria, liberdade. Obtido a carta o liberto é chamado de “negro forro”. Existiram dois tipos de Carta de Alforria: as pagas e as gratuitas. Está última, teria que ter bom relacionamento entre o escravo e o senhor, reconhecido durante todo o período de convivência e confirmado no testamento. Mas muitos deles preferiram ficar com o seu senhor e com a sua família. A maioria trabalhava em seus ofícios e eram chamados de “trabalhos de ganhos”. Outros vendedores ambulantes.
Termo: “Crioulo ou Crioula” – designação de diferença; escravo ou escrava nascido no Brasil e que eram filhos de africanos escravos, alforriados ou libertos. Subentende também cor. CRIOULO – escravo não mestiço que nasceu na terra, brasileiro sem ainda ter a sua real identidade.
Termo: “Negro Boçal” – Refere-se ao escravo negro ainda não latino, recém-chegado da África e desconhecia a língua portuguesa e os costumes. Era rude, grosseiro.
Termo: “Cabra”  mestiço ou mulato, pejorativo do português para o nativo brasileiro para diferenciar a cor.
Termo: “Nagô” – designação lingüística muito comum na Bahia nos séculos 17, 18 e 19. Significa todos os africanos que falavam a língua yorubá. Não era uma etnia. Em geral, os nagôs vindos do centro da Costa dos Escravos, os de Oyó, Ilorin, Ijêsa, Otu, Benin etc. Era a maioria na Província da Bahia. Mas vários livros de assentamentos de escravos tem está palavra como sedo origem de nascimento.
Termo: “escravo latino” ou “negro latino”  referi-se ao escravo que falava o português e conhecia os costumes da terra. Era uma mistura de negro com europeu, denominado pessoa esperta.
Curioso Batismo – Conforme registro no Livro da Paróquia de Santana Batizado no período de 1871 a 1896 – “No dia vinte e nove de dezembro de mil e oitocentos e setenta e hum nesta Freguesia de Santana do Sacramento da Bahia. Batizei Fiel, pardo, nasceu a vinte e oito de outubro do corrente ano, já livre em virtude da Lei de vinte e oito de setembro deste mesmo ano, cuja mãe chama-se Cândida, também parda, escrava do Major Antonio de Sousa Vieira. Foi padrinho Alcino Alves Ribeiro, morador na rua do Convento da Sé, e madrinha Anna Joaquina Ribeiro, filha, familiar, por procuração que apresentou Constantino Ferreira Machado Junior. E para constar, fiz este assento em que eu assino. Cônego Joaquim Cajueiro de Campos.(Livro da Paróquia de Santana – Batizado em 1871 a 1896).
A Lei nº2040 de 28 de setembro de 1871, conhecida como “Lei do Ventre Livre” ou “Lei Rio Branco”. Esta Lei considera Livre todos os filhos de mulheres escravas nascido a partir da data da Lei. Mas permanecia sobre a custódia do dono até completar 21 anos. Um passo tímido para o fim da escravidão em 1888.
Note Bem: Os livros de Batismo dos séculos 18 e 19 em várias paróquias os vigários registravam o Batizado com os nomes dos pais quando era filho legítimo ou seja do casal e quando fosse natural só assentava o nome da mãe, o pai ignorava e não colocava o nome completo da criança ou adulto no livro. Só o primeiro nome constava exp: Maria, Paulo, Mario, etc. Outro abaixo:
“Batizei, Pedro, crioulo, filho de Francisca, escrava de D. Claudete Lobão da Mata Pires, foi padrinhos Carlos Libório e Maria Pia Libório casados tocou na Coroa. Vigário, João Machado da Cruz.(Livro nº 15 da Paróquia de Santo Antonio Além do Carmo – Batizado em 1883 a 1891).
O termo: “tocou na Coroa” significa que os padrinhos tocaram com os dedos na Coroa de NªSª de Santana do Sacramento, este ato confirma a Fé no Sacramento do Batismo e a legitimidade. Procedimento normal em todo o Batismo da época.
Termo: Meirinho – Oficial de Justiça de hoje, termo de origem português muito usado nos séculos 17, 18 e 19 no Brasil.
Termo: Cidade de São Salvador Bahia de Todos os Santos. Assim foi encontrado em documentos nos séculos passados (1847). Já havia este nome deste a sua fundação por Thomé de Sousa.
Termo: “enjeitado” ou “exposto” muito comum as expressões usadas na Santa Casa de Misericórdia da Bahia nos séculos 17, 18 e 19- Criança encontrada na “Rota” para ser criada sobre a proteção da Misericórdia. Tão logo pego a criança é avaliada no seu estado físico e cor por ex: Se era bem vestida ou não, discriminava os trajes, se tinha algum objeto de valor e se havia carta ou bilhete com recomendações ou viria somente com o 1º nome. O sobrenome geralmente a criança recebia no batismo em que acrescentava Mattos em homenagem a João de Mattos Aguiar, o grande benfeitor do Asilo das Crianças e Mulheres Desamparadas. (Livro nº2 da Roda ano 1865 a 1867).
Quando já adolescente de 10 anos acima, alugava-se menino ou menina para   determinados serviços domésticos a pedido de senhores que pagavam a Santa Casa. E ao termino do serviço o adolescente voltava para a Santa Casa que providenciava outro serviço para o mesmo. Quando completava a maior idade deixava a Santa Casa e geralmente ele ou ela recebiam um dote para custear a sua vida. Caso fosse mulher o dote seria entregue no casamento ao marido e a noiva recebia o vestido de noivado aprovado pela Mesa. Este procedimento só era para adolescente branco ou pardo o negro serviria a Santa Casa ou era negociado. Na Roda não colocavam crianças negras, ficava com a mãe escrava que tinha senhor como dono. É BOM QUE SAIBA, o dote era o dinheiro do pagamento referente aos serviços prestados do “exposto” que a Santa Casa depositava na Caixa Econômica para render juros até a maioridade do adolescente que teve merecimento nos serviços que fez para os senhores. (Livro nº1192 Lançamento dos capitais pertencendo a diversas recolhidas da Santa Casa – Retirada da Caixa Econômica a cargo da Santa Casa..) E quando não havia Bancos o dinheiro e jóias eram guardados nos cofres. O “dote” tinha algumas destinações na Santa Casa de Misericórdia da Bahia, por ex: “Recebeu o dote de 500$000 mil réis Firmino Mattos do legado do Conde Pereira Marinho na verba 44 do seu testamento”. (Conforme consta no livro 4 da caixa dos depósitos em 11 de agosto de 1882/1892).
Havia caso que o exposto recebia a metade do dote no termino do contrato com a Santa Casa, por ter havido despesas na sua permanência antes do contrato e o mesmo se aplica com a mulher antes do casamento.
A criança abandonada era um problema social. Principalmente no período da epidemia do Cólera morbus em 1855 a 1856 quando morreram crianças e adultos. A criança órfã geralmente ia para as Casas Pias. E depois veio a guerra do Paraguai em 1864 a 1870 cujo governo obrigou a força para que os homens fossem a guerra. Causando com isso, muita desarticulação familiar, ficando a mãe com vários filhos sem meio para o sustento e a miséria assolando. A viúva recorre ao Governo para obter ajuda financeiro é negado mas indica a Santa Casa ou outros recolhimentos já existente. Poucas mães tinham de volta os seus filhos e outras abandonavam a sorte da criança.
Muitos garotos de 12 e 13 anos vão para a Escola de Aprendiz Artífices da Marinha e não mais retorna a Santa Casa. Outros são contratados por comerciantes e alguns são adotados por famílias ricas para fazer serviços domésticos sem despesas para a Santa Casa de Misericórdia.(Fonte: Livro nº1216 saída dos expostos de 1870 a 1895).

Termo: Banguê, padiola para transportar cadáveres, bagaço de cana, materiais diversos. Constitui de duas varas de paus roliços presos nas laterais da lona ou tecido grosso, resistente, formando uma cama de abrir e fechar, transportado por duas pessoas. Era o transporte de indigente e escravo defuntos, muito usado até o final do século 19 na Bahia. Consta no livro “Banguê” de José Lins do Rêgo.
Termo: Carroça – No Período Colonial do Brasil era comum este meio de transporte; a carroça é uma caixa de madeira sólida, aberta ou fechada colocada sobre eixos entre rodas de madeira. Puxada por tração animal, podendo ser bois, cavalos ou jegues. Muito usado nos Engenhos, fazendas, chácaras e nas cidades para o transporte de mercadorias e uso geral. Hoje é mais freqüente no meio rural. Foi daí que surgiu o transporte de passageiro.
Termo: Cadeira de Arruar – Assim chamado por escravos e senhores como transporte. “Era carregada suspensa por dois negros africanos bastantes fortes, alguns bem vestidos conforme o luxo do veículo. Havia assento para uma ou duas pessoas. Por muito tempo a “cadeirinha de arruar” constituiu o único meio de condução, entre os baianos nos ombros dos africanos chamados de “carregadores de cadeira”. A princípio era a cadeira privilégio dos fidalgos, magistrados, médicos clínicos, professores notáveis, senhores de Engenhos, comerciantes, cônegos e vigários, enfim, tornou-se o distintivo do poder financeiro. Nem todos podiam manter certo número de escravos, reservados para o serviço exclusivo da “cadeirinha” eles custavam hum conto de réis. As cores vivas e os ornatos da libré dos carregadores, já dizia quem  ia ali (Fonte: Livro “Cantando e Rindo”- Lulú Perola – 1866 á 1942 pub. Em Salvador/ Ba. em 1952.)
Termo: Presiganga – Navio presídio, antiga fragata encalhada no mar. Utilizado pelo Governo luso-brasileiro na década de 1830 e administrada pela Marinha. Era local de castigo aos presos e aos recrutas encaminhados a força entre a população mais pobre. Nesta masmorra do mar, foi preso o lendário revolucionário “Cipriano Barata”- Cipriano José Barata de Almeida (nasceu na Bahia em 26.09.1762 e morreu em Natal em 07.06.1838) era  médico e político brasileiro o mais atuante em sua época em combate em favor da Independência do Brasil. “O presídio era um local infecto, imundo, quente e salubre em maré cheia o navio ancorado enchia as dependências de água até a cintura dos presos em convivência com caranguejos e mariscos peçonhentos o que levava a muitos à loucura.”
Termo: Aljube quer dizer prisão ou cárceres do Foro eclesiástico – local de prisão dos padres que pertencia a Miltra Metropolitana. Mas, esta exclusividade foi extinta e o presídio abrigou condenados de várias procedências sociais.
Termo: Bonde, assim chamado pelo povo. Era o transporte popular responsável pelo tráfego em determinadas ruas. Veículo movido a tração animal, depois criaram outro sistema em atração elétrica, mas permaneceu o mesmo nome.
Termo: Archote: - Facho de palha grossa, tipo funil, transparente ou qualquer outro recipiente que conduz luz, cordão untado de breu ou óleo de mamona, muito usado na época para iluminação, o povo carregava em acompanhamento de préstito de cortejo religioso.
Termo: Pendão – Bandeira, estandarte; carregado por pessoas nas procissões e nas festas cívicas.
Termo: Tostão, moeda divisória em cunhagem de cobre, foi circular em 1918 para facilitar o troco cujo valor era de 100 réis.
Termo: Vintém, moeda que valia vinte réis, cunhagem de níquel.
Termo: Ex- Voto significa milagre alcançado pelo devoto, objeto expostos na sala interna das Igrejas, ver na Igreja do Bonfim e outras Igrejas tradicionais.
Termo: Castiçal, utensílio de prata ou de alumínio para carregar vela, usado em Igreja e residência particular.
Termo: Pataca, moeda que circulou em mais tempo no Brasil em 1695 a 1834 de prata do valor de 320 réis.
Termo: Tina, recipiente de madeira para armazenar água. Utensílio doméstico.
Termo: Caixão, mortuário.
Termo: Vigário ou padre da paróquia, párago.
Termo: Chapéu de sol ou guarda-chuva de pano de seda.
Termo: Caixeiro, vendedor de loja em balcão.
Termo: Tamanco, calçado grosseiro de madeira mole com tira de couro.
Termo: Coveiro, aquele que faz cova no cemitério.
Termo: Chilique, desmaio, ataque nervoso.
Termo: Camisola, camisa longa para dormir.
Termo: Gás; combustível querosene. Muito usado na época.
Termo: Caloteiro; aquele que não paga.
Termo: Rapazola, rapaz crescido; garotão.
Termo: Baticum, batida no tambor ou em qualquer lugar que produza som.
Termo: Lorota, mentira, pessoa avesso a história.
Termo: João Ninguém, pessoa que não faz nada e não tem nada como viver.
Termo: Tinteiro, recipiente de vidro que contém tinta para escrever. Geralmente molhado no “bico de pena” ou de “bico de aço” chamado também de “bico de escrever”.
Termo; Caiação, pintura na parede ou no teto da casa com brocha e cal virgem diluído na água, forma á tinta.
Termo: Samba arrojado, com pratos de louça batendo com os cabos das colheres ou com a faquinha de cortar fumo. As negras e crioulas dançavam com os pés descalços levantando a poeira do chão. Balançando a saía rodada no giro dos movimentos. É samba de roda e os negos assanhados tocando as suas músicas.
Termo: Vexame, momento difícil em que a pessoa não pode se expressar, embaraço.
Termo: Chibante, pessoa que se mostra com muito orgulho.
Termo: Sarau, festa noturno, reunião festiva em casa particular com amigos ou entre as sessões de teatro.
Termo: Almotacés; pessoa encarregada de controlar a qualidade dos produtos vendidos nos mercados populares e nas ruas, vendeiras. Fiscalizar os preços e medidas as condições de higiene. Funcionário da Câmara Municipal.
Termo: Trabalhador de Ganho; escravo liberto que fazia serviços gerais por conta própria, chamado também de "carregador". Termo: Artífice; profissional que trabalhava na profissão especializada: Artesão, pintor, mecânico, barbeiro, ourives, alfaiate, carpinteiro, funileiro, armador, calafate, pedreiro, etc.




Pesquisa - Álvaro B. Marques

sábado, 4 de maio de 2013

GLOSSÁRIO BAIANO NO TEMPO ANTIGO



As palavras expressadas regionalmente têm tendência de mudanças em sentido. Ao passar do tempo criam-se outras, assim veremos abaixo, palavras e frases ditas em épocas remotas em Salvador.
Genzo – pessoa escabreado, de cabeça baixa, envergonhado.
Malandréus – malandro, desocupado.
Farrancho – Préstito, acompanhamento de pessoas, procissão.
Véu da infâmia – Véu ou pano transparente que cobria o rosto da viúva com a roupa preta, luto fechado por hum ano.
Gente apatacado – pessoa que tinha dinheiro, rico ( 1 pataca valia 320réis)
Passou um rabo do olho – Olhou no canto do olho.
Arrabalde – Local distante do centro da cidade, bairro.
Gás – Assim chamado o querosene, combustível de primeira necessidade, vendido em lata de 18 ltº ou a granel nos armazéns ou quitandas, utilizado nas residências para aquecer alimentos e usado como combustível nos candeeiros residenciais e públicos.
Pelada – jogo de Futbool ou baba.
Assustado – baile improvisado.
Refrescar a garganta – beber um cálice de licor ou cachaça.
Banho salgado – o mesmo que banho de mar.
Jereré – armadilha de pesca, principalmente para siri ou caranguejo.
Jegue – burro animal de carga ou jumento, muito usado no Norte e Nordeste brasileiro.
Caindo de ataque – chilique, manifestação de histerismo ou “cair de ataque”.
Queimado – bala de açúcar e mel.”
Cocada – Referi-se a pessoa que leva e traz recado ou bilhete de namorados. Não confundir com doce de côco.”
Picúla – Brincadeira de infância, chamada também de chicotinho queimado ou brincar de pique.”
Pongar no bonde – Tomar o veículo em movimento.” “Despongar do bonde – descer da mesma forma”.
Flerte – ou “tirar linha”, maneira de “paquerar” inicio de namoro.
Barrigão – “Cair no barrigão”. Diz da moça que não se casou e já tem trinta anos, pois dificilmente o conseguirá depois dessa idade.”
Pataguás ou Mocós – Cestos flexíveis. Quando vazio, pode ser enrolado. Usam as donas de casa para irem á feira ou fazer qualquer compra. Utensílio doméstico, confeccionado em palha seca de folha de coqueiro ou palmeira, em tiras, tamanho desigual. Mesmo material que se fábrica as famosas esteiras de fibra.”
Purrão – Utensílio doméstico de cerâmica para armazenar água (moringa, quartinha, alguidar, panela, frigideira, talhas) todas essas cerâmicas são de uso doméstico na cozinha do povo nordestino. Fabricação de origem indígena. Normalmente esses objetos são desenhados em alto relevo”.
“Fifó – Espécie de candeeiro rústico, artesanal, de folha de flandres com um pavio de algodão trançado, alimentado a querosene.”
Caçuá – É uma espécie de cesta utensílio de fibra de palmeira ou coqueiro. Também chamado de balaio. Muito usado por vendedores ambulantes para transporte de vários tipos de mercadorias.”
Fruta Tocada – Expressão de qualificação de frutas ou legumes, parcialmente apodrecidos”.
Beber Concertada -  Infusão de cachaça com cebola branca, gengibre, arruda, losna, cominho, pimenta do reino e poejo. Que se administra à parturiente, após parto, para “limpar” o humo interno. Como também se oferecia ao visitante, nesta ocasião. As senhoras que não queriam beber a “Concertada” aceitavam café com “fatia de parida” ou seja a conhecida rabanada do carioca oferecida no Natal”.
Nigrinha – Termo usado em sentido pejorativo, significa pessoa afeita a intrigas e picuinhas,  pode ser dito para negra ou branca. Para o homem que assim procede, diz-se: que é um nigrinha, refere-se a negrinhagem é ação própria de quem é nigrinha.”
Toda Concha – Expressão de contente, satisfeita ao mesmo tempo orgulhosa.”
Saliente ou saída – dito popular. Quer dizer: sapeca, sirigaita, debochando. Individuo desinibido.”
Mulher Dama – prostituta.”
Sair de Casa – quer dizer, “perder-se”, dar um mal passo com o namorado, fugir de casa.”
Forrobodó – quer dizer, festa ruidosa, espécie de farra com samba, mulheres e bebidas.”
Tarêutica – Arte de confeccionar em madeira, chamado de torêuta ou artesã.
Zunzunzum – quer dizer, comentários em pé de ouvidos, geralmente maldosos.”
“Sentinela – Ato de velar defunto – velório.”
Marquesa – Cama antiga em estilo renascentista.”
Mane Velho – Cognome de Manuel, já idoso ou nome de fruta regional.”
N.B: Frases extraídas do livro: “Itapagipe” – autor: Hermano Requião. Pub. Em 1949/Rio de Janeiro – livr. José Olímpio editora.
“Fiofó – É a mesmo que “bunda”, “nádegas” “olha o fiofó da nega”.
“Calundu – Expressão usada pelos pretos africanos na Bahia até o século XIX, quer dizer: zangado, aborrecido, de mau humor.”
Mulambo – Coisa velha imprestável, trapo de panos.”
“Macriação – termo usado para a criança mal educada por adulto. Designativo de reprovação.”
“Matinê – ir ao cinema no horário vespertino, ou a qualquer espetáculo no horário da tarde.”
Chamego – Namoro veja nesta frase: “ Eu era o chamego da vovó” a quem ela gostava muito. Mesmo que, xodó; o predileto, queridinho (infantil).”
Alçapão – Compartimento interno que existia em determinada casa-grande para prender escravo rebelde, geralmente fica no assoalho da casa. Também dito como armadilha para animais. 
Xilindró- prisão, cadeia.
Abano – objeto confeccionado em palha seca, serve para agitar o ar, substitui o leque.
Alguns Apelidos de pessoas íntimas pejorativo:
“Caxinguelê, Miruca, Curriaboque, Inocêncio Beiçola de Quilo, Perereco, Nono, Cabeça de Cuia, Nego Chico, Jonas Venta de Jéque, Santinho Pé de Colher, Boca de Panela, Dondôla, Arrepiado, Chulé, Chico da Burra, Pedro Veneta, Cavanhaque de Bode, Zé Povinho. Zabelê, Mutamba.
Significando Frases:
Pastilha de Hortelã – Bala com menta, guloseima para criança.”
Óleo de Rícino – Óleo de mamona – os pais obrigavam aos filhos beberem o dito óleo quando os mesmos sentiam-se com dores no estômago ou má digestão, servindo de remédio laxativo.”
“Xereta – Designação de uma pessoa a delatar outra, ou mesmo que fuxicar ou bajulação, abelhudo, fofoqueiro, criador de caso.”
Moça donzela – Diz-se da moça virgem e que nunca namorou, nunca casou e que ainda está virgem.”
“Banheira – A molecada dizia em referência a chegada do carro de polícia: “ Lá vem a banheira ou “lá vem a carrocinha”(caminhonete da polícia)”
Macaco da polícia – refere-se a guarda policial, naquela época quase todos os policiais eram pretos descendentes diretos de escravos. Função que o branco não queria.”
Mandinga – Feitiço, despacho; mandingueiro pessoa que faz o feitiço”.
Judiação – Ato de judiar uma pessoa, atormentar; perversidade; “Vão tirar a pele do diachinho de tanta judiação”.
Chicano – Ato de não aprovação, fazer pouco a acreditar. Falar mal de outro com menosprezar.”
“Paletando – Atitude em ir andando, caminhando”.
Fazendo gatimonha – expressão de meiguice.”
Muxoxo – expressão de estalo com a língua e os lábios. Usado como fazer pouco caso.”
“Farromba – Dito popular para pessoas que se diz ou se auto estima, valoriza-se e menospreza.”
Lambaio – Dito popular para individuo que “puxa saco” do patrão ou do chefe.”
Carão – Palavra designada para a pessoa que foi repreendida, ralho, cara grande.”
“Bangalô – Casa grande ou casa de praia; expressão usada como sendo “casa chique” de rico.”
Lero-lero – quer dizer; conversa mole.”
Badofe – Comida vendida na rua por mulheres chamadas de “vendeira”.
Dia do São Nunca – quer dizer; nunca vai acontecer.”
Pinóia – coisa que não presta. “Ah! Que pinóia!...”
Abismada.- masc. Ou fem. Expressão de admiração, assombrado, espantado.”
“Aperriado – inquieto, nervoso, aborrecido, impaciente.”
Gasosa – dito para refrigerante ou qualquer outra bebida gaseificada.”
Empapuçado – expressão referente ao rosto cheio, redondo e avermelhado ou inchado intumescido.”
“Pinico – ou urino, recipiente para urinar, muito usado nas casas que não tinham sanitários. Visto no Norte e Nordeste, expressão comumente usada até o meado do século XX. As famílias usavam o “pinico” embaixo da cama. Principalmente a noite.”
“Bugiganga – referi-se a pessoa que está carregando muitas coisas inservíveis ou objetos miúdos.”
Tabaréu – homem, mulher tabaroa, ser matuto de fala roceira.
Burundum de tambores – referencia a toques de tambores, som extraído de instrumento de percussão.”
“Pereba – expressão popular – “Fulano está todo perebento” quer dizer: Cheio de feridas.”
Borocoxô – Diz da pessoa muito idosa e que não faz mais nada.”Velho borocoxô” ou refere-se a pessoa triste “o que é que você tem que está tão borocoxô?”
Molho de Nagô – É molho de pimenta, limão, quiabo, cebola, camarão seco. Mistura tudo e soca. Depois bota para servir.”
Crioula – Mulher em trajes típico de filha de santo ou trajes de baiana. Como também pode-se dizer mestiça, mulata(filha de negra com branca) ou Crioulo, negro nascido no Brasil.”
Punheta s.f. – masturbação. Nome que as vendedoras de quitutes diziam da famosa iguaria de bolo de arroz com formato cilíndrico, tostado ao fogo, também chamado de “bolinho de estudante” – preparo com mandioca.”
“Borocotó – Local de difícil acesso, longe do centro, rua cheia de buracos.”
Mucumbu – Nádega ou guijila de nega jeja. Assim chamado pelo tamanho exagerado.”
Mufo – Peça de roupa ordinária, roupa de gente pobre”.
Quitandeira e Quitandeiro – Eram assim chamadas as pessoas que tinham Kiosque ou Quitanda. Ponto de venda. Geralmente os donos eram negros ou negras africanas ou seus descendentes. Alí se vendia de tudo um pouco. Frutas, legumes, carne animal e etc. Termo muito usado no século XIX, na Bahia.”
Manduba – Instrumento musical – tipo pandeiro. Expressão usada por escravos Minas e Mandingas.”
“Realejo – Instrumento de sopro.”
Gamela – Vasilhame de madeira ou de barro, muito usado na procura de ouro, os chamados “faiscadeiros” em minas de ouro. Como também, os índios e escravos usavam como utensílio doméstico.”
Nagô – A palavra Nagô referiu-se a todos os africanos que falavam a língua yorubá na Bahia.”
Cacimba – Trabalho de feiticeiro.
Babálaô – Mestre adivinho  (aquele que mexia com os sete búzios, lia no espelho do aço e via na bacia de água cristalina).
Ilú-ayê - Cantiga de orixá.
Abeludo – pessoa que tem a curiosidade de olhar o que não deve.
Fatiota – vestido com roupa branca, engomada (roupa nova de festa).
Zuada – vários batuques, não é música.
Ciroula - cueca masculina(roupa intima)
Calçola - calcinha roupa intima da mulher, só que antigamente o tamanho era bem maior.
Bingola - nome do pênis.
Arrelia - discórdia, brincadeira, gozação, vaia.
Vadiar - se divertir, não trabalhar, vida ociosa.
Afobação - apressado
Bozo - Palavra "nagô" muito usado no Candomblé na Bahia - referi-se a "despacho de rua".


Bibliografia: “Falares africano na Bahia” – vocabulário afro-brasileiro – autora: Yeda Pessoa de Castro. – “Meu Menino” autor: Antonio Joaquim de Souza Carneiro.- “Bêabá da Bahia – autor José Valadares.Pesquisas com pessoas em campo.



Pesquisa de Álvaro B. Marques