sábado, 4 de maio de 2013

GLOSSÁRIO BAIANO NO TEMPO ANTIGO



As palavras expressadas regionalmente têm tendência de mudanças em sentido. Ao passar do tempo criam-se outras, assim veremos abaixo, palavras e frases ditas em épocas remotas em Salvador.
Genzo – pessoa escabreado, de cabeça baixa, envergonhado.
Malandréus – malandro, desocupado.
Farrancho – Préstito, acompanhamento de pessoas, procissão.
Véu da infâmia – Véu ou pano transparente que cobria o rosto da viúva com a roupa preta, luto fechado por hum ano.
Gente apatacado – pessoa que tinha dinheiro, rico ( 1 pataca valia 320réis)
Passou um rabo do olho – Olhou no canto do olho.
Arrabalde – Local distante do centro da cidade, bairro.
Gás – Assim chamado o querosene, combustível de primeira necessidade, vendido em lata de 18 ltº ou a granel nos armazéns ou quitandas, utilizado nas residências para aquecer alimentos e usado como combustível nos candeeiros residenciais e públicos.
Pelada – jogo de Futbool ou baba.
Assustado – baile improvisado.
Refrescar a garganta – beber um cálice de licor ou cachaça.
Banho salgado – o mesmo que banho de mar.
Jereré – armadilha de pesca, principalmente para siri ou caranguejo.
Jegue – burro animal de carga ou jumento, muito usado no Norte e Nordeste brasileiro.
Caindo de ataque – chilique, manifestação de histerismo ou “cair de ataque”.
Queimado – bala de açúcar e mel.”
Cocada – Referi-se a pessoa que leva e traz recado ou bilhete de namorados. Não confundir com doce de côco.”
Picúla – Brincadeira de infância, chamada também de chicotinho queimado ou brincar de pique.”
Pongar no bonde – Tomar o veículo em movimento.” “Despongar do bonde – descer da mesma forma”.
Flerte – ou “tirar linha”, maneira de “paquerar” inicio de namoro.
Barrigão – “Cair no barrigão”. Diz da moça que não se casou e já tem trinta anos, pois dificilmente o conseguirá depois dessa idade.”
Pataguás ou Mocós – Cestos flexíveis. Quando vazio, pode ser enrolado. Usam as donas de casa para irem á feira ou fazer qualquer compra. Utensílio doméstico, confeccionado em palha seca de folha de coqueiro ou palmeira, em tiras, tamanho desigual. Mesmo material que se fábrica as famosas esteiras de fibra.”
Purrão – Utensílio doméstico de cerâmica para armazenar água (moringa, quartinha, alguidar, panela, frigideira, talhas) todas essas cerâmicas são de uso doméstico na cozinha do povo nordestino. Fabricação de origem indígena. Normalmente esses objetos são desenhados em alto relevo”.
“Fifó – Espécie de candeeiro rústico, artesanal, de folha de flandres com um pavio de algodão trançado, alimentado a querosene.”
Caçuá – É uma espécie de cesta utensílio de fibra de palmeira ou coqueiro. Também chamado de balaio. Muito usado por vendedores ambulantes para transporte de vários tipos de mercadorias.”
Fruta Tocada – Expressão de qualificação de frutas ou legumes, parcialmente apodrecidos”.
Beber Concertada -  Infusão de cachaça com cebola branca, gengibre, arruda, losna, cominho, pimenta do reino e poejo. Que se administra à parturiente, após parto, para “limpar” o humo interno. Como também se oferecia ao visitante, nesta ocasião. As senhoras que não queriam beber a “Concertada” aceitavam café com “fatia de parida” ou seja a conhecida rabanada do carioca oferecida no Natal”.
Nigrinha – Termo usado em sentido pejorativo, significa pessoa afeita a intrigas e picuinhas,  pode ser dito para negra ou branca. Para o homem que assim procede, diz-se: que é um nigrinha, refere-se a negrinhagem é ação própria de quem é nigrinha.”
Toda Concha – Expressão de contente, satisfeita ao mesmo tempo orgulhosa.”
Saliente ou saída – dito popular. Quer dizer: sapeca, sirigaita, debochando. Individuo desinibido.”
Mulher Dama – prostituta.”
Sair de Casa – quer dizer, “perder-se”, dar um mal passo com o namorado, fugir de casa.”
Forrobodó – quer dizer, festa ruidosa, espécie de farra com samba, mulheres e bebidas.”
Tarêutica – Arte de confeccionar em madeira, chamado de torêuta ou artesã.
Zunzunzum – quer dizer, comentários em pé de ouvidos, geralmente maldosos.”
“Sentinela – Ato de velar defunto – velório.”
Marquesa – Cama antiga em estilo renascentista.”
Mane Velho – Cognome de Manuel, já idoso ou nome de fruta regional.”
N.B: Frases extraídas do livro: “Itapagipe” – autor: Hermano Requião. Pub. Em 1949/Rio de Janeiro – livr. José Olímpio editora.
“Fiofó – É a mesmo que “bunda”, “nádegas” “olha o fiofó da nega”.
“Calundu – Expressão usada pelos pretos africanos na Bahia até o século XIX, quer dizer: zangado, aborrecido, de mau humor.”
Mulambo – Coisa velha imprestável, trapo de panos.”
“Macriação – termo usado para a criança mal educada por adulto. Designativo de reprovação.”
“Matinê – ir ao cinema no horário vespertino, ou a qualquer espetáculo no horário da tarde.”
Chamego – Namoro veja nesta frase: “ Eu era o chamego da vovó” a quem ela gostava muito. Mesmo que, xodó; o predileto, queridinho (infantil).”
Alçapão – Compartimento interno que existia em determinada casa-grande para prender escravo rebelde, geralmente fica no assoalho da casa. Também dito como armadilha para animais. 
Xilindró- prisão, cadeia.
Abano – objeto confeccionado em palha seca, serve para agitar o ar, substitui o leque.
Alguns Apelidos de pessoas íntimas pejorativo:
“Caxinguelê, Miruca, Curriaboque, Inocêncio Beiçola de Quilo, Perereco, Nono, Cabeça de Cuia, Nego Chico, Jonas Venta de Jéque, Santinho Pé de Colher, Boca de Panela, Dondôla, Arrepiado, Chulé, Chico da Burra, Pedro Veneta, Cavanhaque de Bode, Zé Povinho. Zabelê, Mutamba.
Significando Frases:
Pastilha de Hortelã – Bala com menta, guloseima para criança.”
Óleo de Rícino – Óleo de mamona – os pais obrigavam aos filhos beberem o dito óleo quando os mesmos sentiam-se com dores no estômago ou má digestão, servindo de remédio laxativo.”
“Xereta – Designação de uma pessoa a delatar outra, ou mesmo que fuxicar ou bajulação, abelhudo, fofoqueiro, criador de caso.”
Moça donzela – Diz-se da moça virgem e que nunca namorou, nunca casou e que ainda está virgem.”
“Banheira – A molecada dizia em referência a chegada do carro de polícia: “ Lá vem a banheira ou “lá vem a carrocinha”(caminhonete da polícia)”
Macaco da polícia – refere-se a guarda policial, naquela época quase todos os policiais eram pretos descendentes diretos de escravos. Função que o branco não queria.”
Mandinga – Feitiço, despacho; mandingueiro pessoa que faz o feitiço”.
Judiação – Ato de judiar uma pessoa, atormentar; perversidade; “Vão tirar a pele do diachinho de tanta judiação”.
Chicano – Ato de não aprovação, fazer pouco a acreditar. Falar mal de outro com menosprezar.”
“Paletando – Atitude em ir andando, caminhando”.
Fazendo gatimonha – expressão de meiguice.”
Muxoxo – expressão de estalo com a língua e os lábios. Usado como fazer pouco caso.”
“Farromba – Dito popular para pessoas que se diz ou se auto estima, valoriza-se e menospreza.”
Lambaio – Dito popular para individuo que “puxa saco” do patrão ou do chefe.”
Carão – Palavra designada para a pessoa que foi repreendida, ralho, cara grande.”
“Bangalô – Casa grande ou casa de praia; expressão usada como sendo “casa chique” de rico.”
Lero-lero – quer dizer; conversa mole.”
Badofe – Comida vendida na rua por mulheres chamadas de “vendeira”.
Dia do São Nunca – quer dizer; nunca vai acontecer.”
Pinóia – coisa que não presta. “Ah! Que pinóia!...”
Abismada.- masc. Ou fem. Expressão de admiração, assombrado, espantado.”
“Aperriado – inquieto, nervoso, aborrecido, impaciente.”
Gasosa – dito para refrigerante ou qualquer outra bebida gaseificada.”
Empapuçado – expressão referente ao rosto cheio, redondo e avermelhado ou inchado intumescido.”
“Pinico – ou urino, recipiente para urinar, muito usado nas casas que não tinham sanitários. Visto no Norte e Nordeste, expressão comumente usada até o meado do século XX. As famílias usavam o “pinico” embaixo da cama. Principalmente a noite.”
“Bugiganga – referi-se a pessoa que está carregando muitas coisas inservíveis ou objetos miúdos.”
Tabaréu – homem, mulher tabaroa, ser matuto de fala roceira.
Burundum de tambores – referencia a toques de tambores, som extraído de instrumento de percussão.”
“Pereba – expressão popular – “Fulano está todo perebento” quer dizer: Cheio de feridas.”
Borocoxô – Diz da pessoa muito idosa e que não faz mais nada.”Velho borocoxô” ou refere-se a pessoa triste “o que é que você tem que está tão borocoxô?”
Molho de Nagô – É molho de pimenta, limão, quiabo, cebola, camarão seco. Mistura tudo e soca. Depois bota para servir.”
Crioula – Mulher em trajes típico de filha de santo ou trajes de baiana. Como também pode-se dizer mestiça, mulata(filha de negra com branca) ou Crioulo, negro nascido no Brasil.”
Punheta s.f. – masturbação. Nome que as vendedoras de quitutes diziam da famosa iguaria de bolo de arroz com formato cilíndrico, tostado ao fogo, também chamado de “bolinho de estudante” – preparo com mandioca.”
“Borocotó – Local de difícil acesso, longe do centro, rua cheia de buracos.”
Mucumbu – Nádega ou guijila de nega jeja. Assim chamado pelo tamanho exagerado.”
Mufo – Peça de roupa ordinária, roupa de gente pobre”.
Quitandeira e Quitandeiro – Eram assim chamadas as pessoas que tinham Kiosque ou Quitanda. Ponto de venda. Geralmente os donos eram negros ou negras africanas ou seus descendentes. Alí se vendia de tudo um pouco. Frutas, legumes, carne animal e etc. Termo muito usado no século XIX, na Bahia.”
Manduba – Instrumento musical – tipo pandeiro. Expressão usada por escravos Minas e Mandingas.”
“Realejo – Instrumento de sopro.”
Gamela – Vasilhame de madeira ou de barro, muito usado na procura de ouro, os chamados “faiscadeiros” em minas de ouro. Como também, os índios e escravos usavam como utensílio doméstico.”
Nagô – A palavra Nagô referiu-se a todos os africanos que falavam a língua yorubá na Bahia.”
Cacimba – Trabalho de feiticeiro.
Babálaô – Mestre adivinho  (aquele que mexia com os sete búzios, lia no espelho do aço e via na bacia de água cristalina).
Ilú-ayê - Cantiga de orixá.
Abeludo – pessoa que tem a curiosidade de olhar o que não deve.
Fatiota – vestido com roupa branca, engomada (roupa nova de festa).
Zuada – vários batuques, não é música.
Ciroula - cueca masculina(roupa intima)
Calçola - calcinha roupa intima da mulher, só que antigamente o tamanho era bem maior.
Bingola - nome do pênis.
Arrelia - discórdia, brincadeira, gozação, vaia.
Vadiar - se divertir, não trabalhar, vida ociosa.
Afobação - apressado
Bozo - Palavra "nagô" muito usado no Candomblé na Bahia - referi-se a "despacho de rua".


Bibliografia: “Falares africano na Bahia” – vocabulário afro-brasileiro – autora: Yeda Pessoa de Castro. – “Meu Menino” autor: Antonio Joaquim de Souza Carneiro.- “Bêabá da Bahia – autor José Valadares.Pesquisas com pessoas em campo.



Pesquisa de Álvaro B. Marques



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