quinta-feira, 5 de julho de 2012

CORISCO E DADÁ - PRISÃO E MORTE


Fatos da verdade histórica.

A História do “cangaço” no Nordeste foi revestido de muitas narrativas folclóricas  que nos leva a dúvidas em sua  veracidade. Mas, a História confirmada por pessoa  idôneo e militar que participou da organização do combate aos “cangaceiros”,  traz muito mais  autenticidade aos fatos,  lemos abaixo a ocorrência:
“Conforme a transcrição de ofício nº62 na íntegra, com data de 19 de março de 1940 no Distrito de Bebedouro, Município de Jeremoabo interior da Bahia. Foi constatado no relatório do Cap. Felipe Borges de Castro no Quartel em Paripiranga quando da sua viajem para essa zona constatou o abandono e a falta de estrutura na direção daquelas terras. Nota-se que as crianças cujas vidas estão condicionadas aos horrores do “cangaço” criminoso. Não há escolas funcionando, nem ofício, nem arados. Ali, só o bacamarte, conduzido por mãos assassinas, doutrina e exemplifica. A escola pública, o Governo dispensa certa importância, não há aulas. O passa tempo favorito das crianças é imitar os “cangaceiros” nas vestes e nas artes. Os adultos não têm muito o que fazer, promovem rodinhas de conversas, geralmente é sobre os feitos dos cangaceiros.
Merece lembrar um fato ocorrido há bem pouco tempo em Jeremoabo, cujo desfecho fatal foi a morte de um menino em que até hoje é lamentado e consterna os corações dos moradores: “Brincavam Raimundo e Miguel, quando este último, fingindo-se “bandido” empunha uma arma encontrada sobre a mesa da casa da sua residência, e dispara inocentemente, contra o seu companheiro. Eis quando, o infeliz garoto, estarrecido pela brutal surpresa do disparo da arma, e em seguida vê diante de si, tombar sem vida, ao solo, o seu amigo e vítima. Fato este provocado pelo meio em que vive o povo, motivado pelo bandidismo exaltado e respeitado do “cangaço”criminosos dos bandidos que moram neste local. Basta serem 22 cangaceiros, presos cujos nomes vão a lista em separado.
Certificado: Para o devido conhecimento, certifica-se que: O bandido “cangaceiro” vulgo “Corisco” cujo nome de batismo é Cristiano Gomes da Silva, morto em combate conforme relatório ofício e capturado Sérgia Maria de Jesus vulgo “Dada” mulher de “Corisco”, apreendendo em poder desta a menor Josefa Erondina de Almeida, com 12 anos presumíveis, filha de Braz Francisco de Almeida, residente em Bebedouro, Município de Jeremoabo. Neste combate foram gastos várias munições para rifles, metralhadora, pistola e colt modelo 1908. O corpo de “Corisco” foi transportado para o Distrito de Djalma Dutra, pra ser sepultado. A “Dada” foi entregue aos cuidados médicos, tendo sido amputado a sua perna direita, visto ter sido baleado no pé e deu gangrena. Com eles foram apreendido os objetos constantes na relação abaixo se transcrevem:
“Os valores da relação foram entregues ao Exmº. Sr.Dr.Secretário da Segurança Pública pelo 2º Ten. José Osório de Freitas e as declarações de “Dada” e Josefa ao Cap. Salomão do Nascimento Rehem, Delegado Especial do Nordeste. Os objetos apreendidos em poder do bandido “Corisco” e de sua companheira “Dada” frutos de assaltos e roubos em fazendas e chácaras nordestinas, dos quais faço entrega ao Cap. Salomão:
1 – Armas: parabelum, colt. 7mm com 3 cartuchos, 1- pistola colt. Calibre 45 com 20 cartuchos, 2- punhais. Jóias: 1- grande trancelim de ouro com uma moeda de prata de $500 réis encravado no circulo em ouro, 1- águia, 1- figa e um balangandan, tudo em ouro. Outro trancelim de ouro, 1- anel de ouro de tamanho regular, 3- anéis de ouro, tamanho regular, cravejado de brilhantes, 2- águias de ouro, 1- cruz de ouro, 8- botões de ouro para enfeites de chapéu feminino. 3- chapas de abotoaduras com formatos de pés em ouro, 21- contas de ouro, 2- pares de brincos de ouro, 1- peça de ouro com os olhos de Santa Luzia, 1- coração de ouro, 2 – brincos de ouro incompletos,  1 – Verônica de prata com a efígie de Santo Antonio, 1 – relógio comum, 19 enfeites de metal para bandoleira, dinheiro em células (945$000) novecentos e quarenta e cinco mil réis.”
Outros objetos com e sem valores comercias:
“ 5 – burros, 1 – sela, 1 – Bride de ferro, 1 – cabeção, 2 – pares de buacas de couro cru, 1- máquina de costura “Singer” de mão, 5 – cortes de brim, 1 -  uniforme de brim, 1 – par de sapatilha, 5 – pares de talheres de metal, 5 -  pares de colheres de metal branco, 1 – corte de fustão rosa, 3 – metros de tussor, 3 metros de bulgarina rosa, 2 – metros de opalina rosa, 2 – metros de zefir, 1 – par de sandália trançadas de couro, 1 – fronha bordada, 2 – pires de louça, 4 – xícaras, 4 carretéis de linha branca, 2 – vidros de pílulas de Bristol, 1 – tesoura, 1 – bastidor, 6 – lençóis brancos grande, 3 – metros de algodãozinho, 2 – lonas de borracha.
OBS: Os 5 burros, 1 sela, 1 brida e 1 cabeção, foram remetidos ao Sr.Cap. Felipe Borges de Castro, Cmt. Do D-NE para serem entregues aos respectivos donos. Cidade de Djalma Dutra, 28 de maio de 1940. Assinado: Ten. José Osório de Farias – Cmt. Col. Volante.
NOTA.:”Os demais objetos constantes desta relação devem ser entregues pelo Sr. Ten. José Osório de Farias ao Sr. Dr. Delegado da Ordem Social.
Djalma Dutra, 1º junho de 1940 – Cap. Felipe Borges de Castro – Cmt. D-E.”
Com este relatório acima tão especifico e comprobatório não tenho a menor dúvida da História final do “cangaço” na Bahia.
FONTE DA PESQUISA.
Arquivo Geral da Polícia Militar da Bahia
Boletim nº129 de 16 de julho de 1940 da Polícia Militar da Bahia – página276/278.
Álvaro B. Marques
SSA,17.04.2012