Fatos da verdade
histórica.
A História do “cangaço” no
Nordeste foi revestido de muitas narrativas folclóricas que nos leva a dúvidas em sua veracidade. Mas, a História confirmada por
pessoa idôneo e militar que participou
da organização do combate aos “cangaceiros”,
traz muito mais autenticidade aos
fatos, lemos abaixo a ocorrência:
“Conforme a transcrição de ofício
nº62 na íntegra, com data de 19 de março de 1940 no Distrito de Bebedouro,
Município de Jeremoabo interior da Bahia. Foi constatado no relatório do Cap.
Felipe Borges de Castro no Quartel em Paripiranga quando da sua viajem para
essa zona constatou o abandono e a falta de estrutura na direção daquelas terras. Nota-se
que as crianças cujas vidas estão condicionadas aos horrores do “cangaço”
criminoso. Não há escolas funcionando, nem ofício, nem arados. Ali, só o
bacamarte, conduzido por mãos assassinas, doutrina e exemplifica. A escola
pública, o Governo dispensa certa importância, não há aulas. O passa tempo
favorito das crianças é imitar os “cangaceiros” nas vestes e nas artes. Os
adultos não têm muito o que fazer, promovem rodinhas de conversas, geralmente é
sobre os feitos dos cangaceiros.
Merece lembrar um fato ocorrido
há bem pouco tempo em Jeremoabo, cujo desfecho fatal foi a morte de um menino
em que até hoje é lamentado e consterna os corações dos moradores: “Brincavam
Raimundo e Miguel, quando este último, fingindo-se “bandido” empunha uma arma
encontrada sobre a mesa da casa da sua residência, e dispara inocentemente,
contra o seu companheiro. Eis quando, o infeliz garoto, estarrecido pela brutal
surpresa do disparo da arma, e em seguida vê diante de si, tombar sem vida, ao
solo, o seu amigo e vítima. Fato este provocado pelo meio em que vive o povo,
motivado pelo bandidismo exaltado e respeitado do “cangaço”criminosos dos
bandidos que moram neste local. Basta serem 22 cangaceiros, presos cujos nomes
vão a lista em separado.
Certificado: Para o devido
conhecimento, certifica-se que: O bandido “cangaceiro” vulgo “Corisco” cujo
nome de batismo é Cristiano Gomes da Silva, morto em combate conforme relatório
ofício e capturado Sérgia Maria de Jesus vulgo “Dada” mulher de “Corisco”,
apreendendo em poder desta a menor Josefa Erondina de Almeida, com 12 anos
presumíveis, filha de Braz Francisco de Almeida, residente em Bebedouro,
Município de Jeremoabo. Neste combate foram gastos várias munições para rifles,
metralhadora, pistola e colt modelo 1908. O corpo de “Corisco” foi transportado
para o Distrito de Djalma Dutra, pra ser sepultado. A “Dada” foi entregue aos
cuidados médicos, tendo sido amputado a sua perna direita, visto ter sido
baleado no pé e deu gangrena. Com eles foram apreendido os objetos constantes
na relação abaixo se transcrevem:
“Os valores da relação foram
entregues ao Exmº. Sr.Dr.Secretário da Segurança Pública pelo 2º Ten.
José Osório de Freitas e as declarações de “Dada” e Josefa ao Cap. Salomão do
Nascimento Rehem, Delegado Especial do Nordeste. Os objetos apreendidos em
poder do bandido “Corisco” e de sua companheira “Dada” frutos de assaltos e
roubos em fazendas e chácaras nordestinas, dos quais faço entrega ao Cap. Salomão:
1 – Armas: parabelum, colt. 7mm com 3 cartuchos, 1- pistola colt.
Calibre 45 com 20 cartuchos, 2- punhais.
Jóias: 1- grande trancelim de ouro com uma moeda de prata de $500 réis
encravado no circulo em ouro, 1- águia, 1- figa e um balangandan, tudo em ouro.
Outro trancelim de ouro, 1- anel de ouro de tamanho regular, 3- anéis de ouro,
tamanho regular, cravejado de brilhantes, 2- águias de ouro, 1- cruz de ouro, 8- botões de ouro para
enfeites de chapéu feminino. 3- chapas de abotoaduras com formatos de pés em
ouro, 21- contas de ouro, 2- pares de brincos de ouro, 1- peça de ouro com os
olhos de Santa Luzia, 1- coração de ouro, 2 – brincos de ouro incompletos, 1 – Verônica de prata com a efígie de Santo
Antonio, 1 – relógio comum, 19 enfeites de metal para bandoleira, dinheiro em
células (945$000) novecentos e quarenta e cinco mil réis.”
Outros objetos com e
sem valores comercias:
“ 5 – burros, 1 – sela, 1 – Bride de ferro, 1 – cabeção, 2 –
pares de buacas de couro cru, 1- máquina de costura “Singer” de mão, 5 – cortes
de brim, 1 - uniforme de brim, 1 – par
de sapatilha, 5 – pares de talheres de metal, 5 - pares de colheres de metal branco, 1 – corte
de fustão rosa, 3 – metros de tussor, 3 metros de bulgarina rosa, 2 – metros de
opalina rosa, 2 – metros de zefir, 1 – par de sandália trançadas de couro, 1 –
fronha bordada, 2 – pires de louça, 4 – xícaras, 4 carretéis de linha branca, 2
– vidros de pílulas de Bristol, 1 – tesoura, 1 – bastidor, 6 – lençóis brancos
grande, 3 – metros de algodãozinho, 2 – lonas de borracha.
OBS: Os 5 burros, 1 sela, 1 brida e 1
cabeção, foram remetidos ao Sr.Cap. Felipe Borges de Castro, Cmt. Do D-NE para serem
entregues aos respectivos donos. Cidade de Djalma Dutra, 28 de maio de 1940.
Assinado: Ten. José Osório de Farias – Cmt. Col. Volante.
NOTA.:”Os demais
objetos constantes desta relação devem ser entregues pelo Sr. Ten. José Osório
de Farias ao Sr. Dr. Delegado da Ordem Social.
Djalma Dutra, 1º junho
de 1940 – Cap. Felipe Borges de Castro – Cmt. D-E.”
Com este relatório acima tão especifico e comprobatório não
tenho a menor dúvida da História final do “cangaço” na Bahia.
FONTE DA PESQUISA.
Arquivo Geral da Polícia Militar da Bahia
Arquivo Geral da Polícia Militar da Bahia
Boletim nº129 de 16 de julho de 1940 da Polícia Militar da
Bahia – página276/278.
Álvaro B. Marques
SSA,17.04.2012