sábado, 30 de julho de 2011

MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO NA BAHIA

MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO BRASILEIRA
EM PARTICULAR NA BAHIA.
Na viajem ao destino do Brasil, muitos escravos morriam no caminho dentro do porão dos navios negreiros e os corpos eram jogados no mar. As mortes eram ocasionadas por doenças e eles viajavam juntos homens, mulheres e crianças em local insalubre, com pouca claridade, alimentação reduzida. Homens vestidos de tangas, mulheres com saias rodadas, peitos a mostra e crianças nus. Havia certos capitães de embarcações que permitia os escravos fossem ao convés para receber ar puro, sol e água fresca. Aproveitando esse momento os escravos mais desesperados se jogavam ao mar, provocando o suicídio.
Era um comércio de grandes lucros como também de muitas perdas de escravos e mercadorias nos assaltos dos piratas franceses, ingleses e holandeses. Não contando com as doenças que os escravos traziam e adquiriam na viajem de 15 a 20 dias.
Ao chegar ao porto brasileiro, os escravos eram amarrados, expostos e vendidos nas ruas perto do porto e pernoitavam em armazéns. Alguns vinham com sinais tribais na parte visível do corpo, geralmente eram cortes pequenos, horizontais no rosto ou queimadura de cachimbo no ombro ou no braço. Prova de castigo por ter feito algum delito determinado por Soba. E muitos eram presos de guerras tribais.
Tão logo aparecia comprador e na posse o novo dono declarava em batismo o nome do novo escravo, por vezes marcava o escravo com sinal particular. Perdendo assim a identidade africana e a separação familiar. Os grandes negociantes da praça do comércio da Bahia eram os maiores traficantes de escravos. Eles tinham as suas próprias embarcações para este comércio e quando os escravos chegavam não demoravam muito tempo em seu poder, eram logo vendidos mesmo quando o tráfico foi proibido em 1850 sobre a Lei Inglesa “Bill Aberdeen” para fazer pressão a sociedade brasileira e a Lei Eusébio de Queiroz reforçando internamente, mas assim mesmo, o tráfico continuou.
Em 1885 cresciam as pressões da Inglaterra por ser o Brasil a única nação americana que mantinha a escravidão.
1871 – Lei do Ventre Livre estabelece a Liberdade para os filhos de escravas nascidos depois da data. Nesta época, já havia um grande numero de escravos velhos e doentes e os senhores de Engenhos e fazendas não podiam renovar as suas escravaturas.
1885 – Lei Saraiva VS Cotegipe ou mais conhecida como Lei do Sexagenário, pela Princesa Isabel, livre todos os escravos com mais de 60 anos.
Foi despejado em nosso porto centenas e milhares de escravos vindos de várias regiões da África as etnias chamada aqui na Bahia por Nagô - Bantu, Benguela, Manjolo, Mina, Angola, Jeje, Clava, Moçambique, Guiné, Congo, Ketu, Ige-já.
Grupos islamizados: Aussá, Mandigas, Fulas, Tapas, Bornu, Gurunsi. Esses sudaneses não se misturavam com outras etnias e tão logo fosse possível comprava a sua carta de alforria. Os escravos livres “forros” geralmente tinham os seus ofícios; pedreiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, barbeiro, alfaiate, artesão, musico, pintor de parede, vendedor ambulante, calafate e outros poucos eram pequenos comerciantes. Valor do escravo nos Engenhos (custo por serviço) havia escravos oficiais e mestres de 200$rs. Assim como moleques de 50,60,70,80$rs chamados naquela época “contos de réis” Mas, para obter a carta de “alforria” era necessário pedir ao seu senhor e comprar pelo valor estipulador por ele ou preço de mercado em dinheiro que vinha através de caixa das confrarias, reservas pessoais, e doação em legado do seu senhor em testamento por ser o escravo fiel, obediente e acima de tudo honesto. Como eram comuns, os padres possuidores de escravos, além da carta de alforria, deixava em testamento uma boa quantia em dinheiro para a sobrevivência do escravo ou escrava. Todas as Ordens Religiosas tinham escravos quando não era comprado recebia em doação dos fieis. Esses escravos eram os mais bem alimentados, vestiam dignamente, educados, católicos e quase sempre casavam com seus pares sobre os olhos da igreja.
Era notado que o escravo livre em alguns casos tornava-se comerciante o que lhe permitia comprar escravos e usar em seus serviços. Um sistema que parecia não ter fim. Até que o movimento abolicionista ocorrido em 1870 a 1888 que defendeu o fim da escravidão tornou-se realidade com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel, Lei nº 3.353 – libertando todos os escravos e extinta definitivamente a escravidão no Brasil. Mas para chegar a esta deflagração mais de três séculos e meio foi a escravidão no Brasil de 1532 conforme alguns historiadores até 1888. A libertação chegou e encontrou centenas de escravos nos Estados da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo “sem eira e sem beira” como dizia na época o povo, vagando pelas ruas, pedindo esmolas com o seu corpo deformado por excesso de trabalho ou feito pelos castigos impostos sem condições de trabalhar. Salvo, aqueles que trabalhavam nas minas e nas plantações de café permaneceram com seus senhores e já eram alforriados
ficando com aqueles que lhes tratavam bem. Outros tinham a sua profissão definida, independente. Alguns já estabelecidos no comércio, alforriados junto com os pais. A liberdade veio sem os escravocratas terem preparado este povo para uma vida em liberdade, sem trabalho, sem moradia e muitos sem família. Os abolicionistas queriam a liberdade dos escravos total e irrestrita, mas não educaram este povo carente de liberdade e saber. O tempo fez a História deles neste País chamado Brasil.
Tenho que acrescentar neste texto que a expressão chamada “escravo latino” significava que era ex-escravo nascido no Brasil e que falava português.
Trabalho de Álvaro B. Marques.

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