quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A TRADIÇÃO DO SINO NA BAHIA


Segundo vários historiadores, em data remota a voz humana fora substituída por uma peça de madeira ôca que atuava como substituta da boca, a qual por meio de seus fortes sons, advertia todos os espantos malignos que se fossem embora. E esse hábito de espantar os fantasmas por meio de barulhos, se enraizou no sistema social da humanidade de tal forma que servia também para se comunicar em distância. O sino tem a forma de uma corneta só que o som é metálico e ganhou uma enorme popularidade na idade média junto com as construções das igrejas. O bimbalhar do sino ressoa pela manhã e a noite. Para diversas finalidades religiosas e foram depois adquiridos hábitos com a povoação de cada cidade; anunciando às horas diurnas e noturnas para os escravos levantar-se e recolher-se. Os domingos e dias santos, soar demoradamente chamando os fiéis as igrejas, limpando assim, a atmosfera das influências malévolas que poderiam prejudicar as missões divinas.
A quem diga que o sino substituiu a trombeta judaica de chamamento dos fiéis as orações ou mesmo a buzina e a matraca dos primeiros cristãos, segundo Spirago. Se bem que os chineses possuíam os seus sinos desde 2.600 anos a.c. o que nós não sabemos é a data da sua invenção. Conforme Kircher, foi inventado pelos sacerdotes de Osíris. Outros afirmam, certamente São Paulino, Bispo de Nile, quem pela era de 400 d.c. ampliou o seu emprego para anunciar as cerimônias da religião cristã. Surgindo dos chineses, egípcios, e adotado por hebreus, gregos e romanos em ritos religiosos e os leigos admitiram. Os cristãos fizeram colocar no alto dos seus templos para avisos aos fiéis, os sinos tiveram larga aceitação dentro da idade média ampliou-se até a idade moderna.
Os maiores sinos do mundo estão na Rússia o Czar Kolokol, na Catedral de Assunção no Kremlia em Moscou. Foi fundido em 1733, medindo sete metros de altura, seis de diâmetros e pesando 201 toneladas; o seu companheiro, o Boris Gudonof, de Trotozkoi, pesa 175 toneladas e o Santo Ivor, em Moscou, pesando 58 toneladas. O Big-Bem de Londres, pesa apenas 13 toneladas, menor que o “bordão” de Notre Dame da Franca, cuja profunda ressonância abrange grande distância. Certa vez, em Paris, o “bordão” que pesava 16 tonelada caiu e foi um tremendo trabalho para recolocar no local.
Esclarecemos que o sino mais pesado desta cidade de Salvador, o maior, está na torre da nossa Catedral Basílica no largo do Terreiro com pouco mais de mil quilos. Não sabemos a data precisa de quando chegou em nossa cidade o primeiro sino. Teria vindo com Tomé de Sousa? Ou com o primeiro Bispo? Ou logo depois? Sabemos que o próprio mestre Pedro Fernandes e os companheiros de Nóbrega, pediram para o Reino em constante cartas tudo que precisavam para o culto divino nestas partes do Brasil. Verdade é que ainda em 1745 um tal Domingo da França, refere “ a obra do relógio da Sé” que ele assentou, bem como “as ferragens e os sinos dela” (Arquivo Público de Documentos da Bahia – papeis – caixa 50 ano 1745) Mais esses não foram evidentemente os primeiros sinos aqui desembarcados. O sino da Câmara dos Vereadores, (hoje Prefeitura Municipal de Salvador) retirado da torre desde 1886. Este sino foi fundido na Holanda em 1615 tem sua gravação em seu bronze e estas palavras elucidativas da sua origem e do seu nascimento: “Henderich Wegenvart” – fez-se em Deventer ano 1615” esta foi a leitura traduzida. Não há nenhum documento que atesta esta data como sendo vindo da sua fundição para esta Câmara. Mesmo se fosse encomenda pessoal de algum fiel cristão. Pode ser também retirado de alguma nave flamenga, apreendida em nosso porto? Ou retirado de uma nave que se chocou com recifes em praia do nosso litoral? Não há dúvida que já em 1627 tocava um sino na Câmara dos Vereadores, conforme esclarece um documento de setembro do mesmo ano diz: “em que era chamado Pedro Lourenço, carcereiro da cadeia, para que tangesse o sino de correr, o que tangerá das 9 horas da noite até 10 horas da manhã. Para isso, pagará 10 patacas por estes 4 meses.” (Atas da Câmara de Salvador – vol.I págs. 75)
Este sino não era o sino da torre, flamengo de 1615. Era outro, chamado sino de correr da cadeia pública que existia em baixo dos assoalhos da Câmara. Fez soar no dia 10 de setembro de 1675 e continuava ainda a tocar “para juntar o povo e tratar do meio mais conveniente que pode achar-se para o socorro da Infantaria desta Praça”.(Ata da Câmara vol. 5 págs. 167)
Sabe-se que houve reforma radial da Casa da Câmara, executada em 1663 pelo Governador Francisco Barreto. Veja o relato de Afonso Ruy, mestre no assunto: Surgiu dessa reforma um prédio amplo, desprovido de torre, só levantado trinta e três anos depois, continuando a ser utilizado o sino da cadeia para o toque de recolher etc. O sino holandês, só se levantou em 1696 com a reforma de grande parte levada a efeito neste ano, no governo de D. João de Lancastro” (“História da Câmara págs. 16)
Desde então, e por 190 anos, o sino da Câmara repica em sua torre setecentista, começa a ter a sua real função de conversar com a população a ir para a praça em frente as mais distintas formalidades, ou seja: fazer protestos em gritos e revoltas contra a exorbitância dos dízimas lançados, assistir oradores, alegrias de festas, posses de Governadores e vice rei, assistir torneios, praticar jogo de argola, corridas de touros, enfim, nos divertimentos e nas várias realizações que a praça principal da cidade oferece.
O sino holandês foi substituído em 1887 por um grande relógio belga, iluminado á noite, “fazendo ouvir suas pancadas fortes e sonoras de horas e quartos em um raio de zona muito extenso.”
Vários sinos desta cidade possuem inscrição e data da sua colocação ou fundição. Em outubro de 1711, o sino chamou o povo para protestar contra o elevado imposto do sal de 400grs. Para 720grs. o alqueire” ( Fonte do livro: “A Cidade do Salvador” autor: Alberto Silva)
OS FUNDIDORES DE SINOS BAIANOS, SÉCULOS XVII E XVIII
João Carreira: Fundiu o 1º sino da Igreja do Pelourinho em 1756.
André Coelho Vidigal: Fundiu o 1º sino da Igreja de Santo Antonio da Mouraria em 1757.
Simão José de Souza: Fundiu o 3º sino dos Aflitos em 1797, o 2º sino da Trindade em 1799, e o 1º sino da Lapa em 1805, o terceiro de São Bento e do São Miguel, ambos em 1815. O 2º sino do Desterro em 1819 e o 3º de Santo Antonio da Barra em 1820.
Joaquim Rodrigues Fróes: Fundiu o 2º de Santana em 1826, o 1º dos Aflitos em 1833, o 3º da Ordem Terceira do Carmo em 1839 e o 3º de Santana em 1842.
Paulino José dos Santos Passos: Fundiu o 1º da Igreja do Boqueirão em 1868.
Francisco de Souza Guimarães: Fundiu o 2º do Bonfim em 1884.
Alexandre Ferreira da Rocha: Fundiu em 1778 o sino chamado “meião” da Conceição da Praia e o “bronze” da Misericórdia. Em 1736 fundiu um na Igreja de Monte Serrate.
Manoel de Vargas Leal: Considerado um dos maiores fundidores de da Bahia, fundiu o 3º sino da torre d a Igreja de Conceição da Praia em 1869 e o 2º do Pelourinho em 1868. O do Rosário de João Pereira em 1874. O 1º da Igreja da Palma em 1876. O 1º do Bonfim em 1834. Mais um para o Desterro em 1876. O 2º da Igreja da Saúde em 1892 e o 4º da Igreja de São Domingos.
Note Bem: cópia fiel do original do texto acima.
Segundo o Monsenhor Nabuco, suas palavras: “ A fundição de sinos é uma ciência e uma arte que exige mesmo para quem conhece as leis que a regem que são: muita perícia e muita paciência. Sem esses princípios básicos não se fabrica sino. Todo o sino, para ser sino verdadeiro, deve ter uma costela, isto é, uma linha de antemão estudada, que resulta da espessura da parede de cada sino em tamanho e das proporções entre a boca, altura e a cabeça. A costela não obedece somente as leis cientificas; se fosse assim, bastaria conhece-las, e qualquer um fabricaria sinos. O som nasce por via empírica e constitui o grande segredo que somente as famílias de fundidores transmitem de pai a filho”.
Ele, Monsenhor Nabuco, refere-se à ciência da fundição dos sinos para enaltecer o nosso passado, foi quando dispúnhamos de fundidores que nos legaram muitos dos sinos que ainda existem nas nossas Igrejas e nos entusiasmam pela sua fabricação.
( Fonte do livro: “ O Bi-Centenário de um Monumento Baiano” – coletiva de autores)
MEUS COMENTÁRIOS. - Álvaro
Hoje, no século XXI os sinos ainda tocam em algumas principais Igrejas, para anunciar festa do dia santo, muito raramente e talvez os horários das missas. E muitas Igrejas, já não mais existem os sinos. Principalmente as que estão em ruínas.
As Igrejas católicas se ornamentavam com doações dos fiéis de várias posições sociais e havia muita fé cristã com muita boa vontade de ajudar a Igreja e acreditavam nas palavras dos “santos padres”.
Trabalho de pesquisa Álvaro B. Marques

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