“A sedição de 1798 na Bahia, chefiada pelo alfaiate João de Deus do Nascimento, teve como companheiros os soldados: Luiz Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas, Luiz Pires, Manoel Faustino e outros. Nela tomaram parte Francisco Agostinho Gomes, Marcelino Antonio, Cipriano Barata e muitos que não foram julgados, por não ter provas.
Os sediciosos norteavam-se pelas idéias francesas propagadas por Volney, em seu livro “Ruínas” e em panfletos inspirados na Revolução Francesa cujo lema tornou-se conhecido pelo mundo; “ Liberdade, Igualdade e Fraternidade.”
Governava na Bahia D. Fernando José de Portugal. Naquela época fervilhava o pensamento de liberdade principalmente nas classes mais oprimidas. A sedição foi descoberta e denunciada pelo padre José da Fonseca Neves. Conforme relato da época; “ os conjurados distinguiam-se por um búzio pendente das cadeias do relógio e o ponto de reunião mais freqüente era o Forte de S. Pedro, em cujos ajuntamentos davam vivas à Liberdade e a Bonaparte. Tinham sua bandeira revolucionária constituída desse modo: corpo branco, uma estrela vermelha de cinco pontas e um globo vermelho no intervalo dos raios. Na parte interior da estrela, uma legenda de letras brancas em campo vermelho; “Fluctuart nec Mergitur”.
Condenados alguns revolucionários á pena máxima, foram enforcados no dia 8 de novembro de 1799, no largo da Piedade, onde o governador colocou uma lápida comemorativa em 1923. Uma cópia do documento sentença, avulso, vê-se o modo porque foram executados os condenados á morte, pela rígida sentença.”
OS ÚLTIMOS MINUTOS: Antes de o carrasco dirigir-se ao primeiro a ser executado( o carrasco era negro e ostentava a insígnia do seu triste ofício ) e preparando-o para a súplica ( era João de Deus ) um dos franciscanos leu a oração do ritual para confortá-lo. João de Deus ouviu com serenidade e enfrentou o patíbulo com os olhos súplice naquele céu luminoso. Ainda em presença dos frades, um oficial de justiça leu a sentença da Relação, que diz; “ declarava para manifestar a gravidade e enormidade do delito a que se precipitaram os infames réus, os cadáveres de João de Deus, Lucas Dantas e Manoel Faustino, fossem esquartejados e separados as cabeças, pendurados em praça pública.” Respondeu o patriota: “Seja o que Deus quiser fazer do meu corpo e da minha alma”. E subiu ao patíbulo.
( Fonte do livro: A Margem da História da Bahia – autor: Francisco Borges de Barros )
Ainda sobre a Sedição baiana de 1798 – segundo relato de Braz do Amaral, no seu livro: “Fatos da Vida do Brasil” – publicado em 194l.
“ Os revolucionários baianos de 1798, estavam quase todos entre os 17 e os 30 anos. As penas severas que foram contra eles pronunciadas feriram uma mocidade cujo crime era desejar um governo liberal, o que alguns anos depois considerou-se coisa muito legítima, sendo então punidos os que professavam opiniões opostas, tendentes a manter a forma de governo absoluto.
Nota-se por aí o que são as sociedades e como espalharam os homens na terra o sofrimento sobre os seus semelhantes, por coisas que não persistem, que são muitas vezes apenas opiniões teóricas.
Um dos condenados da Conspiração baiana declarou que a sua Conjuração envolvia “676 pessoas”, mas somente 49 foram presas, dos quais 46 homens e 3 mulheres, sendo que dos primeiros, 40 eram livres e 9 escravos. Na realidade só 5 tiveram penas de morte.
João de Deus do Nascimento, alfaiate, era tão pobre que na manhã do dia 26 de agosto, quando foi preso, tinha em seu poder a exígua quantia de 80 réis, estritamente o bastante para alimentar por um dia, sua numerosa família. 8 filhos, dos quais o mais velho chegava apenas aos doze anos. Sua mulher também foi presa, imaginem os sofrimentos dessas crianças sem os pais, no lar abandonados, os parentes mais próximos iam vê-los. Meses depois a Mãe foi solta. João de Deus tinha 30 anos.
Luiz Gonzaga das Virgens, soldado do 2º regimento de linha, 33 anos, granadeiro.
Luiz Dantas, soldado de artilharia, tinha 23 ou 24 anos.
Manoel Faustino dos Santos Lira, alfaiate, de 16 anos, sabia ler e escrever.
Luiz da França Pires, era escravo de José Pires de Carvalho e Albuquerque, tinha 32 anos, banido (degredado). Quando foi preso tinha 18 anos, sabia ler e escrever.
Pelos autos dos processos da Conspiração, se conclui que numerosos indivíduos conservados em condições servil sabiam ler e escrever, o que lhes permitia adquirir certos conhecimentos e abrir o seu espírito a horizontes mais realista. Como também foi citados várias pessoas de elevadas culturas e posses da sociedade da época, e não foram enquadrados em leis, ditos como sem provas. Só o lendário Cipriano Barata o “baratinha” como lhe era chamado, mais uma vez foi preso, junto com outros: Domingos da Silva Lisboa, Francisco Muniz Barreto de Aragão, Hermógenes de Aguiar Pantoja. Todas essas figuras proeminentes. Mas, que depois receberam indulto e foram libertados. Conspiração republicana da Bahia de 1798, já denominada “ Conspiração dos Búzios.
Ttabalho de pesquisa de Álvaro
MEUS COMENTÁRIOS: ÁLVARO - Que a alma do padre José da Fonseca Neves, o delator esteja até hoje no purgatório para ser julgado.
O interesse pela Liberdade brota nos sentimentos daqueles que são oprimidos. Não importa qual a sua condição social e grau de saber. Nada produz a liberdade sem a consciência do povo.
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