segunda-feira, 24 de maio de 2010

SALVADOR E O LAZER NA DÉCADA DE 1920 E O HISTÓRICO DA DIVERSÃO NA BAHIA.

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O movimento noturno em Salvador, quase se resumia nos cinemas e teatros que normalmente funcionavam aproximadamente com uma percentagem de 10% da população. Outros percentuais restantes com menos poder aquisitivo, se contentavam nas festas populares, os círculos operários, os cabarés, as salas de jogos e as casas de tolerâncias, chamadas também de “Pensão das mulheres”, geralmente mulheres francesas. Os mais pobres “vão ver o circos” sempre de passagem na cidade.
Como se vê, não havia vida noturna intensiva na pacata cidade de Tomé de Souza, que continuava com apego imenso aos costumes do passado, com muito custo foi abandonando.
Na década de 20, a cidade encontrava-se em grande remodelação e modernização. Era a Bahia de José Joaquim Seabra que, segundo a história baiana oficial, a governou por duas vezes ( 1912-1916) (1920-1924) e a embelezou a Capital; demoliu muitas casas para abrir ruas, deu uma nova feição à cidade.
Já nesse período surgiram os banhistas, na Barra e em outras praias, esporadicamente, em locais de veraneios. Mas, o povo católico só saía de suas casas nos domingos e feriados para assistirem as missas e procissões nos dias santificados. Era o máximo de liberdade religiosa.
As brincadeiras das crianças até 1920 eram: “ Os brinquedos criados nos cantos das ruas, nas portas de casa, nos campos, seguiram fases sucessivas de predomínio de uma modalidade, as crianças tinham as suas criatividades; bola de gude, pião, argola, arco, bodoque, arraia, patinete de madeira com rodas de ferro chamada de “rolimã”, bombinhas (traque de massa)etc. As meninas geralmente tinham suas brincadeiras preferenciais; pular corda, amarelinho, esconde-esconde, pega, cadeirinha e o imperdível “ brincar de boneca com caxixis” isto é, utensílio doméstico de cerâmica em miniaturas.Aos poucos as brincadeiras vão sendo substituídas e foi neste período que surgiu a prática do Futbool trazido por inglês radicado na Bahia.
Vejamos agora, quais foram os centros de diversões na Capital:
1º) – Politeama Baiano:Proprietário – Sociedade Anônima.
Lotação: 461 cadeiras de 1ª. Classe, 392 cadeiras de 2ª. Classe, 41 camarotes de 1ª. Classe, 15 camarotes de 2ª. Classe, l8 frisas, 242 galerias numeradas e 500 gerais.
Endereço: Rua do Politeama – Fundado em 04 de dezembro de l892.
2º) – Teatro S. João: Proprietário: Empresa Rubem P. de Guimarães.
Lotação: 340 cadeiras, 3 ordens de camarotes com 20 camarotes cada um e 400 gerais.
Endereço: Praça Castro Alves – Fundado em l8l2.
3º) – Cine Teatro Guarany: Proprietário – Portela Santoro e Companhia.
Lotação: 748 cadeiras numeradas, 32 entradas de frisas, 93 galerias nobres, 6 camarotes com 5 entradas e 27 camarotes com 4 entradas.
Endereço: Ladeira de S. Bento ou Praça Castro Alves – Fundado em l9l9.
4º) – Ideal Cinema: Proprietário – Empresa J. G. Lima.
Lotação: 266 cadeiras, 64 entradas de frisas e 81 entradas para balcão.
Endereço: Ladeira de S. Bento – Fundado em 1913.
5º) – Recreio S. Jerônimo: Proprietário – Empresa Obra Social Católica-(Congregação Mariani) – Lotação: 400 cadeiras numeradas.
Endereço: Praça 15 de novembro ( pça da Sé) depois Cine Excelsior.
Fundado em 30 de agosto de l9l7.
6º) – Cinema dos Salesiano: Proprietário – Liceu Salesiano
Lotação: 480 cadeiras numeradas.
Endereço: Praça Almeida Couto – Nazaré. – Fundado em l907
7º) – Cinema – Teatro Olímpia: Proprietário – Empresa Borges da Mata e Companhia.
Lotação: 700 cadeiras, 20 frisas, 28 camarotes e 300 entradas para galerias.
Endereço: Rua J.J. Seabra – Baixa do Sapateiro – Fundado em 1915, reformado em 1918.
8º) – Cine Teatro Jandaia: Proprietário – João Oliveira.
Lotação: 700 cadeiras + 350 gerais.
Endereço: Rua Dr. J.J. Seabra – Baixa do Sapateiro. Fundado em 1914.
9º) – Cine Avenida: Proprietário – Empresa Serafim Cavadas e Companhia.
Lotação: 300 cadeiras numeradas.
Endereço: Travessa de Sant’Anna – Rio Vermelho.
Fundado em l910.
10º) –Cine Teatro Itapagipe:Proprietário: Associados Reunidos.
Loteamento: 280 cadeiras e 60 entradas de frisas.
Endereço: Porto do Bonfim – Fundado em 1920
11º) – Cinema Liceu: Proprietário – Liceu de Artes e Oficio.
Lotação: 880 cadeiras numeradas.
Endereço: Rua Saldanha da Gama,
Fundado em 1920.
12º) – Cinema Stº. Antonio: Proprietário – Ordem 3ª. De São Francisco.
Lotação: 450 cadeiras – Fundado em 1919.
Os cinemas de Salvador na década de 30 – Primavam pela falta de conforto.
O espectador em assentos de madeira dispunha apenas de alguns ventiladores que amenizavam o mal estar provocado pelo ar confinado. Mesmo assim, os aficionados da sétima arte tinham disposição para assistir a dois filmes de longa metragem, muitas vezes seguidos de uma série.
Somente em l938, fora introduzidos o ar condicionados e as poltronas acolchoadas, quando da reforma do Cinema Excelsior, na Praça da Sé.”( Indicadores Baianos – autores diversos. )
O que confrontamos hoje é a redução dos cinemas em Salvador. De 12 casas de cinemas a 86 anos atrás, passamos ao ano de 2006 com apenas uma Companhia chamada de Multiplex, pertencente a um grupo americano.
O INÍCIO DO DESENVOLVIMENTO:
“A elite baiana até a década de 1920, composta de senhores da terra, atacadistas, banqueiros, plantadores de cacau e remanescentes da aristocracia dos senhores de engenhos, possuía valores e tradições ainda do tempo da escravidão. Chegaram até então, a considerar o trabalho manual como algo de pouco valor, mesmo a engenharia passava por profissão menos nobre, de prestígio bem menor do que medicina ou direito, por exemplo.”(Revista Publicação interna da Organização Odebrecht. )
O sobrenome de qualquer um desses senhores de família tradicional ou mesmo de grandes capitalistas, Eram também considerados “ portas abertas” para qualquer empréstimo ou negociações comerciais. Isto demonstrava a influência, a honestidade e a garantia depositada na pessoa consentida. Mantinham o orgulho e a vaidade de ser fulano de tal, mesmo que nesta família já não mais existia o poder financeiro.
Eram paternalistas com favoritismo extremosos, e preconceituosos por descendências e alguns deles souberam economizar grandes fortunas que exauriram em aplicações bancárias má sucedida. Geralmente esses senhores, eram possuidores de vastas terras improdutivas e que foram arrolados em dívidas públicas. Alguns sobreviveram outros não. Seus descendentes atuais herdaram pouco pelo que representaram no passado à fortuna familiar.
Havia um grupo de oligarquistas que dominavam o monopólio comercial exclusivo e privava a economia, como também estagnava o desenvolvimento do Estado.
A Bahia precisava crescer, viver somente da agricultura era um risco do passado. As pragas e as doenças bactericidas levaram muitos fazendeiros de gados, plantadores de cana de açúcar, plantadores de fumo e algodão e por último os cacauicultores à falência pública. Restaram pouquíssimos remanescentes na agricultura principal, ou seja: algodão, fumo, açúcar, cacau e café. Eram produtos de exportação, é nesses setores que entram os estrangeiros radicados na Bahia. Principalmente os alemães e ingleses que dominavam o mercado exportador.
Salvador era a sede de uma sociedade rural, mais colonial que moderna. Despertou com o petróleo na década de 50 e daí veio o salto de progresso no governo de Luiz Viana Filho. Foi implantado o Centro Industrial de Aratú – planejado na administração anterior que já tinha algumas industrias em desenvolvimento no ano de 1967. Lentamente às indústrias iam crescendo até que o Centro Industrial de Aratú começou a sucatar suas indústrias ao ponto de fechar à maioria. Veio o ano 70 para a Indústria Petroquímica de Camaçari levantar vôos altos, até os dias atuais. Onde detemos o maior complexo petroquímicos da América Latina. Apesar de termos tudo isso, ainda registram uma filial da Industria Automobilística Ford, uma das maiores montadoras de veículos do mundo e outras assessorias à Ford. Em recente funcionamento. O Estado também implantou em algumas regiões baianas um mercado calçadista de relevante importância para o nosso desenvolvimento, fora as exportações de produtos extrativos.
A Bahia cresceu e crescerá mais quando certos homens públicos souberem realmente amar e respeitar seu Estado e a sua gente.
Álvaro B.Marques
SSA, setembro de 2006
B I O G R A F I A
Revista Artes e Artistas nº 1 – publicado em 12 de outubro de 1920
Cinemas da Bahia – autor: Sílio Boccanera Jr. – período 1897 a 1918.
Publicado em 1919/Ba.
A Bahia de Outrora – autora: Angeluccia Bernardes Habert.
Revista Publicação Interna da Org. Odebrecht. – Edição Histórica
Publicado em nov. de 2004 – Editor: José Enrique Barreiro.
Indicadores Baianos – vários autores ( Educação baiana em 1936, informações sobre as atividades comerciais, industriais, artes e letras e Poderes Públicos.)

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