“Iniciava no período de outubro a abril, os xaréus vão para o Norte em grandes cardumes para a desova, procurando climas mais quentes para cumprimento de sua missão procriadora e é nesta época que os pescadores das praias dos subúrbios de Salvador lançam-se à sua tarefa. Na praia do Chega Nego, em Carimbamba e no Saraiva cumprem os mesmos trabalhos dos seus antepassados, trabalhos que vêm dos tempos Colônias, do Império, da Republica até nossos dias. Frederico Edelweiss nos lembra que o nome Chega Nego vem dos gritos dos senhores, chamando os negros escravos para puxarem as redes do xaréu. E esta tradição não morre, mesmo porque dela depende a subsistência de centenas de famílias, todos os anos se repetem com os mesmos cerimoniais, com os mesmos rituais, podemos dizer com que se procedia nos tempos passados”.
Com essas palavras o Odorico Tavares no seu livro: “Bahia imagem da Terra e do povo.” Transmite a beleza que foi a pesca do xaréu. Narrando com mestria todos os acontecimentos do ritual dos pescadores nas praias do Rio Vermelho à Amaralina. Como também outros brilhantes baianos escreveram e cantaram sobre a pesca do xaréu, na voz vibrante de Dorival Caimmy e as letras boêmia de Jorge Amado. Tudo ficou no folclore que se perdeu na memória dos baianos, em especial dos pescadores. Não sei se foi os xaréus que fugiram da nossa Costa Marítima, em extinção ou se foi os pescadores que não ensinaram aos seus antecedentes à pesca do xaréu da maneira africana.
Na realidade, ainda existe pescadores e não mais a festa tão cantada e badalada pelos nossos antepassados. Perdeu a Bahia, perdeu o folclore, tão rico em expressões, para a grandeza da nossa cultura que cada vez mais diminui o espaço da tradição do povo, e que levou centenas de anos cultuando as suas alegrias.
O governo do Estado e a Prefeitura hoje, lamentam o que no passado não contribuíram para a conservação de uma tradição secular. Era relegado como “festa de nego” sem interesse do governo. Não sabendo as autoridades da época que às “ festas de negos” seriam no futuro um dos folclores mais promissores de tradições culturais e financeiros do Estado. Um importante veículo de atração turística da nossa terra e que hoje timidamente está se desenvolvendo.
Louvemos os interessados de hoje em preservar o que no passado teve vida.Assim sendo, reportarei como era à Pesca do Xaréu na Bahia de outrora.É usado rede de tresmalho em curva, fundeada na praia, para a qual pescadores em canoa espantam o peixe batendo remos ou pás na água.
È madrugada, um grupo de 63 homens, l chefe, 1 mestre da terra, 1 mestre do mar, 20 atadores, 20 homens do mar e 20 homens de terra.Se preparam para a grande tarefa.Vestindo apenas um calção branco de algodão, um chapéu de palha de abas largas para proteger do sol forte.A rede é feita pelos próprios pescadores, mulheres e filhos, pesando mais de uma tonelada e meia, e para a sua confecção é necessário mil metros de corda, vários quilos de fio grosso e forte, meia tonelada de chumbo que será derretido e trabalhado. São cinco meses de trabalho, pago por braça, para a grande malha esteja pronta.
Os pescadores se reúnem. O chefe dirige o serviço, dá ordens que são cumpridas pelos mestres da terra e do mar, que por sua vez transmitem para os seus homens. A grande jangada que conduzirá a rede vai ser lançada na água, cuidadosamente. Os homens do mar são responsáveis pela sua colocação. Na praia plana as casas de palha estão desertas. As mulheres e filhos vêm para junto do mar.È um circulo que se forma, antes do “arrastão”, na areia. Em que todos pedem a Deusa do Mar à fartura do dia. Com cântico em louvor. Começa a se formar no mar um grande circulo flutuando no oceano.
O mestre do mar faz a contagem quando percebe que o xaréu está penetrando, ele mergulha, conta os peixes. Quantos?Emerge e toma então do seu belo apito enfeitado com as cores da Rainha do Mar, Iemanjá, Senhora da água. Sopra forte o apito e agita no ar o grande chapéu. O mestre da terra compreende o aviso. Assim vão se sucedendo os mergulhos até dar o inicio à puxada da rede ou “arrastão” como era chamado. O mestre da terra, também apita para reunir o pessoal e começar o serviço. O grande circulo da corda ao redor da rede começa a ser puxada. Os 20 homens em terra iniciam a sua pesada tarefa. Dá início a novas canções, nos braços fortes dos pescadores atentos. Com movimentos cadenciados em ritmos lentos. No trabalho árduo, de suor e de força bruta. Uma festa de poesia com músicas e cantos Afro-brasileiros. Não há tristeza, só a alegria no labor coletivo numa visão cheia de harmonia e beleza humana contida em um episodio remoto e mais puro do Folclore baiano.
Depois vêm á partilha e o canto crescente dos pescadores a agradecer a Mãe d’agua O povo de compra do xaréu vêm chegando para a praia, dona de casa, vendedores e pequenos comerciantes. Todos entram na festa da Pesca do Xaréu.
( fonte extraída do livro: “A Pesca do Xaréu” – coleção recôncavo. Bahia, l955.)
Álvaro B. Marques
Com essas palavras o Odorico Tavares no seu livro: “Bahia imagem da Terra e do povo.” Transmite a beleza que foi a pesca do xaréu. Narrando com mestria todos os acontecimentos do ritual dos pescadores nas praias do Rio Vermelho à Amaralina. Como também outros brilhantes baianos escreveram e cantaram sobre a pesca do xaréu, na voz vibrante de Dorival Caimmy e as letras boêmia de Jorge Amado. Tudo ficou no folclore que se perdeu na memória dos baianos, em especial dos pescadores. Não sei se foi os xaréus que fugiram da nossa Costa Marítima, em extinção ou se foi os pescadores que não ensinaram aos seus antecedentes à pesca do xaréu da maneira africana.
Na realidade, ainda existe pescadores e não mais a festa tão cantada e badalada pelos nossos antepassados. Perdeu a Bahia, perdeu o folclore, tão rico em expressões, para a grandeza da nossa cultura que cada vez mais diminui o espaço da tradição do povo, e que levou centenas de anos cultuando as suas alegrias.
O governo do Estado e a Prefeitura hoje, lamentam o que no passado não contribuíram para a conservação de uma tradição secular. Era relegado como “festa de nego” sem interesse do governo. Não sabendo as autoridades da época que às “ festas de negos” seriam no futuro um dos folclores mais promissores de tradições culturais e financeiros do Estado. Um importante veículo de atração turística da nossa terra e que hoje timidamente está se desenvolvendo.
Louvemos os interessados de hoje em preservar o que no passado teve vida.Assim sendo, reportarei como era à Pesca do Xaréu na Bahia de outrora.É usado rede de tresmalho em curva, fundeada na praia, para a qual pescadores em canoa espantam o peixe batendo remos ou pás na água.
È madrugada, um grupo de 63 homens, l chefe, 1 mestre da terra, 1 mestre do mar, 20 atadores, 20 homens do mar e 20 homens de terra.Se preparam para a grande tarefa.Vestindo apenas um calção branco de algodão, um chapéu de palha de abas largas para proteger do sol forte.A rede é feita pelos próprios pescadores, mulheres e filhos, pesando mais de uma tonelada e meia, e para a sua confecção é necessário mil metros de corda, vários quilos de fio grosso e forte, meia tonelada de chumbo que será derretido e trabalhado. São cinco meses de trabalho, pago por braça, para a grande malha esteja pronta.
Os pescadores se reúnem. O chefe dirige o serviço, dá ordens que são cumpridas pelos mestres da terra e do mar, que por sua vez transmitem para os seus homens. A grande jangada que conduzirá a rede vai ser lançada na água, cuidadosamente. Os homens do mar são responsáveis pela sua colocação. Na praia plana as casas de palha estão desertas. As mulheres e filhos vêm para junto do mar.È um circulo que se forma, antes do “arrastão”, na areia. Em que todos pedem a Deusa do Mar à fartura do dia. Com cântico em louvor. Começa a se formar no mar um grande circulo flutuando no oceano.
O mestre do mar faz a contagem quando percebe que o xaréu está penetrando, ele mergulha, conta os peixes. Quantos?Emerge e toma então do seu belo apito enfeitado com as cores da Rainha do Mar, Iemanjá, Senhora da água. Sopra forte o apito e agita no ar o grande chapéu. O mestre da terra compreende o aviso. Assim vão se sucedendo os mergulhos até dar o inicio à puxada da rede ou “arrastão” como era chamado. O mestre da terra, também apita para reunir o pessoal e começar o serviço. O grande circulo da corda ao redor da rede começa a ser puxada. Os 20 homens em terra iniciam a sua pesada tarefa. Dá início a novas canções, nos braços fortes dos pescadores atentos. Com movimentos cadenciados em ritmos lentos. No trabalho árduo, de suor e de força bruta. Uma festa de poesia com músicas e cantos Afro-brasileiros. Não há tristeza, só a alegria no labor coletivo numa visão cheia de harmonia e beleza humana contida em um episodio remoto e mais puro do Folclore baiano.
Depois vêm á partilha e o canto crescente dos pescadores a agradecer a Mãe d’agua O povo de compra do xaréu vêm chegando para a praia, dona de casa, vendedores e pequenos comerciantes. Todos entram na festa da Pesca do Xaréu.
( fonte extraída do livro: “A Pesca do Xaréu” – coleção recôncavo. Bahia, l955.)
Álvaro B. Marques
muito bom!
ResponderExcluirMuito obrigado, Priscilla. Em prestigiar o meu blog. O interesse pelo assunto envolve Turismo e profissionais do ramo pesqueiro ou biólogo estudioso. A Bahia perdeu um dos mais belo espetáculo marítimo folclórico.
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