Depoimento de um acompanhante de esquife para o Cemitério de
Bom Jesus da Massaranduba em 1847, no Bairro da Massaranduba na antiga
periferia de Salvador.“A passagem do enterro nas ruas causa sempre tristeza
para quem assiste e muita dor para os familiares e amigos, é uma lamentável
perda. Neste lugarejo tudo é tristeza, a pobreza nem tinha aonde morrer, não
sabia fingir. Mães que pediram esmola para enterrar os filhos. Pobres sem
convenções, sem remédio, sem ajuda. Meninos de camisola rasgado, outros que
acordaram e passavam os dias nus. Mulheres com vestidos em mulambus. Homens
humildes, sem trabalho, sem era e sem beira. Rua da pobreza, pouquíssimas casas
baixas, ao olhar por dentro, vê-se escuras. Superlotadas de habitantes,
necessitados e doentes. O préstito prossegue na caminhada lenta e lúgubre. A
areia da rua, impede o andar rápido. As mulheres levam flores e os homens
revezam no transporte do defunto, outros carregam as coroas. O povo segue á
esquerda no trajeto tortuoso a beira de uma cerca velha. Até que vemos o portão
do Cemitério, no meio de um gradil negro. Dentro uma estrada de barro batido,
nos lados carneiras suspensas perto do manguezal. A Capelinha de Bom Jesus da
Massaranduba no alto, uma mitra que o arquiteto idealizou com janelas sem arte,
sem torres e sem estética. O cortejo entrou no templo em que a arte nunca
protegeu. O caixão foi para o estrado com castiças simples a iluminar o ataúde
humilde. O vigário de novo encomenda o corpo a São Pedro, depois os homens já
desciam com o caixão para a cova aberta e o povo a jogar flores em gritos e
prantos. Jogam terra e o último adeus. Morreu quem já teve vida e deixa
lembranças. A morte ali iguala a todos.” Trecho
extraído do livro: “Meu menino” do autor: A. J. Souza Carneiro. Publicado
em 1934 (Biblioteca Brasileira de Tradições).
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O Cemitério da Massaranduba foi doação da Ordem Terceira da
Santíssima Trindade e Redenção dos Cativos em 1833. Único Cemitério para
escravos e indigentes para toda a região Itapajipana e periferias. O local do
Cemitério era bem próximo ao mangue e não servia para enterramentos. Quando ás
indústrias apareceram, aterraram grande parte do lugarejo e foi extinto o
Cemitério junto com a pequena Capelinha.
Pesquisa de Álvaro B. Marques.
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