sexta-feira, 19 de abril de 2013

O CEMITÉRIO DA MASSARANDUBA NA PERIFERIA EM SALVADOR/BA- Pobreza extrema




Depoimento de um acompanhante de esquife para o Cemitério de Bom Jesus da Massaranduba em 1847, no Bairro da Massaranduba  na antiga periferia de Salvador.“A passagem do enterro nas ruas causa sempre tristeza para quem assiste e muita dor para os familiares e amigos, é uma lamentável perda. Neste lugarejo tudo é tristeza, a pobreza nem tinha aonde morrer, não sabia fingir. Mães que pediram esmola para enterrar os filhos. Pobres sem convenções, sem remédio, sem ajuda. Meninos de camisola rasgado, outros que acordaram e passavam os dias nus. Mulheres com vestidos em mulambus. Homens humildes, sem trabalho, sem era e sem beira. Rua da pobreza, pouquíssimas casas baixas, ao olhar por dentro, vê-se escuras. Superlotadas de habitantes, necessitados e doentes. O préstito prossegue na caminhada lenta e lúgubre. A areia da rua, impede o andar rápido. As mulheres levam flores e os homens revezam no transporte do defunto, outros carregam as coroas. O povo segue á esquerda no trajeto tortuoso a beira de uma cerca velha. Até que vemos o portão do Cemitério, no meio de um gradil negro. Dentro uma estrada de barro batido, nos lados carneiras suspensas perto do manguezal. A Capelinha de Bom Jesus da Massaranduba no alto, uma mitra que o arquiteto idealizou com janelas sem arte, sem torres e sem estética. O cortejo entrou no templo em que a arte nunca protegeu. O caixão foi para o estrado com castiças simples a iluminar o ataúde humilde. O vigário de novo encomenda o corpo a São Pedro, depois os homens já desciam com o caixão para a cova aberta e o povo a jogar flores em gritos e prantos. Jogam terra e o último adeus. Morreu quem já teve vida e deixa lembranças. A morte ali iguala a todos.” Trecho extraído do livro: “Meu menino” do autor: A. J. Souza Carneiro. Publicado em 1934 (Biblioteca Brasileira de Tradições).
Meus comentários:
O Cemitério da Massaranduba foi doação da Ordem Terceira da Santíssima Trindade e Redenção dos Cativos em 1833. Único Cemitério para escravos e indigentes para toda a região Itapajipana e periferias. O local do Cemitério era bem próximo ao mangue e não servia para enterramentos. Quando ás indústrias apareceram, aterraram grande parte do lugarejo e foi extinto o Cemitério junto com a pequena Capelinha.
Pesquisa de Álvaro B. Marques.

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