terça-feira, 25 de maio de 2010

PROFESSOR HONORATO

Depois das festas de fim do ano. Os meninos entristeciam. Abria-se a escola do professor Honorato em Itapagipe. Os moradores daquela região corriam para achar vaga. Queriam que os filhos aprendessem com ele. Por causa da sua disciplina rígida em não dar folga aos alunos relapso.
A sala de aula era um ovo em tamanho. Ficavam na sala e no corredor da casa. Era um horror. A palmatória falava auto. Não tinha idade, o castigo era severo, exemplar. Honorato era fanhoso, alto e magro. Cabeleira avermelhada por ser descendente de russo. Sua voz ia a duzentos metros, tínia como araponga. Sabia de memória os livros até o fim, para o princípio. Regia a classe sem acompanhar os textos. Sua regra era a sabadina de palavras, o aluno tinha que ler em voz alta o texto e no final fazer a interpretação da leitura. Na aula de aritmética fazia sabatina. Ninguém passou meses na escola dele sem "levar as sovas da palmatória". Quando ele passava na rua, quase não punha o chapéu na cabeça. Recebia cumprimentos de todos os lados. Os velhos discipulos iam beijar-lhe as mãos. Sua idade já avançava e seus alunos se multiplicavam, porque sua exigência no saber era o seu cartão de apresentação no meio pedagógico.
Professor Honorato, não admitia namoro em idade educacional muito menos no seu colégio em que poucas alunas ingressavam. Vivia sempre a cobrar dos alunos comportamentos morais e de amor a Pátria. As brincadeiras maldosas que os alunos faziam com o seu nome, criou fama. Seus alunos diziam: "Professor Honorato,
mija na cuia e caga no prato"
Era um refrão, os alunos zombavam em cantigas outras apimentadas, fora da escola. Contudo, ele sabia e ficava colérico ao ouvir. Na zona de Itapagipe, ele era uma figura ímpar. Ficou viúvo cedo aos 23 anos, sem filhos, morreu sozinho no seu colégio aos 93 anos. Itapagipe ficou de luto.
Uma personalidade que marcou época no ensino baiano até a metade do século XIX. O que lembra hoje a fragilidade do ensino no nosso século XXI. Com os professores sem motivações para o exercício da sua profissão nobre.

Álvaro B. Marques

Um comentário:

  1. Castigo físico nunca foi pedagógico. Uma coisa é aprender por motivação, outra coisa é aprender por medo de castigo.

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