segunda-feira, 24 de maio de 2010

O CRIME QUE ABALOU A SOCIEDADE BAIANA NO ANO DE 1841


Pedro Calmon escreveu o livro: “ A bala de ouro” crime romântico, em 1947 exatamente ao completar 100 anos. Crime ocorrido em Salvador no ano de 1847. Século XIX – Período Regencial.

A bela Júlia Fetal era filha de um comerciante português, estabelecido na rua da Alfândega. João Batista Fetal e de uma senhora francesa Júlia Fetal. Metódica, ambiciosa e enérgica. Viúva ao perder o marido, ficou com cinco filhos. Moravam no sobrado enfrente ao largo da Piedade. Júlia Fetal, de 20 anos (03.02.1827) foi rigidamente educada na maneira da época, sabia todas as prendas domésticas, tocava divinamente o piano. Nos saraus, ela era muito admirada e cortejada.

Foi o dr. Lisboa, seu professor de inglês, em aulas espaçadas, tempos depois, fez-se noivo no final de 1846.

João Estansislau da Silva Lisboa tinha 28 anos ( 24.06.1819 ) nasceu em Calcutá na Ásia, filho de mãe inglesa e pai português de alta finança do Império Português. Vivia aqui no Brasil, a trafegar escravos e a comerciar açúcar para Portugal. Estava sempre em constante viagem para Lisboa e outras concessões do Império.

Em uma desta ida faleceu e deixou viúva com muitas dívidas. Na época moravam enfrente ao Teatro São João, no sobrado, em que tempos depois seria a sede do Diário da Bahia. Para seu sustento teve que vender o sobrado e lecionar inglês a particulares.

João Estansislau da Silva Lisboa era filho único. Criado na rígida educação inglesa. Professor de História, Geografia e Grego, lecionava no Liceu. Matou inexplicavelmente com um tiro de pistola a mulher com quem queria casar, Júlia Fetal.

Na confissão disse: “ao entrar na sala, viu Júlia ao piano, sacou a pistola e deu um tiro, direto no coração”. Nada mais acrescentou, ficou em silêncio profundo.

Condenado a 14 anos de prisão com trabalho foi recolhido à cadeia pública, no Forte do Barbalho, achara lugar, depois de removido dos baixos da Câmara da Praça, ( hoje sede da Prefeitura Municipal de Salvador ). Perdido a cátedra do Liceu a partir da sentença condenatória, continuou a dar aulas na cela, a filhos ilustres de comerciantes e pessoas influentes da cidade e até mesmo do recôncavo.

Isto porque as opiniões públicas dividiram-se; uns achavam que foi o ciúme de Lisboa com um quitanista de Direito do Recife, mas Júlia tinha juras de amor por Lisboa.

Outros atribuíram a preferência pela mãe á outro pretendente da corte.

O verdadeiro motivo do crime jamais foi esclarecido, ele confirmou a autoria do crime, mas não revelou o motivo. Condenado em júri popular. “A bala de ouro”- a bala feita com o ouro da aliança de noivado fundida em projétil nasceu e ganhou consistência de verdade pelo povo. A partir do dia 20 de abril de 1847, quando houve o trágico crime.

Da cadeia, o professor ilustre, dirigiu a partir de 1858, toda a pedagogia do Colégio São João, do educador Francisco Pereira de Almeida Sebrão, fundador daquele estabelecimento de ensino. Localizado na estrada da Vitória, até 1861, quando assumiu pessoalmente as suas funções.

Não lhe tiraram a vida, contentaram-se em suprir a mocidade. Foi livre aos 42 anos, era um homem devastado fisicamente envelhecido, criou barba até a cintura, cabelos completamente alvos, grandes, em desalinho. Uma figura totalmente diferente do que era antes.

Marcou com a sua competência e a sua tragédia a vida do colégio e da educação da Bahia.

Duas viagens à Europa, a publicação de um Atlas Elementar de Geografia, obra impressa na Bélgica. E, finalmente, uma ida a Lisboa da ancestralidade paterna, onde morreria a 9 de fevereiro de 1878. Morreria na casa de saúde em Lisboa, com Lesão do coração. Matou finalmente esse pobre coração que a fizera matar.

Ela é nome de uma pequena viela no bairro de Nazaré, seu túmulo está perto do altar-mor da Igreja da Graça, onde tem uma lápída com um poema de Adélia Fonseca.

No Instituto Feminino, colégio de Henriqueta Catarino, se encontra uma tapeçaria feita por ela e um quadro feito com fios de seus cabelos. Como também à amostra do projétil, que a matou.

Quando D. Pedro II esteve aqui em 1852, foi fazer uma visita ao preso dr.Lisboa, e se ofereceu para indultar a pena. Ele não aceitou, disse que “cumpriria até o fim”.

Resumo do livro: “A bala de ouro” autor: Pedro Calmon Muniz de Bittencout – nasceu em 22.l2.1902 e faleceu em 17.06.1985 – no Rio de Janeiro. 1ª edição – Publicado por José Olímpio – RJ em 1947.

MEUS COMENTÁRIOS:

O amor é capaz de grandes virtudes como também de grandes tragédias. O crime cometido naquela época levou muitos anos para ser esquecido pela população. As versões foram tantas que criaram uma “bala de ouro” na realidade o projétil foi comum. Mas a fantasia do povo cria asas e vira lenda. Neste caso foi verídico o acontecimento, vale a pena ler o livro. O autor descreve com mestria o romance tão comentado.

Há sociedade da época não estava acostumada com este tipo de crime, e o silêncio do autor criou várias versões especulativas. Por isso teve julgamento, beneficiado pelo tempo de cárcere. Ele quis si punir pelo crime por isso não revelou o motivo, preferindo o silêncio.

A mente humana reserva mistérios que a própria razão desconhece. Ainda temos que pesquisar muito sobre á mente humana.

“Em todos os tempos, houve e haverá sempre homens capazes de infinitos gestos de amor, como também capazes de grandes loucuras individuais e coletivas”(Bahú Velho – autor: Viriato Correia).

Álvaro B. Marques – SSA, 03.02.2008

35 comentários:

  1. Essa tragédia está servindo como pano de fundo na crônica do atual panorama político na corrida presidencial, evidenciando o que a candidata a vice-presidente, Marina disse em Salvador, que o PT tem uma bala de prata :"LULA" , no romance de Pedro Calmon a bala que matou a jovem Júlia Fetal era de ouro.

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    1. Desde 1847, que existe os crimes de feminicídio na Bahia né, como esse aí um crime Bárbaro o que aconteceu aqui na Bahia em Salvador e que agora tá sendo contado na novela das 6 horas muito interessante por saber dessa história e da maneira que ela está sendo contada bala de ouro né

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  2. Desde sempre os relacionamentos abusivos e a conivência da sociedade com os crimes brutais cometidos contra as mulheres.

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  3. Impressionante, trágica, instigante,e ao mesmo tempo cativante a estória de Julia Fedal.

    Quero mt ler o livro de Pedro Calmon.


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  4. Estou perplexa, interessantíssimo esse fato.

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  5. Muitoooo interessante!#espelhodavida

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  6. “Estrada da vitória” e Vitória Strada, coincidência?

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  7. Exato! Romantização do feminicídio! E Dom Pedro era bem filho da puta, né de querer tirar o ASSASSINO da cadeia! Duvido que ele faria isso se fosse a filha dele.

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  8. Claro que não! Se hoje ainda vivemos o machismo, imaginem em 1847.

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  9. Quem veio aqui por causa da novela Espelho da vida, diz um oi!!!!!

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  10. Conheço essa história há bastante tempo. Já fiz um breve estudo sobre o livro de Pedro Calmon - A bala de ouro. A romanização do feminicídio é o mote da novela de Elizabeth Jihn. Muito oportuno a exploração da temática numa novela da Globo, assunto tão em evidência nos dias atuais. Não ao feminicídio!!!! Punição já.

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  11. Só tá faltando a Globo fazer uma novela retratando também a tragédia de "domingo no parque" de Gil,que é uma história verídica.A Bahia está em alta,pelo menos na Globo,Segundo Sol,Espelho da Vida,etc...

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  12. Estou achando muito interessante essa novela espelho da vida, e de todas as novelas das 6 passada na tv globo , essa e a melhor. Eu que não asitia novela das 6 , #espelhodavida# não peco adoro.□■□

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  13. Também achei!
    E Dom Pedro II querendo amenizar sua pena! Que merda!

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  14. Alguém já viu uma foto de Júlia Fetal?

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  15. Amo essa novela, adoro o tema reencarnação!

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  16. Muito triste mas e linda a história e a nov
    ela

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  17. Ameiii a história que a novela contou

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