A palavra Filantropia ou como era escrito no português antigo: PHILANTROPIA – foi criada por Xenofonte “para exprimir um sentimento natural do espírito humano”.
Com essa designação, ele incentivou um afeto de que na Grécia foi Sócrates o primeiro a falar. Este afeto é o que naturalmente liga o homem, cujo espírito chegou a certo grau de desenvolvimento moral, aos seus semelhantes, pela única razão de serem também homens.
Sócrates ensinava que era preciso não fazer mal a ninguém e nutrir a disposição de fazer o bem a todos: Está foi a razão que seu discípulo Xenofonte, passou para a história a palavra Filantropia.
Platão igualmente reconheceu a existência desse amor do homem pelo homem,o qual era em sua opinião, uma conseqüência do amor á justiça e ao bem geral.
Estes dois grandes homens, construíram na Grécia a moral universal, no V século antes de Cristo.Inútil é dizer que esse sentimento natural já existia nos relacionamentos do povo grego.É esta a história de todas as ciências humana.
Cumpre, lembrar que o homem nas épocas primitivas de sua civilização, não foi capaz nem do amor de seus semelhantes em geral, nem mesmo do amor da pátria.Sendo certo que o circulo de seus afetos não se estendia além de sua própria individualidade e de um numero muito limitado de pessoas.
Á medida que a civilização foi progredindo os domínios do egoísmo se foram restringindo e a tendência altruísta, os sentimentos de benevolência e simpatia fizeram sua evolução e o homem foi sucessivamente prendendo-se pelo afeto á família, á tribo, á pátria e por fim á humanidade.
Chegou ao ponto de ser benévolo e indulgente para qualquer outra pessoa, in- distintamente, e de interessar-se por tudo quanto toca á humanidade.
Tal foi a notável descoberta do imortal filósofo grego, certamente um dos primeiros que se elevaram a esta grande altura da mortalidade.
Desaparecem as nações, as raças e as civilizações, mas a humanidade nunca perde as noções e os conhecimentos da verdade, uma vez adquiridos.
Foi por isso que o fato assinalado por Sócrates e a palavra com que Xenofonte o designou, não morreram, nem morrerão. De Sócrates até hoje este sentimento, o mais nobre e aperfeiçoado pela cultura e pela herança, cujo desenvolvimento o uso na educação e na aplicação tem produzido transformações e efeitos que se podem claramente perceber nas sociedades mais modernas.
Depois da escola socrática, a stoica deu grande ampliação á doutrina do afeto ou benevolência universal, que outra coisa não é a Filantropia.
Os romanos filiados a essa escola ainda mais desenvolveram a doutrina. Cícero admitia “ que a benevolência é o complemento da justiça e o laço que prende todos os membros da sociedade por esse nobre e universal amor”, ele chamou: “ caritas generis humani”
O cristianismo propagado por São Paulo, já possuía idéia semelhante, oriundo de outras fontes, vindo de Moisés, e principalmente de Jesus, era o “ amor do próximo”, para designar o qual, adotou o apóstolo das gentes a palavra – CARITAS – de Cícero, cuja significação passou a ser diferente da qual lhe dera este filósofo.
Vejamos em que consiste tal diferença:
A doutrina da filantropia consiste no amor do homem pelo simples fato de ser também homem. Não tem nenhuma significação mística, nem implica em idéias sobrenaturais ou do transcendente. Exprime um fato tão natural como outro qualquer. A caridade consiste no amor do homem pelo amor de Deus.
O cristianismo manda amar ao próximo tanto quanto a si mesmo: não pelo fato de nosso semelhante ser um homem como nós, mas pela circunstância de ser uma criatura divina, de ser um filho de Deus.
A filantropia caminha em linha reta de um homem a outro.A caridade se pode representar por duas linhas, uma ascendente e outra descendente, formando um ângulo no céu: o homem ama a Deus, e seu amor desce de divindade a suas criaturas.
Ainda mais, a caridade espera uma recompensa no céu: “ até um copo d’agua fria dado por amor de mim terá seu galardão”, disse Jesus(S.Matheus.cap.10,v. 42).
A filantropia é inteiramente desinteressada, não espera recompensa nenhuma, e se contenta com a certeza do efeito fatal da boa ação, parta de onde partir, com o incremento dado ao bem estar e ao aperfeiçoamento da humanidade, e com o melhoramento do meio social em que todos vivemos.
Nós não queremos discutir qual das duas doutrinas é preferível, nem qual está mais de acordo com a ciência profana que, aliás, merece toda a confiança. Isto seria sair fora do plano que adotamos. Nós só queremos é provar que a palavra filantropia é um termo científico e que exprime um fato positivo na consciência humana.
A doutrina do afeto natural do ser humano conquistou numerosos discípulos no decorrer do tempo. Sob o nome filantropia ou outro qualquer, tem este sentimento produzido um bem enorme para a humanidade. Acompanha sempre entrelaçados com á Caridade (texto extraído do livro: “A Escravidão, o Clero e o Abolicionismo” – autor: Luis Anselmo da Fonseca – publ. em l887 na Bahia – págs.463 e 470).
É bom lembrar:
Existiu em Salvador á Associação das Senhoras de Caridade, fundada no ano de 1854 sobre a Direção de várias senhoras da sociedade baiana, sendo uma das fundadora a Condessa de Barral, uma das mais atuantes. O orfanato, colégio e externato foram constituidos em 1855. A iniciativa partiu do Arcebispo D. Romualdo, futuro Marquês de Santa Cruz. Construiu-se assim a Irmandade das Senhoras de Caridade, o Asilo de Mendicância legado do senhor Meuron, que em vida era o fabricante do famoso “rapé”, produto tão usado naquela época.
Vejamos com as palavras da Condessa, enviadas por carta ao senhor conselheiro João Mauricio Wanderley, futuro barão de Cotegipe; “ Nossa Casa de Providência sita á rua Baixa dos Sapateiros, abriu-se hoje para receber numa sala de trabalhos, meninas pobres, forras e cativas, é um dispensário que recebe também todos os dias das 7 às 9 horas da manhã todos os pobres que se querem apresentar para serem
Curados e tratados condignamente. São gratuitos à custa da Irmandade. Depois que apareceu o flagelo da cólera-morbo, lembraram-se as senhoras de promover uma subscrição para recolher à Casa da Providência algumas desvalidas meninas órfãs e tenho a satisfação de dizer a V.Exa. que no dia 14 deste mês agasalhamos 2 órfãs da Bahia, 2 de Stº Amaro e 2 de Cachoeira encarregando-nos de lhes dar absolutamente tudo”.(Salões e Damas do Segundo Reinado – Wanderley Pinho.)
"Casa Pia dos Meninos Órfãos de S. Joaquim. Fundado em 1º de novembro de 1799 por benefício de Joaquim Francisco do Livramento. Ensina-se aos educandos Primeiras Letras, Gramática Latina e Música.
Colégio dos Órfãos do Santíssimo Coração de Jesus - FUNDOU EM 1827 pelo padre Francisco Gomes de Sousa, na rua S. José de Ribamar freguesia de Santo Antonio Além do Carmo".
"Casa Pia dos Meninos Órfãos de S. Joaquim. Fundado em 1º de novembro de 1799 por benefício de Joaquim Francisco do Livramento. Ensina-se aos educandos Primeiras Letras, Gramática Latina e Música.
Colégio dos Órfãos do Santíssimo Coração de Jesus - FUNDOU EM 1827 pelo padre Francisco Gomes de Sousa, na rua S. José de Ribamar freguesia de Santo Antonio Além do Carmo".
Meus Comentários:
A Filantropia hoje, não é mais igual como era aplicada nos tempos antigos. O homem mudou a sua filosofia de vida, seus costumes, suas crenças mudaram o seu modo de viver são outros. O homem seguiu a evolução do tempo, mas deixou para trás certos valores que não se pode esquecer chamado de Caridade.
A filantropia é um gesto de bondade para si ter consciência que sentimos amor e piedade alheia. Sem esnobismo, sem vaidade. Uma mão que se estende á outra é um gesto de amigo de solidariedade. Hoje, revestiu-se como proteção a sonegadores do Fisco. Termos desiguais da palavra Filantropia.
Álvaro B. Marques.
SSA, junho de 2006
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