sábado, 22 de maio de 2010

CONTOS DE EXÉQUIAS - Cerimônia Mortuária Africanas nos séculos 16 a 19 na Bahia


-->
“O cadáver é lavado, como no “Camerum”, antes de ser sepultado e as vezes faz-se-lhe a barba. Antes do sepultamento, é velado por seus amigos e parentes; é a cerimônia do velório e os que velam são designados pelo nome de “carpideira”.
Bebe-se, come-se, entoa-se cantigas fúnebres e se os parentes do defunto não podem arcar com as despesas do velório, cotizam-se a maneira da África; depois o cadáver é levado ao cemitério, enquanto o cortejo dança em redor, constituem aqui ritos fúnebres especiais,”
“No século XVII.Em 1618, quando da Inquisição na Bahia, por segunda vez.Sebastião Barreto denuncia junto aos padres, os costumes que têm os negros de matar animais em seus enterros para lavar o corpo do morto em sangue, dizendo que nesse caso a alma deixa o corpo para subir ao céu”.( Luis Vianna Filho – “O Negro na Bahia”)
“Os moçambicanos, tinham o hábito de enterrar as negras acompanhadas somente por mulheres, com exceção de dois carregadores, um mestre de cerimônia e um de tambor. Durante todo o cortejo as carpideiras lançam gemidos e gritos. Chegadas à Igreja dos negros, o cadáver é transportado numa rede acompanhado de 8 parentes ou amigos íntimos, devendo cada um passar sua mão sobre o corpo”.( Debret, “Viagem no Brasil”)
“ Um negro trazendo sobre a cabeça uma tábua, na qual estava colocado o cadáver de um negrinho,coberto por um pano branco, ornado de flores, tendo à mão um ramo. Atrás seguia a multidão entre a qual umas vinte negras e numerosas crianças, quase todas enfeitadas de fitinhas vermelhas, brancas e amarelas, iam entoando cantigas da sua língua,da qual narravam o ritmo com um passo lento e cadenciado o que levava o corpo parava freqüentemente e voltava-se sobre seus passos como se dançasse”.
( D.P.Kidder, “Reminiscência”)
Ritual da morte de um muçulmano – Malê
“ Lava-lhe o corpo primeiro, depois vestia-se-lhe com uma “camisu” branca ou chamada de “abadá”, punha-se-lhe na cabeça um gorro do qual prendia um cordão branco, o filá, que era o gorro cerimonial. Se fosse homem vestia-se 5 roupas de seu uso e se fosse mulher 7. Quebrava o corpo, desconjuntando os ossos do morto, antes de colocá-lo no ataúde. Ou simplesmente eles o deitavam de lado e não de frente, com o rosto virado na posição do nascer do sol. Enterravam-se no cemitério ao lado da igreja.
Todo esse processo era acompanhado de cantigas lúgubres e de instrumentos rudes até o enterramento. Primeiro as orações, segundo o sacrifício e terceiro o banquete e as danças. Geralmente esses processos eram ritualizados em local afastado da comunidade,de preferência sitio ou fazenda. Assim chamado de “festa dos mortos” – leva três dias.” ( Luis Vianna Filho – “O Negro na Bahia”)
“Por muito tempo acreditou-se que os Malês, por hábito quebravam-se os ossos ou desconjuntava-se os mortos, no ato de colocá-lo no caixão. Não é isso exato, apenas os deitavam de lado e não de frente, como é costume”.( Manoel Querino – A raça africana na Bahia”.)
É BOM SABER.
O poder avassalador da Igreja e o catolicismo na Bahia eram tão enraizados no povo Português e seus descendentes, considerado uma cidade referencial mais católica das possessões do além mar de Portugal.
Por assim ser, nenhuma religião vindo de outros paises floresceram. Viviam em forma embrionária ou secretamente ativa, como foi o caso dos judeus e maçônicos em todas as possessões portuguesas em especial na Bahia.
Os cultos negros só eram realizados com a permissão dos donos dos escravos nas fazendas. Nas cidades, eram totalmente proibidos. Os negros, adeptos mais fervorosos em suas crenças não aceitavam essa forma de submissão e faziam seus cultos escondidos nos locais afastados. Era ali o único momento que eles tinham contato com as suas raízes e pediam proteção aos seus orixás. Cantavam em altas vozes sem temer o futuro. Assim caminharam em séculos, mesmo após a Lei Áurea. Os deuses de Ilú-ayê da África se encontram na mata da floresta brasileira.
Álvaro B. Marques
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário