segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A RUA DA MANGUEIRA E SEUS MORADORES NO PASSADO

Já foi chamada de Rocha Galvão e hoje voltou o nome antigo Rua da Mangueira, transversal a av. Joana Angélica, perto da Rua da Mouraria e defronte ao Quartel da 6ª Região Militar do Exército. Local muito tranqüilo na minha época no período de 1950 a 1970 quando ali cresceram vários das personagens que vão compor este artigo. Morei em casa, nesta rua, nasci e cresci junto com mais quatro irmãos, Alvair (Memeu) Altair (Tatá), Aldair (Dadá), Antonino (Tadeu) e Àlvaro (Bentinho) eu. Casa grande, como a maioria das casas antigas de Salvador. Casa com cinco quartos, sobrado recuado, sala de visita, sala de jantar, copa-cozinha, quintal com árvores frutíferas, para ali brincar com os irmãos. Rua estreita, com casas nos dois lados e calçamento em pedras negras de tamanho irregular que formava em sua volta gramas para maior trabalho dos garis da prefeitura fazerem a retirada periodicamente. Nesses dias os meninos não jogavam bola na rua e ficavam apreciando os trabalhos de limpeza que era um divertimento a mais. Não era rua movimentada, pacata, pouquíssimos carros trafegavam. Anos depois, tornou-se um inferno. Na saída de Antonio Carlos Magalhães que também era um dos moradores resolveram fazer dessa rua passarela de estudantes de vários graus de ensino. Antes havia a Escola Joanna Angélica e o Ginásio Nossa Senhora do Carmo que se estendeu para Faculdade de Educação de Olga Pereira Mettig, grande nome da educação baiana. Já na década de 70 foi transformado o casarão nº 19 em Delegacia de Furtos de Veículos. O comércio avançou e tirou toda a tranqüilidade, desapareceram as antigas famílias. Restaram somente as lembranças como essas: Em cima dessas pedras irregulares, os meninos jogavam o baba com bola de meia a principio, depois com bola de borracha e mais tarde com bola de couro, empréstimo do nosso amigo e vizinho Paulo Maracajá Pereira (o filho do padre), ele era o único da minha turma que tinha está bola. Havia duas turmas de garotos, uma chamada dos grandes, e dos médios. A turma dos grandes eram composta de rapazes que tinham idades entre 16 a 18 anos, quase todos estudantes, chamados no apelido; Litinho (Budião), Pirão, Balaio, Zé Oswaldo, Celso Figuerôa e irmão, Oscarito, Bito, Bastinho, Memeu, Zé Preá, Vavá, Miro, Dilson, os irmãos Arqueláus, Macarrão, Sílvio, Celso Santiago (o gordo), Norte, Waltinho, Carlos(cachaça)Dondôla e outros que não tenho lembranças. Porém, nem todos moravam na mesma rua, alguns em ruas circunvizinhas, por exemplo: Mouraria, Cantanheda, Palma, Bângala, Independência, Tororó, Campo da Pólvora, e etc. A turma dos médios foi: Nonô (Rockfeller), Dodô, Edinho, Ítalo, Fernando (tocava violão), Chico Amaral, Raimundo Amaral, Manoel Amaral, Doto e seu irmão, Badaró e seu irmão, Zé Carlos e seus Irmãos Jambeiro, Perereco, Raimundo Piloto, Badiega, Beni Paulo Maracajá, Pretinho, Pascoal e seus irmãos (Lula e Gordo) Aécio Pomponet e seus irmãos, Pereira, Maurício e Bené, Cristovam, Tadeu, Bentinho, Antonio José (Zé chiapeta, irmão de Ítalo e Perereco), Silvio o grande, Osvaldinho, Rutival e outros que a memória não lembrar. Esses com faixa de idade variável. As turmas se reunião quase sempre na escadaria da Escola Joanna Angélica para conversação e jogar o baba no campo dessa Escola. Ficava defronte ao Ginásio Nª.Sª do Carmo. Havia o revezamento das turmas para jogar a “pelada”. Lembro-me muito bem do jogo “os nus contra os cuecas” esse foi o nome oficial dos times, imaginem o que ocorreu. Neste local era a nossa segunda morada, nosso ponto de encontro diurno e noturno nas escadarias da escola. Local que anos depois, fechou a Escola e abriu-se como aluguel de cômodos. Acabou o nosso ponto. Mas em qualquer local da Rua da Mangueira fazíamos reuniões. Tínhamos muitas brincadeiras de mau gosto e cantigas provocantes e maliciosas, como esses versos: “Olé, olé bambú Fio de negô é urubú A mangueira escureceu O pretinho apareceu Trocando com Diouro Rockfeller se meteu.” O inventor do verso malicioso chamava-se em apelido “incarcado”, cujo nome verdadeiro é Mauricio Cardoso. O verso referenciava a seus companheiros e os quais ao saberem não gostavam do infame trocadilho. Veja outro versinho bem chocante: “Negô fio de um porco Cabeça de vaga-lume Quando vê o pau do jegue Pensa que é lança perfume.” Caía em cima do único pretinho da turma, chamado em apelido de “pretinho”. Seu verdadeiro nome até hoje ignoro. Mas para a turma o nome não era necessário bastava o apelido. Só poucos eram chamados com seus nomes verdadeiros. Tínhamos um livro de bordas de “ouro” para angariar dinheiro, por meio de assinatura de pessoas no livro e após, recebíamos dízimas que seria revestido para a compra de uniformes de futebol. Para termos êxito teríamos que bater em porta em porta e recitar um texto da fundação do “time”, era mais ou menos assim: “Já nos tempos antigos os povos civilizados, romanos e gregos, reuniam-se em concentração esportiva para fundar um clube...” e levava alguns minutos para o orador (geralmente, escolhido) encerrar a ladainha e, após a recitação era entregue ao dono da casa ou a quem nos atendeu o livro de “ouro”, para ser assinado e logo a seguir receber a moeda ou papel moeda. E assim percorríamos um quarteirão. No final, o dinheiro arrecadado era gasto na sorveteria Manon do Campo Grande ou na Cubana no Elevador Lacerda, ali havia uns deliciosos bolinhos de arroz e um famoso Milkshak de sabores diversos o mais disputado. Na praça em frente ao Quartel da Mouraria, havia um extensivo largo com declive. Era o local da garotada para “saltar” ou “empinar” arraia (pipa) e quase sempre ao saltar a linha, com arraia no ar, cantávamos está ladainha: “Afrouxa quem tem coragem, deixa de galinhagem”. Este verso, curto e provocativo dava raiva no outro jogador de arraia, pois ele não queria ir muito longe com a sua linha e tinha medo de ser partido por outra arraia de linha temperada ou com gilete na rabada. Esse era o motivo da canção e geralmente tinha brigas. Neste mesmo local, fazíamos de tudo. Jogávamos baba, passeávamos de patinete feito de madeira e rolimã, pedalávamos de bicicleta, e o que mais gostávamos era de ver os desfiles militar em dias comemorativos. Depositavam coroas de flores e havia tiros de canhão em homenagem ao Patrono do Exército Duque de Caxias. Isso era o máximo para a garotada. Nossos cinemas prediletos eram os Cinemas: Pax, Santo Antonio (passava dois filme e uma série), Aliança e Jandaia. Havia outros, Cine Guarani, Excelsior, Liceu e anos depois surgiram mais. Lembrando bem, a maioria pertencia ao grupo de Pithon. Quando íamos ao cinema, era acompanhado de quatro ou seis meninos. Lembro-me que certa vez fomos ao cine Pax ver um filme histórico. Enfrentamos uma longa fila, dentro do cinema não havia lugar vazio, ficamos em pé, então falamos com Rockfellker, o Nonô, para ele fazer uma brincadeira para arranjar lugar para sentar. Ele prontamente ficou sentado no chão (escada), e encostou-se no primeiro da fila e tirou os sapatos dos pés com as meias; neste momento exalou um terrível cheiro de chulé, o primeiro da fila que estava sentado, levantou-se apressadamente, ele o Nonô, sentou-se neste lugar e continuou a mover os dedos dos pés, para que o segundo ou outro qualquer da fila saísse, e assim, sucessivamente ele fez, até que os cinco companheiros sentaram ao seu lado. Com muito riso e lenço no nariz. Em todas as turmas tem aquele que se destaca dos demais e na turma dos médios tinha o Rockfeller, Nonô, Papinha, Santana, veja quantos apelidos. Na realidade ele chamava-se Eurídes Santana Magalhães Filho um exímio tocador de gaita e bom de bola. Como também, havia o Perereco de menor em tamanho mas um grande provocador de confusões, conhecido como porradeiro do distrito, tanto brigava como apanhava. A bebida levou-o cedo junto com o irmão Ítalo este boa personalidade e grande amigo. Na Tuma dos grandes tinham vários bons de bola, destacava-se o Balaio mais não era bom de votos. Isso por motivo de ter sido candidato a Vereador. Os rapazes da turma dos grandes assim denominados, sempre contavam suas proezas aos meninos menores. Falavam do bilhar de Abel e do seu charuto inseparável das grandes jogadas de bilhar e dos “espetos” que faziam em não pagar o jogo, lá vai correria. Depois voltavam ao local e pagavam o atrasado. Comentavam sobre o Tabaris, do Café das Meninas, do Anjo Azul, da casa de prostituição nº 63 da Ladeira da Montanha e outras casas desse gênero. Os meninos menores, não podiam freqüentar esses lugares e tinham muita curiosidade e inveja. Nem sempre as recordações da infância ou da adolescência trazem boas lembranças. As más tentamos esquecer. O tempo passa muito veloz, deixa em nós cicatriz, só para dizer que ali passou, passou nossos melhores dias da mocidade. RUA DA MANGUEIRA – 2ª PARTE Nesta rua teve moradores ilustres, como por exemplo: Casa nº 2 morou o ex-prefeito de Salvador Dr. Pimenta da Cunha, logo no início da rua. A casa despontava-se das demais, pois tinha belo jardim com estilo campestre e um chafariz, varanda nos lados da casa. Anos depois, transformou-se em pensionato, dirigido por uma família de italianos. Na casa nº 1, havia a sorveteria Primavera dos proprietários suíços e a casa nº 3 era da família do Nonô o Rockfeller, nome pomposo de um ricaço americano da época o que nada tinha do Eurídes. Mas havia o carisma da pessoa. Ele tinha um irmão Vavá e uma irmã chamada de Heleninha, muito comentada por ser namoradeira e bonita, tinha um andar de gazela. Na casa do lado esquerda, vindo da Joanna Angélica, moravam os Vellosos, Edison e Carlos, este último não freqüentava a rua, mas o outro, Edison, sim, e muito participava das brincadeiras com muito voyeurismo rolava com a irmã de Osvaldinho no telhado da Escola Joanna Angélica dava pra vê o quarto da bela mulher tirando a roupa. No nº 9, prédio de três andares com mais o subsolo, moravam quatro famílias. Neste local, morou Tom na parte de baixo, com sua pinta de galã e o uso constante de cachimbo. Casado pai de dois filhos, foi estudante de Direito. Gabriel o árabe, no andar superior e o Mauricio Cardoso e seus familiares no segundo pavimento. Este o Mauricio, muito querido por todos e o seu irmão Bené também uma boa figura humana, ambos estudante de Direito seguindo a carreira do pai. A irmã Augusta veio a casar com o Pereira nosso companheiro. O pai do Mauricio veio transferido de Itabaianinha/SE com o seu charuto cubano e o chapéu de feltro. Tinha uma rica biblioteca no apartamento onde eu e Bené ficávamos a ler e conversar sobre os acontecimentos diários. Pessoa de minha elevada estima e consideração, uma mente brilhante. Já o Mauricio, um tremendo gozador, contador de anedotas e apreciador de jogos de baralho. Repentista em versos satíricos escolheu a profissão errada. Um amigo do riso e das prosas longas. Um Gregório de Matos da Rua da Mangueira. Mais abaixo, na casa nº 12 moravam os russos, judeus, Moisés, irmão e uma irmã chamada Rebeca. O Moisés tinha o apelido de Moisa, o irmão era comunista ferrenho. Ao lado, casa nº 13, morava os Jambeiros, José Carlos, Neneca, Jorge e César. Três filhos do Sr.Jambeiro e D. Helena, família distinta, inesquecível. Vou relatar um fato muito interessante: Quando o Sr. Jambeiro, chegava perto da sua casa, na esquina da rua da Mangueira,(parte da av. Joana Angélica) e via os meninos na rua, ele da esquina assoviava e os meninos(seus filhos) largavam tudo e iam correndo ao encontro do pai, abraçava e beijava um por um. Os garotos não retornavam mais e terminava a brincadeira, ficavam em casa. O amor e a obediência era o que mais tinha naquela família. A atitude do pai para com os filhos ficou registrada na minha memória. Mais abaixo, na casa nº 15, morou a família do “padre” ele largou a batina para casar com uma das irmãs de Olga Mettig. O casal teve dois filhos sendo o mais velho o Paulo Virgilio Maracajá Pereira, o grande torcedor do Bahia, o único que tinha uma bola de couro, na época nem todos tinham esse privilégio, nós (os outros meninos) tínhamos uma bola de borracha ou de meia, dava para jogar. Ficamos maravilhados com essa novidade e pedimos ao Paulo para emprestar a bola, e ele não só emprestava como participava do baba. Depois o Paulo mudou-se e a casa passou a ser da família Amaral. O velho Amaral tinha muitos filhos, todos trabalhavam na loja do pai comerciante de secos e molhados no largo do Mercado do Ouro, Cidade Baixa. Recordo-me que bem cedo, o carro Buick (naquela época os automóveis era americanos) saia da porta da sua casa, cheio de filhos para trabalhar. Também nesta família o respeito e o trabalho começaram cedo para todos. Figura inesquecível era o Chiquinho Amaral, sempre risonho e muito brincalhão, gostava de andar armado com um pequeno revólver na cintura. Nenhum de nós sabíamos o porquê da arma. Chiquinha tinha uma brincadeira de soltar “pum” na cara dos outros meninos e depois saia correndo. Ele e mais dois irmãos, Raimundo e Manoel pertenciam a turma dos médios os outros irmãos eram já adultos. Hoje a casa é a FACCEBA- Faculdade Católica de Ciência Econômica da Bahia Defronte da casa da família Amaral, casa nº10, outro casarão, com muita área verde. Não recordo o nome da família, cresceu aí a futura namorada do nosso companheiro Ítalo ( de saudosa memória) que mais tarde veio a casar com está garota,chamada Maria. Hoje, é a Escola Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas. No nº 17, existe a Igreja Presbiteriana da Bahia constituída a mais de 70 anos neste local. Cresceram muito o numero de fiéis e conseqüentemente nos dias de culto a Rua se enche de carros sendo mais um motivo de fuga das famílias. Na casa nº 16 morou a viúva D.Giomar Silveira, parente do Advogado Arnaldo da Silveira. Brilhante jurista. Entre a casa dos Jambeiros e da família Amaral, tinha uma pequena transversal onde residiam dois dos nossos amigos Waltinho e Cristovam pessoas que cultivei longas amizades e sinceros respeitos até hoje. Como também, neste local, morou o Sr. José do Próximo e sua filha Andreza, era amiga das minhas irmãs. Waltinho e Cristovam trabalhavam no Fórum Ruy Barbosa. Lembro-me do Sr. Amorim e D.Alzira sua esposa, mulher trabalhadora e muito digna. Foi com muita dedicação e grandes sacrifícios que a D. Alzira criou seus dois filhos Cristovam e Graziela(Grazú). Hoje ele é um respeitável advogado e pai de um casal de filhos. A Gazú formou-se em Museologia, aposentou-se. No nº 14 morava a família Maron, senhor cacauicultor do Sul do Estado que mais tarde cedeu a mão de sua filha Arlete em casamento para fazer par com o Dr. Antonio Carlos Peixoto de Magalhães candidato a Deputado e futuro Prefeito de Salvador que passou a morar nesta rua. Ao lado no nº 16 morava o Sr. Norte, português e seu filho Nortinho rapaz de pouca convivência entre nós. Na casa n° 18 morava as três irmãs da família Torres; Naninha, Adélia e Heleninha e mais outra parenta chamada Elza Torres que fora Diretora do Tesouro do Estado da Bahia, na Rua do Pão de Ló. Nós garotos chamava a “casa das quatro viúvas”. Na casa nº 19 residia a família do médico Dr. Braulinio dos Santos, muito querido em Vitória da Conquista. Antes, nesta casa morou a família Meirelles de ilustres membros. O Dr. Braulinio além de médico era pecuarista daquela região e tinha cinco filhos, dentre eles, dois homens nossos companheiros de jogos e brincadeiras. Paulo e Dôto (Heródoto) grandes amigos. Na casa nº 20, morava a família Marques minha família. Sendo três irmãos homens que faziam parte da turma e duas mulheres. Memeu, Tadeu, Bentinho e as irmãs Tatá e Dadá. Estudantes, caseiras. Citarei um caso que houve com os meninos da turma dos médios que cantavam uma cantiga ofensiva com meu irmão Tadeu, neste termo: “Tatá, Teté, Tadeu, Bentinho, Memeu. Tadeu bateu botão de Astor na lavanderia de Arquelau”. A ladainha acima eles cantavam todas as vezes que se encontrava com as minhas irmãs, mesmo elas estando na janela da nossa casa. Uma verdadeira chatice. Até que, meu pai, homem enérgico e de poucas falas, “chofer”(motorista de Táxi) naquela época. Resolveu dar um susto na rapaziada perturbadora, e aproveitando que todos estavam juntos, encostados no muro do Ginásio Nª Sª do Carmo. Meteu o carro em cima do passeio e chegando até perto deles que saíram em debandadas. E com alta voz meu pai disse: “ Deixam minha família em paz, porque na próxima vez, meto o carro em cima pra valer”. Daí em diante não mais fizeram arrelia. Em frente a minha casa, no nº 21, morava a professora Olga Pereira Mettig com suas duas filhas. Olga foi professora e inspetora de Colégios Públicos e mais tarde, dava aulas em particular para estudantes, na sala do casarão (extinto) no local em que hoje é a Faculdade Integrada Olga Mettig. Grande educadora e escritora de livros de didáticos. A Bahia deve uma homenagem a está senhora que viveu para o ensino. Pedagoga de méritos incontestáveis. No mesmo corredor, casa nº22, morava duas senhoras idosas, solteiras, que recebia visita de um parente prelado, Bispo. Na casa nº 23, morava o médico patologista Dr. Otávio Torres e sua esposa Drª Carmem Mesquita Torres. Ele um dos fundadores da Casa dos Leprosários da Bahia, em Águas Claras no subúrbio da cidade. Como fora também um pesquisador científico, com várias teses e livros editados. Na casa nº 26, morava a família do vereador Badaró de Ilhéus seus herdeiros eram Fernando o primogênito e Niltinho o sempre fanático torcedor do Flamengo e do Vitória. Quando ele jogava baba com a turma exigia que chamassem ele de Dida (o jogador do Flamengo) na época. Na casa nº 27, morou o Celso Santiago, “o gordo” ele dizia: “ Tenho 20 anos que jogo “purrinha” na esquina do pecado (rua do Maciel), conheço todas as manhas da mão fechada”. Ele se referia ao jogo do “pauzinho” muito comentado no meio da rapaziada. Saudoso amigo o Celso, grande boêmio, bom de bola quando era magro e de copo cheio nas conversas. Morava com a mãe e tinha um irmão médico. Na casa nº 28 morou os descendentes do jubilado gramático Ernesto Carneiro Ribeiro, grande educador e médico. Hoje, no local encontra-se estabelecido uma nova Escola Pública Estadual e defronte casa nº 30, morava o ilustre professor Álvaro Costa com suas duas filhas. O professor eu não conheci em vida mas era muito estimado no meio estudantil. Defronte da casa nº 28, na Travessa Almirante Leal Ferreira, residiram vários dos companheiros de turma: Irmãos; Perereco, Ítalo, Rosa Cecília e Antonio José (chiapeta), Raimundo (piloto), Edinho, Labadiega, Beni (sua voz e seu violão). Família Orrico; Pascoal, Gordo, Lula. Família Pomponet; Aécio e seus irmãos. Sendo quer o Aécio destacou-se dos demais por ter ideais políticos e ter cometido a façanha de ter queimado a bandeira dos EE.UU., em sinal de protesto na passeata estudantil no comércio, Cidade Baixa. Um ato corajoso que se tornou histórico. Meses depois, ele foi preso junto com centenas de estudantes no Araguaia. Na década de 70 quando o País vivia na Ditadura Militar. Ainda neste local, morava José (Preá), Silvio o grande. Bem perto estava a Escola Joanna Angélica o refúgio da turma, a catedral dos acontecimentos e local sagrada das reuniões e guarda dos troféus que a turma dos grandes trazia da rua. Nós só entrávamos nesta Escola quando não havia aulas. Mais adiante, já no largo do Quartel, ainda seguindo a Rua da Mangueira, moravam outros garotos que participavam das nossas brincadeiras e conviviam diariamente. Recordo da família Carvalho, sr. Carvalhinho e esposa, com seus filhos: Balaio, Dodô e Edinho, esses três eram peças fundamentais tanto na rua da Mangueira como também eles freqüentavam o Campo da Pólvora (reduto de vários acontecimentos). Neste correio de casas, morava o Manuel Lorenzo ou Manuel Toureiro para alguns e outros chamavam de Manuel Cabeleira. Na sequência da rua, morou Bebeto, cabo Caldas e mais outros que não tenho em memória. Nas ruas adjacentes ou em outros bairros, havia sempre torneios de futebol brigas com turmas, fatos comuns. Tempo bom foi aquele, saíamos em grupo ou solitário para festas e boêmias, regressando altas horas da noite, as ruas desertas, só quebrava o silêncio com o apito do guarda noturno. Não havia assaltos nem violência nem drogas, raros movimentos de veículos. A lua clara despontava em nosso caminho. Tínhamos mais prazer de viver e participar de tudo que a vida nos oferecia. A vida era mais respeitada. Hoje, temos nossos limites por causas e efeitos que o progresso e a sociedade oferecem. Os nomes de Ruas geralmente são toponímicos e aqui em Salvador não foge a regra dos demais Estados. No caso da Rua da Mangueira referi-se a uma árvore frutífera que brotava deliciosas mangas logo na entrada da Rua. Nesta época não havia calçamento e a rua era de barro batido. O povo foi fazendo a sua história. Álvaro B. Marques.