terça-feira, 16 de agosto de 2011

O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA ESCRAVA AFRICANA NA BAHIA.


Vou te passar o que é do meu conhecimento adquirido em leituras históricas de autores baianos.
No período Colonial até o Republicano, as escravas trabalhavam nos engenhos, nas lavouras de cana de açúcar, fumo, algodão e no comércio ambulante. Para tanto serviços eram escolhidas em várias funções e finalidades, principalmente nos serviços domésticos. A escrava teria que ser obediente, asseada, honesta, simpática e com algum saber na culinária, lavagem de roupas, paciente com as crianças, ser parteira. Eram esses requisitos básicos regidos pelas sinhás ou sinhazinhas do seu gosto, assim chamada de mucambas. No fim do período republicano já havia várias indústrias de tecelagem que preencheram a mão de obra de ex-escravos, principalmente mulheres.
Geralmente as escravas de confianças tinham a total veneração pelas senhoras e tudo que lhes pediam eram feito com muita dedicação. Na morte da sinhá ou sinhazinha a escrava entrava no seu testamento, indicada em legado de mil réis ou transferida para outra pessoa da família ou simplesmente a escrava era alforriada no testamento.
Na condição de liberta, ela seria vendeira ou fazia serviços esporádicos nas casas dos senhores, como por exemplo: aluguel de ama de leite, lavadeira de ganho, costureira, bordadeira, parteira e outros serviços. Para sustentar a família que era numerosa e quando não tinha filhos havia os parentes que acolhiam no seu lar e mantinha com donativos o “terreiro”.
Nas festas dos padroeiros das Igrejas, a escrava da senhora rica, cobria seu braço de jóias, colares e argolas de pedras preciosas e ouro emprestado pela senhora para demonstrar seu poder de “senhora de escravos” em companhia da escrava. Era notada essa atitude nos engenhos e principalmente nas cidades do recôncavo baiano. Quando retornava do passeio ou ida a Igreja, dentro do lar as escravas devolviam as jóias na presença da senhora. Caso faltasse uma jóia a escrava recebia de castigo açoites e não mais seria companheira. As escravas católicas, livres ou alforriadas, geralmente pertenciam as várias Irmandades de Santos Negros da sua devoção e principalmente de Irmandade de Nª.Sª da Boa Morte.
A vida da escrava só melhorou, quando ela foi alforriada, livre do trabalho escravo e tinha o seu “ganha pão” e não dependia do homem, parceiro de sua intimidade. A maioria das escravas e forras não tinham união estável, somente aquelas que tinham princípios na religião católica vindo dos conventos e outras que trabalhavam para os sacerdócios. Uniam-se conforme a doutrina da Igreja com escravos ou forros da sua etnia, também convertido no catolicismo. As mulheres escravas tinham mais liberdade do que os homens e por isso, havia mais facilidade de organizar o seu culto de origem. Daí porque no Candomblé existe mais mulher yalorixá do que homem. Tornando-se líder com mais poder quando recebia de doação dos senhores ou senhoras roça ou pedaço de terra para fazer o terreiro suas festas de santo. Foi assim que nasceram os primeiros “terreiros” na Bahia e cresceu a fama das yalorixás nos Candomblés.
Mas, todas eram discriminadas em suas épocas e levavam uma vida pautada em princípios rígidos da sua religião. Eram descendentes de angolanos, jejês e ketu as quais implantaram os sabores culinários que as mucambas tão bem souberam fazer.
As perseguições e o preconceito só terminaram em 1976 quando o governador da Bahia Roberto Santos sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e o pagamento de taxas de inscrição à Delegacia de Jogos e Costumes. Nesta época estavam registrados mais de 300 terreiros espalhados na Capital e Recôncavo baiano. Porém, muitos com a proibição fecharam e outros reabriram e poucos restaram até hoje na linha de Angola, Jêje e Ketu.
As mulheres escravas e descendentes contribuíram e muito para a formação do folclore baiano que exportaram o sabor culinário para todas as regiões brasileiras e as vestimentas típicas para o exterior. Como também, na formação economica do comércio informal da sociedade brasileira na época eram consideradas vendeiras e ganhadores os homens.
Trabalho de pesquisa de Álvaro B. Marques.
SSA, 09.08.2011